X

Olhar Filosófico

Deus me livre do classemedismo

Para qualquer democracia que se preze, é fundamental erradicar o pensamento classe média (ou “classemedismo”) que persiste em sabotá-la.

O “classemedista” respira, bebe e regurgita gasolina. Ele aceita efusivamente que tudo se justifique pelo aumento da gasolina. A gasolina é o seu símbolo. O acesso à gasolina foi a vitória da pequena burguesia para sua entrada definitiva no mundo da ostentação urbana e da fluidez do capitalismo (com poluição e destruição do meio ambiente completamente aceitáveis pela sua moral “classemedista”).

O “classemedismo” é o laboratório ideal da classe dominante, da plutocracia reinante e do alto empresariado que a usa e lhe deixa carcomida para todo o sempre. Ele compartilha da ideologia do aqui e agora, do bolso, do dinheiro, da busca desenfreada por ascensão econômica, doa a quem doer, no venda-se quem puder em meio à falácia da meritocracia e da competência.

Por isso, o “classemedista” jamais apoiará uma luta trabalhadora, ele não se vê como trabalhador, ele foi forjado no egoísmo, o seu vocabulário para trabalhador é importado da elite econômica da qual ele sempre almejará fazer parte (ele tem “classe”, oras bolas!). O trabalhador sempre será pobre, vagabundo e invejoso. O “classemedista” despreza  o trabalhador, empregado em serviços nos quais ele não se vê fazendo, mas, apenas, deles se servindo; ele é egocêntrico e medíocre por excelência.

O pensamento “classemedista” é originário do comércio, do negócio e do orgulho liberal. Ele se vende e se compra todo o tempo e se acha proprietário dos meios de produção, mesmo quando tudo o que lhe resta é ser massa de manobra daqueles que nada sabem, mas tem dinheiro. Faz parte do seu dna agir com o fígado, por isso, sua religião (seja qual nome tenha), utilizada como reserva moral, é o Deus self service da prosperidade.

Ele não pensa e nega a cultura, ele odeia o conhecimento porque ele o desnuda, o acusa e o supera; por isso nunca apoiará a educação, os professores e as escolas públicas (inclusive, a de seus filhos). Via de regra, sua relação interpessoal é sempre entre consumidor e fornecedor. Esse pensamento “classemedista” apóia as ideias que sabotam sua própria existência. Eis por que todo indivíduo com o espírito “classemedista” é um kamikaze em estado de negação.

Desde o começo da democratização da escola, a burguesia propriamente dita, de onde sairá a  ficção social de nome “classemedismo” ou pequena burguesia, só se interessou pelo ensino como forma de ascensão econômica e status high society.

Foram os filhos dos trabalhadores que, uma vez na escola, seriam muito mais impactados pelo saber acumulado, pois não tinham outra alternativa para a afirmação da sua identidade social, formação política, ascenção econômica e domínio cultural que não fosse a aquisição do conhecimento. Ainda assim, muitos se formaram “a la classe média”, outros, como alguns filhos de burgueses intelectualizados e na contramão de sua própria classe, passaram a cobrar direitos, criar uma outra ideia de humanidade e a ter a filosofia, a ciência e a história nas mãos.

O carro, esse troféu “classemedista” despudorado, desde o sr. Ford e toda a fabricação em série, é o “classemedismo” em estado bruto, a alma exposta fora do corpo. Pois ele odeia tudo o que é coletivo! Do transporte público ao planeta Terra. A primeira coisa que um profissional, genuinamente, “classemedista” compra com seu parco dinheiro acumulado é um carro grande, um SUV branco (como se faz em Dubai [risos]), que ocupe, de preferência, a pista inteira e duas vagas de garagem coletiva! Foi o carro que fez os Estados americanos bancarem com o dinheiro dos trabalhadores, as highways, suas routes, para o ir e vir do desfile do capitalismo pujante, para que a FORD e a GENERAL MOTORS pudessem desovar sua produção para a formação do espírito da classe média ascendente.

O “classemedismo” é um fenômeno psíquico, é o cão de Pavlov, se a alta burguesia toca uma campainha imaginária, já começa a salivar e, depois de espumar, ele rosna e ataca, mas ataca o cachorro ao seu lado (que na maioria das vezes é o seu próprio rabo). Ele, ainda, tem enormes vontades inconscientes, mas é óbvio e completamente previsível. O espírito “classemedista” come arma e atira feijão, bebe whisky e odeia o teatro, não quer a ciência e reza pela Terra plana.

Deus me livre do “classemedismo”! Isso não é minha raiva, é minha singela oração!

VEJA TAMBÉM

ÚLTIMAS

Santos

Evento no Orquidário irá ensinar educação ambiental neste domingo (5)

Simultaneamente ao evento será realizada mais uma edição da Feira Orgânica no parque zoobotânico, realizada sempre aos domingos, a partir das 9h

Variedades

'O Auto da Compadecida 2' ganha teaser trailer

Longa contará com o retorno de Selton Mello e Matheus Nachtergaele

©2024 Diário do Litoral. Todos os Direitos Reservados.

Software

Newsletter