25 de Maio de 2024 • 22:52
Política
Desde de que Lula foi preso, no início de abril, Haddad executou pelo menos três movimentos que o levaram a ser escolhido por Lula como a opção mais viável
Desde de que Lula foi preso, no início de abril, Haddad executou pelo menos três movimentos que o levaram a ser escolhido por Lula como a opção mais viável / Fotos Públicas
A preferência não era por ele. Nunca foi. Luiz Inácio Lula da Silva queria que Jaques Wagner assumisse seu lugar de candidato do PT ao Planalto quando a Justiça Eleitoral o declarasse inelegível.
Mas Fernando Haddad contou com boa dose de conveniência -Jaques não queria a vaga- e apostou no essencial: precisava deixar para trás o verniz de intelectual da USP e assumir o figurino de militante petista caso quisesse unificar o partido em torno de seu desejo de ser ungido plano B.
Desde de que Lula foi preso, no início de abril, Haddad executou pelo menos três movimentos que o levaram a ser escolhido por Lula como a opção mais viável: abriu canal direto com o ex-presidente ao se credenciar como advogado com livre acesso à cela em Curitiba, aproximou-se de amigos de confiança do comandante petista e inseriu-se de vez na vida partidária.
No seu cálculo, o primeiro passo tinha que ser sutil: furar, sem grandes traumas, o bloqueio formado pela presidente do PT, Gleisi Hoffmann (PR), e pelos advogados de Lula, que o visitam quase que diariamente, repassando recados e ordens para os aliados.
Haddad entendeu que precisava escutar pessoalmente -e com mais frequência- os conselhos do ex-presidente. Foi orientado a reaver sua carteirinha da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), suspensa desde que decidiu priorizar a vida política sobre a dos escritórios de advocacia.
Foi pessoalmente à sede do órgão, em São Paulo, e encurtou o prazo de até 30 dias que a carteirinha costuma demorar.
A estratégia deu certo. Haddad então recebeu uma procuração de Lula e foi constituído advogado do ex-presidente.
Sua função, porém, não era jurídica. Tinha nas mãos as diretrizes do programa de governo do PT, do qual era coordenador, e o discurso perfeito para convencer Gleisi e os demais de que aquela era uma tarefa para ser cumprida sem intermediários, já que Lula queria discutir todos os pontos pessoalmente.
A elaboração do plano conferiu protagonismo a Haddad.
Sem aviso prévio, o ex-prefeito já havia se incorporado a um time que se reunia com Lula desde o ano passado para falar de economia.
Aos poucos, assumiu o comando das discussões -o grupo nunca mais se reuniu- em um projeto coordenado por ele e pelo economista Marcio Pochmann, em contato direito com governadores e dirigentes petistas.
Parecia estar mais aberto a ouvir, fez uso de quase todos os textos produzidos ao longo dos debates, e viu Pochmann se afastar ao assumir uma candidatura a deputado federal na qual, de início, não queria embarcar.
Lula testava o ex-prefeito. Irônico, disse a um aliado que, se Haddad queria ser um candidato à frente de seu tempo, como costuma dizer em tom professoral, que concorresse em 2030, não agora.
O ex-presidente reclama que o ex-prefeito é teimoso e não ouve ninguém, mas também o afaga. A relação dos dois é boa, relatam os mais próximos, mas difere da dinâmica de confidências e amizade que Lula mantinha com Jaques.
O contato com o ex-presidente fez Haddad entender melhor o PT e a importância de ser aceito pelas fileiras do partido antes de se lançar em um empreitada pela sigla.
Em junho, entrou para a corrente majoritária petista, a CNB (Construindo um Novo Brasil), e criou pontes com dirigentes da base, como o ex-presidente do PT Rui Falcão, o atual tesoureiro Emidio de Souza e o antigo chefe das finanças Márcio Macêdo.
Em outra frente, aproximava-se de amigos pessoais de Lula, como Paulo Okamotto, presidente do instituto que leva o nome do petista, e o advogado Sigmaringa Seixas.
A principal resistência, no entanto, concentrava-se entre deputados do PT de São Paulo, como José Mentor, Vicente Cândido e Carlos Zarattini.
Sob tutela de Gleisi, eles tentaram convencer Jaques a aceitar a vaga de vice até sábado (4). Mas não deu certo.
A presidente do PT avaliava que deflagrar o plano B antecipadamente poderia naturalizar a ideia, já corrente, de que Lula não poderá candidato e queria uma alternativa.
Haddad agiu para bloquear os caminhos do grupo e participou de todas as articulações que o escolheram como vice.
Às 22h de domingo (5), duas horas antes de ser oficializado no posto, entrou na comitiva que foi à sede do PC do B e reforçou a proposta para que Manuela D'Ávila ficasse na reserva e assumisse a vice do PT quando a situação de Lula fosse definida na Justiça.
Haddad ainda tem um longo caminho a percorrer, dizem petistas. Não é mais a novidade de 2012, quando se apresentou como "um homem novo para um tempo novo" em sua primeira eleição, para a Prefeitura de São Paulo, e tem o passivo da derrota em 2016, ainda no primeiro turno, para o tucano João Doria.
Precisa dialogar com as demais correntes da sigla e avançar numa seara delicada, na qual se construirá como presidenciável ao mesmo tempo em que tentará evitar o esvaziamento do discurso de que o candidato de fato seria Lula.
Esse desafio, porém, petistas não acreditam que Haddad vencerá com maestria.
Lula será registrado pelo PT, com Haddad vice, em 15 de agosto, mas quando a Justiça Eleitoral barrar o ex-presidente, o ex-prefeito assumirá a cabeça de chapa, com Manuela de vice. E é essa a configuração que já está sendo levada em conta pelo PT.
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