04 de Maio de 2024 • 22:45
Uma em cada quatro mulheres sofrem de depressão no período pós-parto. / Divulgação/Prefeitura de São Vicente
Recentemente, com a pandemia de covid-19, o Hospital das Clínicas da FMUSP (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo) realizou um estudo com mulheres com partos recentes e constatou que 38,8% das participantes tiveram depressão pós-parto. Outro dado, de uma pesquisa realizada pela Fundação Oswaldo Cruz e publicada pela conceituada revista científica Journal of Affective Disorders (JAD) em 2016, concluiu que no Brasil, uma em cada quatro mulheres sofrem de depressão no período pós-parto.
São dados alarmantes, de uma condição que pode iniciar já nos primeiros meses da gravidez, devido ao aumento da vulnerabilidade aos transtornos mentais ao longo da gestação e puerpério, principalmente com sintomas ansiosos e depressivos. “Fatores como história psiquiátrica prévia, alterações hormonais e da autoimagem, insegurança e preocupação com a saúde do filho, dificuldade com a maternidade e amamentação contribuem para o aparecimento dos sintomas”, explica a psiquiatra do Complexo Hospitalar Santa Genoveva, Carolina Melo.
De acordo com a médica, a preparação da saúde psicológica da mãe muitas vezes é negligenciada e deveria ser iniciada quando possível no período pré-concepção e perdurar durante toda a gestação e puerpério.
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A gravidez traz uma mistura de sentimentos, e nem todos são bons. A Dra. Carolina conta que o primeiro mês pós-parto é um período de desafios para a mãe de forma que 85% das mulheres experimentam alguma alteração leve do humor. “Chamado de disforia ou blues puerperal, esses sintomas não causam prejuízo na funcionalidade e se iniciam normalmente nos primeiros dias pós-parto com pico no quinto dia e remissão até duas semanas, não sendo necessário nenhum tratamento específico”. Sentimentos como fadiga, letargia, oscilações do humor, apetite, sono, diminuição do desejo sexual e irritabilidade são comuns nesse período.
Mas se a mulher se sente nervosa ou deprimida o tempo todo, pode ser um sinal de que algo mais profundo está acontecendo. “Entre 10 e 15% das puérperas a tristeza persiste e se agrava evoluindo para um quadro depressivo. Os sintomas de gravidade para que se procure avaliação médica são a persistência dos sintomas após duas semanas, perda de interesse e alegria, sentimento de culpa ou medo excessivo, desesperança, dificuldade em se criar vínculo afetivo mãe e bebê e pensamentos de auto-extermínio”, diz a Dra. Carolina.
Os sintomas iniciam geralmente até seis semanas após o parto e causam sensação de inadequação para a mãe pela assincronia da felicidade esperada por ela e seus familiares em relação ao bebê. “Daí o fato de várias mulheres esconderem como se sentem e não procurarem ajuda especializada. Mas, em casos específicos, podem ser usadas medicações seguras na na gestação ou amamentação, além do suporte psicoterápico”, esclarece a médica.
Para atravessar este período de tantas emoções, a Dra. Carolina traz algumas dicas para as grávidas e recém-mães:
· Sempre que possível conte com o suporte social e familiar na ajuda com o recém-nascido ou outros filhos;
· Procure grupos de mães, tanto on-line como presenciais para a criação de vínculo e troca de experiências;
· Mantenha uma rotina de prática de exercícios, mesmo que seja uma boa caminhada com o bebê, alinhada a uma alimentação saudável;
· Descanse sempre que possível;
· Não hesite em buscar ajuda médica e psicoterápica quando sentir necessidade. A médica reforça que a saúde mental materna deve ser cada vez mais discutida e exposta para melhora do estigma ainda existente, contribuindo assim para que mais mulheres se sintam confortáveis em solicitar ajuda.
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