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Saúde

Varíola dos macacos pode causar complicações raras em pacientes

Pesquisas e relatos médicos já constataram que a doença esteve associada a complicações como problemas na visão e encefalite

Folhapress

Publicado em 31/07/2022 às 11:56

Atualizado em 31/07/2022 às 14:23

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Estudos já observaram diferentes tipos de complicações oculares em pessoas com a doença causada por monkeypox / iStock

A varíola dos macacos, responsável atuamente por um surto de preocupação global, normalmente causa quadros sem gravidade para a saúde a longo prazo. No entanto, pesquisas e relatos médicos já constataram que a doença esteve associada a complicações como problemas na visão e encefalite -inflamação do cérebro causada por uma infecção.

"Os casos que podem levar a cegueira e inoculação do vírus no olho não acontecem em todo mundo. Mas, de todas as sequelas da varíola dos macacos, talvez seja a mais comum", afirma Clarissa Damaso, virologista da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e assessora do comitê da OMS (Organização Mundial da Saúde) para pesquisa com vírus da varíola.

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Embora os dados sejam escassos, estudos já observaram diferentes tipos de complicações oculares em pessoas com a doença causada por monkeypox, como o vírus é conhecido. Um levantamento concluiu que a conjuntivite, a inflamação de uma membrana no olho, foi reportada em 23% de pacientes infectados por varíola dos macacos entre 2010 e 2013 no Congo.

Os pesquisadores observaram que a maior parte das pessoas com conjuntivite durante a infecção eram crianças com menos de dez anos. Além disso, a complicação foi mais presente nos menores que apresentaram outros sintomas, como náuseas, dor de garganta e sensibilidade à luz.

"Os casos de varíola dos macacos com conjuntivite correm risco de cicatrizes, que podem causar a cegueira", afirmam os pesquisadores no levantamento.

Outra pesquisa já observou os casos de cegueira decorrentes da varíola dos macacos. O estudo analisou 338 pacientes no Zaire -como era chamada a República Democrática do Congo- entre 1981 a 1986. Desses, 245 foram infectados diretamente por animais e 95 tiveram transmissão entre humanos.

O levantamento concluiu que sequelas mais graves, como cegueira de um ou dos dois olhos, foram observadas em 10% dos infectados por animais. Para aqueles que tiveram a transmissão por humanos, a taxa foi de 5%.

Damaso explica que os problemas oculares podem ocorrer quando a pessoa toca em alguma lesão corporal causada pela varíola dos macacos e depois leva a mão para o olho sem antes higienizar.

"Quando a ferida vai secando, ela começa a coçar. Então a pessoa coça e esquece depois de lavar a mão", resume.

Esse tipo de complicação também já é relatado em casos de outros vírus da mesma família do monkeypox, como o patógeno que causa a varíola comum. A situação faz com que, no laboratório da UFRJ que em que Damaso atua, uma regra tenha sido instaurada: "Não colocar a mão no olho de maneira nenhuma", conta a virologista, recomendando que pacientes diagnosticados com varíola dos macacos sigam a recomendação.

Encefalite Outra complicação associada à varíola dos macacos em estudos é a encefalite, uma inflamação do cérebro e do encéfalo (tronco cerebral) causada por uma infecção.

No caso da varíola dos macacos, há pouquíssimos relatos do desenvolvimento de encefalite mediante a infecção viral. Um deles foi de um surto de 2003 ocorrido nos Estados Unidos. Pesquisadores observaram o caso de uma família -dois adultos e uma criança- onde todos foram infectados por monkeypox. Os adultos desenvolveram os sintomas mais comuns, como as lesões na pele, mas o quadro da criança evoluiu até a encefalite.

Quadros mais preocupantes dessa complicação causada pela varíola dos macacos são raros e atinge basicamente crianças, um grupo já reconhecido como de risco para desenvolver quadros graves da doença. Outras pessoas sujeitas a evoluções mais críticas são grávidas, imunossuprimidos, indivíduos com comorbidades e não vacinados.

Marzia Puccioni, professora da Escola de Medicina e Cirurgia da Unirio e do programa de pós-graduação em doenças infecciosas e parasitárias da UFRJ, afirma que é importante estar alerta aos sinais da encefalite em crianças. O quadro envolve principalmente sonolência, crise compulsiva, confusão mental, déficit motor e dor de cabeça muito intensa.

"Os pais têm que ficar muito atentos", afirma Puccioni. Ela também aponta para a necessidade de pediatras observarem com maior cuidado o desenvolvimento do problema de saúde. Segundo ela, muitas causas de encefalite deixam de ser investigadas adequadamente.

A encefalite em decorrência da varíola dos macacos ainda não foi descrita nesse surto, diz a pesquisadora.

"É raro, porém temos que estar atentos. Pode acontecer, como já ocorreu nos surtos prévios", afirma Puccioni.

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