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Dificuldades

Mulher e três crianças lutam para sobreviver das ruas de Santos

Nas ruas de Santos e São Vicente, a vida de Cláudia e de seus filhos se mostra cada vez mais difícil

Carlos Ratton

Publicado em 23/05/2024 às 06:00

Atualizado em 23/05/2024 às 09:34

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Claudia Renata Martins Barbosa e os filhos fazem caminhadas longas, muitas vezes sem compensação / Carlos Ratton / Diário do Litoral

Era por volta do meio dia da última quarta-feira (22) e ela andava sem destino, com uma mochila nas costas, pela Rua Goytacazes, empurrando um carrinho. Dentro dele, um bebê de um ano e dois meses. Atrás dos dois, uma menina de sete anos com uma carrinho de feira.

Num certo momento, a menina pegou um objeto que estava ao lado de uma lixeira e perguntou pra mãe se servia. A mãe, olhando para trás com ar de cansaço, disse que não e pediu para que a menina não ficasse tão distante.

Depois, os três entraram em uma das galerias que dão acesso à Praça da Independência, localizada no coração do Gonzaga, bairro nobre de Santos, com um dos comércios mais pujantes da Região Metropolitana da Baixada Santista.

Na galeria, sentado em uma mesa, um homem almoçava. A mulher e as crianças pararam. A mulher pediu uma marmita. O olhar do homem para a situação não deixou dúvidas. Minutos depois, ela estava recebendo, do dono do pequeno restaurante, um saco plástico com a comida em marmitex. O homem fez questão de atendê-la, num gesto singular de compaixão.

Há três anos, essa é a rotina de Claudia Renata Martins Barbosa para sobreviver e sustentar, além do casal de filhos, mais outro de seis anos que ela consegue deixar na creche, todos os dias, antes de sair para uma rotina de incertezas. São caminhadas longas, muitas vezes sem compensação.

A menina e o bebê seguem com ela pelas ruas em busca de mantimentos e tudo que possa servir para vender e conseguir o pão para as crianças, além de pagar o aluguel de onde mora, na Vila Margarida, em São Vicente.

A Reportagem conversou com Cláudia enquanto ela amamentava o bebê ainda no peito, que de vez em quando gemia com já quisesse balbuciar as primeiras palavras.

A irmãzinha, atentamente, ouvia as perguntas e as respostas da mãe, não a interrompendo em nenhum momento, durante a entrevista que durou uns 10 minutos.

Pessoas trafegavam pela galeria durante a conversa. Algumas olhavam com curiosidade. Outras com desdém, e boa parte sequer percebia a situação dramática que ali se mostrava, infelizmente muito comum na região.

"Estou desempregada e vivo vendendo água e balas. E quando consigo um dinheirinho para comprar mercadoria. Já trabalhei em supermercado, vendas, telemarketing e outros serviços. Trabalho em qualquer coisa que me permita sustentar meus filhos. Quando não consigo mercadoria, peço comida às pessoas de bom coração que possam me ajudar", confirma.

Cláudia deixa o menino de seis anos na creche logo nas primeiras horas do dia. Depois, com filha mais velha e o bebê, começa a caminhar pelas ruas. "De vez em quando consigo fazer uma faxina. Eu já estive no CRAS (Centro de Referência de Assistência Social) de São Vicente, mas a fila é imensa para receber uma cesta básica. Às vezes, consigo alguma coisa na igreja, o que garante almoço e a janta do meus filhos", revela.

Nas ruas de Santos e São Vicente, a vida de Cláudia e de seus filhos se mostra cada vez mais difícil. "Tem gente que ajuda, como o homem que me deu a marmita. Mas muita gente me xinga. Uma vez, o gás lá de casa acabou e eu não tive dinheiro para comprar. Graças a Deus eu consegui colher latinhas e comprei alguns fardos de água. Com o dinheiro, comprei um botijão", disse.

Claudia disse que mora na Avenida Nações Unidas, 245, na Vila Margarida, onde pode receber ajuda. Ela informou um número de telefone, mas não atendeu a reportagem no período da tarde. Ela aceita qualquer forma de ajuda, quer com mantimentos, com roupas para as crianças e até um emprego, mesmo que informal.

Brasil

A taxa de desocupação de mulheres e negros terminou 2023 acima da média nacional. Enquanto o país alcançou o índice de 7,4% no último trimestre de 2023, a taxa das mulheres ficou em 9,2%. Já a dos homens, 6%. As informações são da Agência Brasil.

Os dados fazem parte da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Essa comparação significa que o desemprego das mulheres é 53,3% maior que o dos homens. A diferença já foi de 69,4% no 1º trimestre de 2012, quando começou a série histórica do IBGE. A menor discrepância registrada foi de 27% no 2º trimestre de 2020.

Pelo prisma de cor da pele, a população branca apresentou taxa de desemprego de 5,9%, enquanto as de pretos (8,9%) e pardos (8,5%) superaram a média nacional.

A diferença entre os grupos é praticamente igual à do início da série histórica, quando a taxa dos brancos era de 6,7%, a dos pretos correspondia a 9,7%, e a dos pardos, a 9,2%. A média nacional atingia 8% na época.

A pesquisa revela também diferenças na relação entre escolaridade e empregabilidade. O grupo de pessoas com ensino médio incompleto apresentou, no último trimestre de 2023, taxa de desemprego de 13%, o pior entre todos os segmentos. Para as pessoas com nível superior incompleto, a taxa foi 7,6%, mais que o dobro da verificada para o nível superior completo (3,6%).

O grupo sem instrução tinha índice de 6,1%, abaixo da média nacional. Já fundamental incompleto (7,9%), fundamental completo (9,3%) e médio completo (8%) tiveram taxas piores que a média.

A taxa anual de informalidade passou de 39,4% em 2022 para 39,2% em 2023. Já o percentual de empregados com carteira assinada era de 73,7% dos empregados do setor privado no último trimestre de 2023.

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