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Política

Doria recua, mantém candidatura e renuncia ao Governo de SP

A manobra buscou enquadrar o PSDB no mesmo dia em que Sergio Moro abandonou a pretensão presidencial, mas está longe de garantir o apoio do tucanato ao paulista

Folhapress

Publicado em 31/03/2022 às 20:16

Atualizado em 31/03/2022 às 20:24

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O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), recuou, nesta quinta-feira (31), da decisão de desistir de concorrer à Presidência da República e de renunciar ao Palácio dos Bandeirantes.

A manobra buscou enquadrar o PSDB no mesmo dia em que Sergio Moro abandonou a pretensão presidencial, mas está longe de garantir o apoio do tucanato ao paulista. Ao contrário, novos ataques internos à postulação são uma certeza.

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Com isso, ele mantém o plano original de mirar o Planalto e permitir que o vice-governador, Rodrigo Garcia (PSDB), assuma o cargo e dispute as eleições para o governo paulista.

Doria fez o anúncio de sua renúncia em um evento de despedida no Palácio dos Bandeirantes com prefeitos paulistas, como estava previsto.

Para tentar dissipar o mal-estar que foi vendido por todo o entorno dos tucanos, real ou não, o evento teve ares de lançamento de candidatura, com bateria de escola de samba e um longo vídeo enaltecendo a imagem de "pai da vacina" Coronavac de Doria, entre outros pontos de seu governo.

"Chego com a satisfação de ter cumprido os compromissos que assumi com o povo de São Paulo, sem ter sucumbido à vaidade do poder", disse, chorando ao citar a mãe o pai, que foi deputado cassado pela ditadura celebrada por Bolsonaro neste dia 31, aniversário do golpe de 1964. Criticou o atual governo e os do PT.

"Acreditar na ciência é apostar na vida e acreditar no futuro. São Paulo cresceu cinco vezes mais que o Brasil nesses três anos, mesmo com a pandemia", disse, em referência à sua aposta na vacina contra a Covid-19 e no desempenho econômico do estado.

Doria fez deferências a aliados e a outros não tanto assim, como o presidente do PSDB, Bruno Araújo, com quem tem uma relação de desconfiança.

Outros compromissos de inaugurações no seu último dia no cargo acabaram cancelados diante do imbróglio.

Ele havia comunicado Rodrigo na quarta-feira (30) sobre sua decisão de se manter no governo, abrindo uma crise no PSDB e na base aliada. Desde a noite de quarta, aliados de Doria passaram a atuar para que ele mantivesse o combinado. Embora o tucano tivesse dito ao vice que não disputaria a reeleição, Rodrigo ameaçou se filiar à União Brasil e até a não mais concorrer, o que agravou a situação.

Irritado, o vice não foi a um jantar em homenagem a Doria na casa do empresário Marco Arbaitman. Com a confusão instalada, após uma manhã de negociações e telefonemas em termos impublicáveis, foi costurado um consenso.

Bruno Araújo então divulgou uma carta na qual reafirmava que Doria seria o candidato, respeitando o resultado das prévias do ano ano passado, na qual derrotou o então governador Eduardo Leite (RS).

Leite renunciou ao governo do Rio Grande do Sul, anunciou que permanece no PSDB e disse que se vê em condições de ser candidato ao Planalto, numa tentativa de virar a mesa das prévias.

A carta não foi bem o que queria o paulista, que buscava uma manifestação conjunta com o MDB e o União Brasil, de preferência já endossada pelo ex-ministro Sergio Moro, que já estava de saída da corrida presidencial e mudou para o partido nesta quinta.

Para fins cosméticos, já que o racha no PSDB não irá se alterar, o texto de Araújo serviu de base para a manutenção dos planos iniciais.

Doria já havia sinalizado a aliados que sua decisão podia não ser final. À Folha falou que era "especulação". Sua frustração com o PSDB vem do apoio de alas expressivas do partido, lideradas pelo adversário Aécio Neves (MG) e outros caciques, para tentar ressuscitar Leite na disputa.

"O candidato a presidente pelo PSDB é o governador de São Paulo, João Doria, escolhido democraticamente em prévias nacionais realizadas em novembro de 2021. As prévias serão respeitadas pelo partido. O governador tem a legenda para disputar a Presidência. E não há, nem haverá qualquer contestação à legitimidade da sua candidatura pelo partido", diz o documento assinado por Araújo.

Pessoas próximas a Rodrigo, que deixou o DEM e se filiou ao PSDB para disputar o governo, trataram o recuo como uma traição de Doria.

A amigos ele disse que não aceitaria concorrer com Doria à frente do Palácio dos Bandeirantes. Em almoço nesta quinta, as arestas foram aparadas da forma possível, mas um interlocutor de ambos falou em "climão" persistente.

No evento à tarde, Rodrigo foi previsivelmente diplomático. Elogiou Doria e disse que "todos nós aqui procuramos resolver os problemas de São Paulo e do Brasil". "Estamos aqui para te desejar um até breve. Hoje quem tem de brilhar aqui é você", afirmou. "Estamos aqui por você. O dia é seu!", disse.

Como mostrou a Folha, uma preocupação de aliados de Rodrigo é que ele faça uma campanha descolada do antecessor, tentando ser poupado da rejeição que atinge Doria no estado.

A mais recente pesquisa Datafolha mostra Lula (PT) com 43% das intenções de voto, contra 26% de Bolsonaro (PL), 8% de Sergio Moro (Podemos), 6% de Ciro Gomes (PDT), 2% de Doria e 1% de Simone Tebet (MDB).

Além disso, a rejeição de 30%, segundo a pesquisa Datafolha, atrapalha o plano de Doria de se viabilizar como candidato da terceira via. Ele só perde numericamente nesse quesito para Bolsonaro e Lula, que são rejeitados por 55% e 37% respectivamente, segundo o levantamento.

Segundo aliados, Doria está particularmente frustrado com o fato de que seu esforço para trazer a vacina contra Covid-19 chinesa Coronavac ao país, efetivamente forçando o governo federal a investir no tema da imunização, não se materializou em apoio. O imunizante seria, em sua campanha, carro-chefe.

Após três anos e três meses à frente do Palácio dos Bandeirantes, a renúncia de Doria o coloca diante de uma série de desafios para consolidar sua candidatura.

Conhecido por 80% da população, Doria buscará estatura nacional, com presença frequente em Brasília e a meta de percorrer o maior número de estados até a convenção, em julho ou agosto. Só que desde novembro, quando ganhou as prévias, ficou centrado em São Paulo.

Além de pai da vacina, Doria tem um saldo de entregas em diversas áreas, como ensino integral, despoluição do rio Pinheiros, redução da criminalidade e retomada de obras. Apesar do investimento recorde, porém, a Folha mostrou que várias metas não foram cumpridas.

O tucano passou seu tempo de governo sob enorme exposição, com entrevistas periódicas à imprensa e uma série de eventos e inaugurações. O excesso de marketing, os recuos e a inabilidade política moldaram a fama de Doria.

Os críticos apostam que, fora do cargo, Doria tende a desidratar e ver sua candidatura afundar. Se não alcançar o objetivo de ser candidato a presidente, o ex-governador deve voltar para a iniciativa privada.

Já seus aliados acreditam que Doria, que já venceu três prévias e duas eleições seguidas, manterá os holofotes.

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