X

Política

Após negar fome no Brasil, Bolsonaro volta atrás e diz que 'alguns passam fome'

A fala foi uma resposta do presidente a uma representante do jornal espanhol El País durante café da manhã em Brasília

Folhapress

Publicado em 19/07/2019 às 17:34

Comentar:

Compartilhe:

A-

A+

Bolsonaro afirmou que era inadmissível isso ocorrer num país com as características naturais do Brasil. / Marcelo Camargo/Agência Brasil

O presidente Jair Bolsonaro (PSL) disse nesta sexta (19) que não existe fome no Brasil.

"Falar que se passa fome no Brasil é uma grande mentira. Passa-se mal, não come bem. Aí eu concordo. Agora, passar fome, não", disse em café da manhã com correspondentes internacionais.

"Você não vê gente mesmo pobre pelas ruas com físico esquelético como a gente vê em alguns outros países pelo mundo", disse o presidente, sem citar nominalmente as nações que mencionou na declaração.

A fala foi uma resposta do presidente a uma representante do jornal espanhol El País, em Brasília, que disse que o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, havia manifestado preocupação com a desigualdade no Brasil e quis saber que trabalho o governo tem realizado para reduzir a pobreza no país.

Mais tarde, ao final de um evento em comemoração ao Dia Nacional do Futebol, o presidente amenizou a fala e reconheceu "alguns passam fome" e afirmou que era inadmissível isso ocorrer num país com as características naturais do Brasil.

Questionado se estava recuando sobre a afirmação de que não havia fome no Brasil, Bolsonaro se irritou. "Ah, pelo amor de Deus, se for para entrar em detalhes, eu vou embora. Eu não tô vendo nenhum magro aqui [entre os jornalistas]. Temos problemas no Brasil, temos, não é culpa minha, vem de trás. Vamos tentar resolver", afirmou.

"O que tira o homem e a mulher da miséria é o conhecimento, não são bolsas e programas assistencialistas. Nós temos que lutar nesse sentido, nessa linha, para dar dignidade ao homem e à mulher brasileira."

No café da manhã, Bolsonaro disse ainda que o Brasil é um país privilegiado e que os Poderes Executivo e Legislativo podem fazer "é facilitar a vida do empreendedor, de quem quer produzir, e não fazer esse discurso voltado para a massa da população, porque o voto tem o mesmo peso", disse, criticando a política de bolsas de governos anteriores.

"É só as autoridades políticas não atrapalharem o nosso povo que essas franjas de miséria por si só acabam no Brasil, porque o nosso solo é muito rico para tudo o que se possa imaginar", disse.

Disse ainda que é o conhecimento que tira o homem da miséria - o que, pare ele, não foi bem cuidada nas últimas décadas. "A educação aqui no Brasil, nos últimos 30 anos, nunca esteve tão ruim", avaliou.

Segundo cálculo da Folha de S.Paulo com base em documento divulgado em 4 de abril pelo Banco Mundial, a crise econômica dos últimos anos empurrou 7,4 milhões de brasileiros na pobreza entre 2014 e 2017.

Com isso, houve um salto de 20,5% -de 36,5 milhões para quase 44 milhões- no número de pessoas vivendo com menos de US$ 5,5, ou seja, R$ 21,20, por dia.

O Banco Mundial também analisou a situação dos que são considerados extremamente pobres, precisando sobreviver com menos de US$ 1,90 (R$ 7,30) por dia, aproximadamente R$ 220 mensais a preços de hoje.

A fatia dos miseráveis entre o total de pobres do país saltou de 15,4% para 23% no período analisado.

De acordo com a Fundação Abrinq, que fez cálculos a partir de dados do IBGE, 9 milhões de brasileiros entre zero e 14 anos do Brasil vivem em situação de extrema pobreza.

O Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional do Ministério da Saúde (Sisvan) identificou, no ano retrasado, 207 mil crianças menores de cinco anos com desnutrição grave no Brasil.

Nas redes sociais, um dos filhos do presidente, o vereador do Rio Carlos Bolsonaro (PSC), criticou o encontro do pai com os correspondentes.

"Por que o presidente insiste no tal café da manhã semanal com 'jornalistas'? Absolutamente tudo que diz é tirado do contexto para prejudicá-lo. Sei exatamente o que acontece e por quem, mas não posso falar nada porque senão é 'fogo amigo'. Então tá, né?! O sistema não parará!", afirmou.

Após as falas, o presidente publicou um vídeo nas redes sociais em que exibe entrevista do ex-presidente Lula, de 2014, afirmando que "cansou de viajar o mundo falando mal do Brasil" e ironizando que "era bonito a gente viajar o mundo e falar que o Brasil tem 30 milhões de crianças de rua".

Na publicação, Bolsonaro diz: "Hoje fui entrevistado por essa mesma imprensa [internacional]. O que eu disse? Que não temos esta quantidade de gente propalada por eles passando fome aqui. Acaso tivesse falado que temos 50 milhões de pessoas passando fome eu seria aplaudido por essa mesma imprensa estrangeira."

Apoie o Diário do Litoral
A sua ajuda é fundamental para nós do Diário do Litoral. Por meio do seu apoio conseguiremos elaborar mais reportagens investigativas e produzir matérias especiais mais aprofundadas.

O jornalismo independente e investigativo é o alicerce de uma sociedade mais justa. Nós do Diário do Litoral temos esse compromisso com você, leitor, mantendo nossas notícias e plataformas acessíveis a todos de forma gratuita. Acreditamos que todo cidadão tem o direito a informações verdadeiras para se manter atualizado no mundo em que vivemos.

Para o Diário do Litoral continuar esse trabalho vital, contamos com a generosidade daqueles que têm a capacidade de contribuir. Se você puder, ajude-nos com uma doação mensal ou única, a partir de apenas R$ 5. Leva menos de um minuto para você mostrar o seu apoio.

Obrigado por fazer parte do nosso compromisso com o jornalismo verdadeiro.

VEJA TAMBÉM

ÚLTIMAS

Cotidiano

Baixada Santista confirma sétima morte por dengue

A vítima é uma mulher de 49 anos, que morreu no último dia 3

Santos

Pacientes com câncer estão tendo cirurgias suspensas em Santos

Denúncia foi feita pela vereadora Audrey Kleys (Novo) durante a 22ª Sessão Ordinária da Câmara de Santos nesta terça-feira (23)

©2024 Diário do Litoral. Todos os Direitos Reservados.

Software

Newsletter