14 de Outubro de 2024 • 08:17
Lula disse que é preciso 'construir uma narrativa' para convencer as mulheres a ingressar no / Divulgação/Fotos Públicas
Em evento nacional do coletivo de mulheres do PT, realizado em Brasília na noite deste sábado (7), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que é preciso "construir uma narrativa" para convencer as mulheres a ingressar no partido e na política. Mas o discurso desagradou parte das militantes, que entendeu que Lula reforçou estereótipos de gênero.
"Eu acho que nós estamos precisando construir uma narrativa que convença a mulher que [ela] está preparada, que tem mais jeito de cuidar de uma cidade, de um Estado ou de um país do que um homem", disse Lula, ao lado da presidente nacional do PT, a senadora Gleisi Hoffmann.
"Governar é antes de tudo você exercitar a sensibilidade. A palavra 'cuidar' é mais pertinente [do que 'governar']", disse Lula, para quem um partido como o PT deve "cuidar do povo".
Recebido por centenas de mulheres com gritos de "Lula guerreiro do povo brasileiro", o ex-presidente reforçou sua intenção de se candidatar a presidente em 2018 e não citou as acusações de corrupção de que é alvo na Operação Lava Jato.
No único momento em que fez uma menção genérica às investigações, o petista afirmou que há grupos que "querem dizer para a sociedade que o PT tem que ser banido porque é uma organização criminosa".
Com discurso direcionado para a militância feminina, Lula começou dizendo que "a mulher não é objeto de cama e mesa, a mulher tem que ser sujeito da história". Depois, citou exemplos de perseverança dados por sua mãe e sua mulher, Marisa, morta em fevereiro deste ano.
Lula disse que era a primeira vez que falava em um evento só de "companheiras", o que o teria deixado apreensivo sobre o que dizer.
A receptividade de parte das militantes começou a mudar quando ele afirmou que é preciso que o Estado dê creche para que as mulheres tenham tempo de trabalhar e de fazer política.
Diante do burburinho na plateia, que achou a fala machista, Lula retomou o rumo dizendo que, como a mulher conquistou espaço no mercado de trabalho, "falta o homem conquistar espaço na cozinha".
Ao dizer que a mulher tem mais jeito para a política porque sabe "cuidar" -algo que, para ele, "vem da maternidade"-, uma militante reclamou "tá piorando".
"Como a gente vai despertar na cabeça da mulher [a participação política]?", disse Lula. Mulheres que estavam ao fundo se queixaram, dizendo que não é preciso despertar a cabeça delas.
"Algumas coisas que eu disse aqui são inquietações de uma pessoa que faz política há 50 anos. Eu estou disposto a discutir essas inquietações, para resolver o problema da participação da mulher e da chegada da mulher ao poder", disse o ex-presidente.
"O único jeito da gente governar é a gente fazer coisa diferente do que fez até agora. Sem a participação da mulher não vamos construir uma sociedade mais justa, socialista, igualitária", concluiu.
Para a militante do movimento social de mulheres Irani Elias, do Recife, a falta de participação da mulher na política é uma questão de estrutura do poder, não de voluntarismo. "Tem coisas que a gente não concorda com a fala dos homens e isso também inclui o presidente Lula", disse ela, que tentou interromper o discurso aos gritos diversas vezes.
O evento do PT vai eleger neste domingo (8) a nova secretária nacional do coletivo de mulheres, que substituirá a atual, Laysi Moriére.
Depois do discurso, a maioria das militantes fez fila para abraçar Lula e tirar fotos.
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