X

Política

'Governo Temer subestimou força', diz deputado Rogério Rosso

O governo queria acabar com a integralidade e a paridade. Depois, propôs uma regra que exigia as idades mínimas finais de 62 e 65 anos para conceder o benefício, sem nenhum tipo de transição.

Estadão Conteúdo

Publicado em 22/07/2018 às 19:39

Comentar:

Compartilhe:

A-

A+

O presidente Michel Temer. / Divulgação

A estratégia traçada pelo governo para tentar aprovar a reforma da Previdência foi um divisor de águas entre a atuação isolada das categorias e a força de coalizão que se formou. "Talvez o governo tenha subestimado essa bancada", diz o deputado Rogério Rosso (PSD-DF), um dos principais líderes pró-servidores na Câmara. Para ele, a campanha publicitária que atacava os "privilégios" do funcionalismo foi tão "injusta e cruel" que uniu os parlamentares e entidades de servidores espalhadas pelo Brasil.

A proposta de reforma do governo era instituir uma idade mínima para aposentadoria, de 62 anos para mulheres e 65 anos para homens. Não haveria mais benefício por tempo de contribuição. Mas o trecho que virou foco de embate foi o bloco de regras para servidores públicos, que hoje têm condições mais favoráveis do que o restante da população para se aposentar.

Enquanto os trabalhadores privados se aposentam ganhando no máximo R$ 5.645,80 (teto do INSS), um grupo de funcionários públicos que ingressaram até 2003 ainda pode levar para a aposentadoria o último salário da carreira (até o teto de R$ 33,7 mil), mesmo que no início tenha contribuído sobre valores menores. É a chamada integralidade. Outro benefício é a garantia a aumentos iguais aos dos servidores ativos, a chamada paridade

Unidade

O governo queria acabar com a integralidade e a paridade. Depois, propôs uma regra que exigia as idades mínimas finais de 62 e 65 anos para conceder o benefício, sem nenhum tipo de transição. Os servidores não aceitaram o que consideraram perda de direitos e se uniram para barrar a reforma.

"A pauta da Previdência reuniu grupos de servidores que atuavam separadamente no Congresso. As agências, os policiais, os servidores do TCU", diz o presidente da Federação Nacional de Policiais Federais (Fenapef), Luis Antônio Boudens.

Alçado a negociador das regras para servidores na reforma da Previdência, Rosso chegou a gravar um vídeo dizendo que todo brasileiro tem pai, mãe, irmão, primo ou vizinho que é servidor. Um aviso da influência dessas categorias. O próprio governo já havia tentado mapear essa influência na busca pelos votos para aprovar a reforma. Uma tabela feita por técnicos do governo apontava 210 deputados com parentes servidores (um deles, Carlos Marun, agora é ministro).

O relator da reforma da Previdência, deputado Arthur Oliveira Maia (DEM-BA), fez pouco mais de 200 audiências ao longo das negociações da proposta - 180 delas com entidades do funcionalismo. "Nos debates da comissão especial, os servidores defendiam o mais pobre e no meu gabinete só defendiam o próprio salário. Era tudo jogo de cena." As negociações viraram tema crucial para as carreiras, que articularam a criação da CPI cujo relatório final diz que não há déficit nas contas da Previdência

'Deseleger' traidores

A articulação política das principais categorias de servidores mira as eleições de outubro. Mesmo sem poderem pôr dinheiro diretamente na campanha dos candidatos preferidos, as entidades sindicais e associações ligadas ao funcionalismo público trabalham para garantir a eleição de políticos patrocinadores das suas propostas e aumentar o poder de pressão até 2022. 

As lideranças dos servidores não escondem essa movimentação, e a expectativa é de que o Congresso que sairá das próximas eleições tenha uma participação ainda maior de apoiadores do funcionalismo. A pauta de combate à proposta de reforma da Previdência, que deve voltar à agenda no próximo governo, está fortalecendo a articulação numa ação preventiva.

O secretário-geral da Confederação dos Trabalhadores do Serviço Público Federal (Condsef), Sérgio Ronaldo da Silva, reconhece que os servidores se articulam para repensar os votos da última eleição e "deseleger" quem votou contra os interesses do funcionalismo. "Faremos recomendação a todas as nossas bases que marquem cerrado todos os parlamentares que votaram a favor da terceirização, teto de gastos e votariam a favor da Previdência. Dizemos que está chegando a hora do acerto de contas com eles", afirma.

Mentira

Há, no entanto, parlamentares que alegam não terem sentido o apoio prometido pelo funcionalismo. "Eles mentem muito. A classe toda diz que vai votar em você e nem vota. Uma classe diz que vai conseguir 20 mil votos para você e te dá dois mil", afirma o deputado Leonardo Quintão (MDB-MG), ligado aos auditores da Receita Federal. Para o presidente da Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR), o procurador José Robalinho, o "governo exagera essa força do lobby". "Se isso fosse verdade, não estava há cinco anos sem reajuste salarial. Não houve lobby que impedisse a reforma de 2003 (previdência pública)."

Apoie o Diário do Litoral
A sua ajuda é fundamental para nós do Diário do Litoral. Por meio do seu apoio conseguiremos elaborar mais reportagens investigativas e produzir matérias especiais mais aprofundadas.

O jornalismo independente e investigativo é o alicerce de uma sociedade mais justa. Nós do Diário do Litoral temos esse compromisso com você, leitor, mantendo nossas notícias e plataformas acessíveis a todos de forma gratuita. Acreditamos que todo cidadão tem o direito a informações verdadeiras para se manter atualizado no mundo em que vivemos.

Para o Diário do Litoral continuar esse trabalho vital, contamos com a generosidade daqueles que têm a capacidade de contribuir. Se você puder, ajude-nos com uma doação mensal ou única, a partir de apenas R$ 5. Leva menos de um minuto para você mostrar o seu apoio.

Obrigado por fazer parte do nosso compromisso com o jornalismo verdadeiro.

VEJA TAMBÉM

ÚLTIMAS

Diário Mais

Portadores de burnout têm benefícios assegurados pela lei trabalhista

Segundo especialista, mediante avaliação de perícia médica, empregado pode se desligar indiretamente da empresa

Cotidiano

Prêmios da Mega-Sena saem para quase todas as cidades da Baixada; veja onde e valores

O sorteio foi realizado no último sábado (4) e a única cidade que não teve premiados foi Mongaguá

©2024 Diário do Litoral. Todos os Direitos Reservados.

Software

Newsletter