06 de Maio de 2024 • 06:24
Política
O baixo índice de desemprego no ano de 2013 deverá ser utilizado pela presidente como fator acelerador das conquistas sociais trazidas pelos programas de inclusão
O discurso da presidente Dilma Rousseff para vencer o debate eleitoral de 2014 deverá ter um ponto central: a manutenção e alargamento das políticas de inclusão social iniciadas com seu antecessor e padrinho, o ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva. Este é o ponto em que analistas políticos concordam quando questionados sobre a marca dos três anos de gestão da petista. Incluídos nesta bandeira estão o programa Mais Médicos e o Pronatec, a destinação dos royalties do pré-sal para a educação, o aprofundamento do Bolsa Família e do Prouni e, obviamente, o baixíssimo índice de desemprego mesmo com o panorama econômico desfavorável.
A marca das políticas públicas mira a parcela dos eleitores beneficiada pela inclusão social. "Tem uma parcela da população que não vota na Dilma de jeito algum, críticos ao modelo de inclusão. Mas tem a parcela beneficiada que, com o alargamento das políticas, não só vota na Dilma, como tende a ser mantenedor dessa política", avalia o cientista político do Insper Carlos Melo, que acredita que a presidente vai apostar no discurso da "radicalização das políticas públicas".
O cientista político e presidente da Arko Advice Pesquisas, Murillo de Aragão, complementa: "a maior bandeira dela de verdade é uma espécie de continuísmo. Foi um governo de manutenção das conquistas, com ampliação do PAC, do Minha Casa, Minha Vida". "Dilma deve explorar a memória recente da ascensão social, um governo que deu continuidade e aprofundou programas como Bolsa Família e Prouni", disse Rubens Figueiredo, cientista político e especialista em marketing eleitoral da USP.
Figueiredo prevê que Dilma aposte em duas frentes em 2014: o Mais Médicos e o sucesso do leilão do pré-sal, cujos royalties serão destinados para a educação. "Embora ainda não tenha resultados palpáveis, o Mais Médicos tem aprovação da opinião pública. E o pré-sal mexe com o sonho de uma educação de qualidade", disse Figueiredo. O cientista político da USP aponta ainda que a eficiência dos programas pode até ser questionada pela oposição, mas "não dá para ser contra mais médicos, professores mais bem pagos, mais segurança". Aragão, da Arko Advice, lembra que a própria resistência da classe médica ao Mais Médicos, na época de lançamento do programa, acabou convertido em vantagem com o maior impacto do programa.
O Pronatec e o Mais Médicos servirão como exemplos concretos da preocupação social da presidente durante a campanha. Ambos foram lançados sob os olhos de Dilma - o primeiro em 2011 e o último em 2013. Já o Bolsa Família e o Prouni, os dois de 2004 e marcas do governo Lula, tiveram continuidade com a sucessora, que fez questão de mantê-los como prioridade na gestão.
O baixo índice de desemprego no ano de 2013 deverá ser utilizado pela presidente como fator acelerador das conquistas sociais trazidas pelos programas de inclusão. Alberto Carlos Almeida, do Instituto Análise, que atua na área de pesquisa de mercado e opinião pública, aposta que a geração de empregos será a grande bandeira da presidente.
Em discurso veiculado em rede nacional em comemoração ao Dia do Trabalho neste ano, Dilma ressaltou que o emprego e o salário se tornaram os dois "maiores fatores de diminuição da desigualdade" "Mesmo com a importância dos programas sociais, foi a renda do trabalho que mais contribuiu na diminuição da desigualdade", disse a presidente, que emendou afirmando que os programas sociais são importantes para tirar as pessoas da miséria, mas o emprego é determinante para impedir a volta à situação de pobreza e acelerar a ascensão social.
"Existe uma percepção no momento de que há emprego para todos, é só a pessoa querer trabalhar, e o governo é reconhecido por isso", disse Almeida.
As pesquisas de intenção de voto mais recentes mostram que a maioria da população ainda pretende votar na presidente, candidata à reeleição no próximo ano. Na maioria dos cenários analisados, Dilma venceria inclusive no primeiro turno. Mas dois terços dos consultados dizem preferir que o próximo presidente adote medidas diferentes das adotadas por ela. Ela pode continuar, desde que mude de rota. Para especialistas ouvidos, se quiser vencer a resistência do eleitorado que pede mudanças, Dilma terá que fazer também uma campanha prospectiva, para ir além da manutenção e ampliação de velhas conquistas.
Em junho, para mostrar que estava disposta a mudar, Dilma propôs cinco pactos como resposta às manifestações que eclodiram por todo o País. A ideia era promover mudanças nas áreas de responsabilidade fiscal, reforma política, saúde, educação e mobilidade. Para os analistas, contudo, os pactos propostos por Dilma mexem em áreas em que o governo tem menor controle e, portanto, não deverão ser explorados para convencer o eleitor. A proposta de uma constituinte exclusiva para realizar a reforma política, ideia da presidente, por exemplo, caiu. Na mobilidade, por outro lado, os resultados devem demorar a aparecer.
"Na parte de mobilidade, temos como exemplo o caso norte-americano, que só foi resolvido depois de uma década com investimentos enormes. Os europeus fizeram um investimento secular", cita Almeida. "O governo estava pressionado pelos protestos, a resposta é dada, mas depois a vida volta ao normal", resume o analista. Por isso, o foco deve ser outro.
O que deve ser utilizado como marca neste quesito, no entanto, é o esforço para realizar grandes obras de infraestrutura e dinamizar as concessões de aeroportos, portos, ferrovias e rodovias, avalia Murillo de Aragão. "Isso é uma questão que precisamos esperar um pouco a Copa do Mundo para ter certeza que funcionou adequadamente, mas ela será avaliada", aponta.
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