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Artigo - Como reconhecer um bom prefeito

O burocrata não deve cometer a insensatez de crer que o processo de governança obedece às mesmas regras e lógicas de uma campanha eleitoral

Nilton C. Tristão

Publicado em 18/10/2021 às 11:50

Atualizado em 18/10/2021 às 13:46

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O dirigente moderno deve unificar alguns atributos / Nelson Jr/TSE

“Quanto maior é a rapidez de transformação de uma sociedade, mais temporárias são as necessidades individuais. Essas flutuações aceleram o senso de turbilhão da sociedade“ (Alvin Toffler). Segundo David Christian, o autor de “Origens: uma grande história de tudo”, a ascensão da humanidade enquanto coletividades multifacetadas desenrola-se através dos impulsos de momentos de limiares, ou seja, aquelas forças capazes de impor os estágios de progressões em níveis de complexidades e sofisticação continuamente elevados.

Este arquétipo analítico poderá ser usado como ferramental destinado à compreensão das dinâmicas que afetam diretamente a realidade das urbes brasileiras. Isto posto, quais simbolizariam os indícios que desnudam o preparo do chefe do executivo local para conduzir os desígnios de seus representados na direção correta? Para obter essa resposta, precisamos assimilar os ciclos de conversão nas demandas populares que as cidades percorreram nas últimas décadas. Ao longo dos anos de 1980 a 1996, sobressaía-se junto aos moradores o anseio por infraestrutura básica, tais como pavimentação, instalação de guias e sarjetas nos logradouros; de 1997 a 2008, as exigências apontavam para a implantação de equipamentos comunitários por todos os bairros, tais como, postos de saúde, creches, escolas...; após 2009, as cobranças evoluíram para reivindicações por excelência nos serviços ofertados pela municipalidade.

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Contudo, no decorrer do tempo, algumas etapas nunca seriam concluídas, pois apesar da Constituição Federal de 1988 ter instituído o Plano Diretor como instrumento básico à política de desenvolvimento e expansão urbana, no geral, quase nada foi concretizado para barrar o incremento demográfico desordenado e o decorrente esgotamento do ambiente de coabitação interpessoal.

Hoje, esses fatos foram agravados mediante a intensificação dos fenômenos naturais ocasionados pelo aquecimento global e mudanças climáticas – tempestades de areia, chuvas tóxicas, estiagens distendidas, ocorrência de ciclones, efeitos pandêmicos, além de outros eventos extemporâneos. Portanto e doravante, os Prefeitos em exercício, afora cumprirem as funções de zeladores do espaço público e prestadores de atividades essenciais, necessitarão efetivar o papel de gerentes de crises, mitigadores da deterioração nas condições de penúria, indutores de crescimento econômico e fundadores de intervenções estruturantes.

Em síntese, as posturas administrativas baseadas em realizações pontuais e desconectadas de um planejamento amplo e estruturado serão traduzidas como meras manifestações de populismo latente que tendem ao agravamento das circunstâncias descritas. Nesse contexto, as redes sociais representam um excelente metrificador para diagnosticar tal comportamento; resumidamente, basta observar se a narrativa oficial detém superlativos com grandiosidade acima da própria relevância das conquistas apresentadas.

O burocrata não deve cometer a insensatez de crer que o processo de governança obedece às mesmas regras e lógicas de uma campanha eleitoral, já que esta diz respeito à edificação de horizontes a partir de novas expectativas, enquanto aquele significa a delimitação clara e inequívoca das renovações que serão entregues ao final dos quatro anos de delegação.

Então, o dirigente moderno deve unificar os seguintes atributos: 1) disposição para abandonar o voluntarismo e a demagogia como prática política; 2) capacidade para montar equipe técnica provida com o entendimento dos verdadeiros desafios; 3) não utilizar a comunicação institucional na qualidade de um fim em si mesmo; 4) assumir o compromisso de melhorar a vida das pessoas por intermédio de experiências duradouras e eficazes.

Nilton C. Tristão
Cientista Político

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