26 de Abril de 2024 • 02:28
Francisco Marcelino, jornalista, escritor e professor / DIVULGAÇÃO
Por Francisco Marcelino
Há duas semanas comecei a dar aula de português numa escola pública aqui na França. Português é uma das opções de línguas estrangeiras que os alunos da sexta, sétima e oitava séries têm. A maior parte dos alunos é de filhos ou netos de portugueses. Na região de Clermont-Ferrand, onde moro, há muitos portugueses e descendentes de portugueses.
Aula em tempo de pandemia me fez constatar algumas coisas. A primeira constatação é que o período de confinamento foi um desastre para alguns alunos. Eles não fizeram nada durante a quarentena e querem continuar a levar a vida assim: sem lição de casa, prova, sem precisar prestar atenção no professor. E, claro, acabam atrapalhando quem quer recuperar o tempo perdido. O longo período longe da escola tampouco ajudou esse outro grupo, dos alunos interessados: perderam vocabulário e já não se lembram mais como conjugar os verbos mais importantes, entre outras coisas.
A convivência familiar forçada também deixou marcas. Alguns alunos sofreram violência doméstica. Há relatos de casos graves. Nada justifica a violência, ainda mais se pensarmos no trauma que essas crianças carregarão pela vida, mas pode-se ao menos saber as causas: o estresse financeiro advindo da perda do emprego; o medo do desconhecido; e porque muitos pais se viram obrigados a ficar em casa com os pequenos, coisa que nunca haviam feito antes.
E a máscara? É uma solução sanitária e um problema pedagógico. Com a máscara, muitas vezes, é impossível entender a voz daquele (a) aluno (a) tímido (a). Numa aula de línguas, também é importante ver o movimento da boca do interlocutor, o que se torna impossível com as máscaras. Como um professor de inglês demonstra a pronúncia de “the” com uma máscara tapando a sua boca? Além disso, as máscaras me trouxeram dois problemas disciplinares. O primeiro é ter que chamar a atenção dos alunos o tempo inteiro para colocarem a máscara de volta, para tampar o nariz, e não apenas a boca. São crianças de 12 a 14 anos. O segundo é que os alunos sabem que a máscara não deixa o professor identificar bem quem está falando. Claro que podemos sempre distinguir suas vozes.
Voltar ou não às aulas é uma equação difícil. De um lado, pesam questões como as perdas pedagógicas causadas pelo fechamento das escolas, a importância da merenda escolar em muitos lares (franceses ou brasileiros) ou o ambiente doméstico estressante ao qual o aluno é submetido. Do outro, pesa o risco sanitário. Quanto a isso, dá para dizer que, na sala de professores, a cada dia ouço mais relatos de docentes da nossa escola que foram contaminados pelo novo coronavírus. Com os alunos não é diferente, pois, magicamente, ao passarem pelo portão da escola, suas máscaras desaparecem do rosto.
É a segunda onda.
Francisco Marcelino, jornalista, escritor e professor
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