03 de Maio de 2024 • 23:58
A análise dos genomas dos vírus é fator comum entre os quatro casos de reinfecções / Freepik
O Brasil pode ter seu primeiro caso de reinfecção pelo novo coronavírus confirmado -um estudo sobre o caso será submetido à revista científica The Lancet Infectious Diseases. Ao mesmo tempo, pesquisadores brasileiros investigam ao menos 95 suspeitas de reinfecção pelo novo coronavírus em quatro estados.
O descarte de exames, no entanto, dificulta o trabalho. Sem as amostras, os cientistas não conseguem sequenciar os genomas dos vírus que podem ter infectado os pacientes para confirmar que se trata de duas infecções distintas, o que é considerado essencial por periódicos científicos internacionais como a Lancet.
A paciente do caso que será submetido à avaliação da revista é uma técnica de enfermagem de 40 anos de Aracaju, segundo o médico Roque de Almeida, doutor em imunologia e chefe do laboratório de biologia molecular do Hospital Universitário de Sergipe.
Ela fez dois exames RT-PCR (considerando o padrão ouro para verificar a infecção aguda pelo coronavírus) com resultado positivo para o Sars-CoV-2 no intervalo de 54 dias, entre maio e julho. Teve tosse seca e falta de ar, mas não precisou ser hospitalizada.
Os exames dela foram preservados e as amostras genéticas, coletadas a partir de secreção de garganta e nariz, foram sequenciadas pelo virologista Gubio Santos.
Os genomas obtidos foram analisados pelos professores de biologia molecular Luís Pacheco e Eric Aguiar, da UFBA (Universidade Federal da Bahia). Aguiar afirma que o vírus da segunda infecção era de linhagem diferente e havia sofrido seis mutações. Detalhes foram enviados à Lancet com exclusividade.
A análise dos genomas dos vírus é fator comum entre os quatro casos de reinfecções confirmados pela Lancet -na Bélgica, na China, no Equador e nos Estados Unidos.
Contudo, dos outros 95 casos de possível reinfecção que são analisados o por pesquisadores brasileiros consultados pela Folha, só 14 tiveram amostras genéticas recuperadas.
Três estão no HC (Hospital das Clínicas) da USP em São Paulo e outras três no HC da USP de Ribeirão Preto. O hospital da capital já sequenciou suas amostras e constatou que os vírus são iguais; a unidade do interior ainda trabalha nas suas.
A Unicamp (Universidade de Campinas) investiga oito suspeitas, todas com amostras. A instituição guardou todos os exames desde o início da pandemia e não considera um caso suspeito sem ter o material.
Um grupo de Fortaleza acompanha 12 pacientes possivelmente reinfectados, mas ainda não obteve as amostras. Em Recife, há outros dois, também sem os exames.
Os pesquisadores afirmam que recuperar as amostras é difícil porque alguns laboratórios as descartam. Isso ocorreu principalmente com exames do início da pandemia, quando não se pensava em reinfecção.
Não há consenso na comunidade científica sobre o que provoca as reinfecções. Alguns pesquisadores apostam que sejam linhagens diferentes do vírus; outros, que se trata de falhas na resposta imune dos pacientes.
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