26 de Abril de 2024 • 12:49
A possível candidatura de Doria à Presidência em 2018 ainda é motivo de controvérsia / Divulgação/Secom SP
O impacto da Lava Jato sobre os principais nomes do PSDB levou uma ala da cúpula tucana a planejar uma "refundação" do partido, em um movimento para recuperar sua imagem até a eleição de 2018 e fazer frente à ascensão de candidatos vinculados à antipolítica, como o deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ).
Parte do comando da sigla –inclusive nomes ligados a Aécio Neves, presidente do partido– passou a defender que o PSDB reconheça "erros", em especial no financiamento de campanhas, e reforce compromissos éticos e bandeiras liberais.
Nas últimas semanas, dois tucanos procuraram Fernando Henrique Cardoso para discutir o assunto. O ex-presidente, segundo esses aliados, se mostrou favorável à estratégia de "retorno às origens éticas e ideológicas".
Para esse grupo, o PSDB foi gravemente ferido pelas suspeitas lançadas contra seus quadros na Operação Lava Jato por ter portado, desde o escândalo do mensalão, um forte discurso ético contra o PT.
Esses tucanos avaliam ter perdido um eleitorado cativo, que só pode ser recuperado com o reconhecimento de erros e uma defesa enfática do combate à corrupção.
Parte dos dirigentes da sigla quer colocar o plano em marcha no segundo semestre deste ano, a tempo de amenizar o desgaste da legenda rumo às eleições de 2018.
A articulação não é consenso na cúpula do partido. Outros tucanos próximos a Aécio e o grupo do governador paulista, Geraldo Alckmin, resistem em apoiar movimentos drásticos de renovação por temerem perder espaço na estrutura partidária.
Esses grupos defendem um movimento mais brando, em que o partido defenda seus líderes e a política, e resgate sua história, como a implantação do Plano Real, para se apresentar como uma "opção viável" para a superação de crises políticas e econômicas.
"O PSDB não tem que se envergonhar de nada. Tem que se orgulhar do que já fez pelo país, mas tem sempre que se atualizar, com posturas mais claras e transparentes", afirma o governador do Paraná, Beto Richa.
A aposta na política tradicional como alternativa é uma tentativa de reposicionamento diante do crescimento de nomes considerados "forasteiros", como Bolsonaro, nas últimas pesquisas eleitorais.
Presidente da sigla, Aécio diz que o PSDB vai recuperar esse eleitorado. "É natural que muitos eleitores flertem com outras candidaturas. No momento do voto definitivo, eles vão votar no caminho seguro, do aprofundamento das reformas e da experiência na gestão, que é o PSDB."
Perfil Doria
O movimento de parte da cúpula tucana foi precipitado por pesquisas internas levadas há cerca de um mês ao comando da sigla.
Elas mostraram que a crise política desencadeada pelas revelações da Lava Jato e o apoio da sigla ao governo Michel Temer distanciaram o partido de seus eleitores.
O cenário, de acordo com essas sondagens, prejudicou partidos tradicionais, rachou o eleitorado classificado como "antipetista" e, nesse grupo, favoreceu a ascensão de candidatos menos identificados com a política.
Os slides apresentados aos tucanos diziam que os eleitores rejeitam a maior parte dos políticos, que consideram elitistas, com discursos vazios.
Passaram a buscar alguém que "tenha lado" e "fale o que pensa". Ao fim da apresentação, uma foto do prefeito paulistano João Doria apareceu no telão como exemplo.
A possível candidatura de Doria à Presidência em 2018 ainda é motivo de controvérsia na cúpula do PSDB, especialmente nos entornos de Aécio e Alckmin, mas ganhou terreno em grupos que identificam a apresentação de um nome "novo" como a melhor alternativa para o partido superar sua crise de imagem.
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