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Política

“Cubatão não tem problema de dinheiro, mas de gestão”

A vereadora Márcia Rosa de Mendonça Silva, do PT, é pré-candidata à Prefeitura de Cubatão

Publicado em 03/03/2013 às 01:10

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A vereadora da Câmara de Cubatão, Márcia Rosa de Mendonça Silva, está em seu segundo mandato legislativo pelo Partido dos Trabalhadores (PT), e é pré-candidata ao cargo de chefe do Executivo Municipal. No último domingo, Márcia Rosa foi eleita com 72,20% dos votos à presidência do Diretório do PT de Cubatão para o biênio 2008/2009. Ela é a primeira mulher a assumir o cargo majoritário no diretório do partido, em Cubatão.

Márcia Rosa é pedagoga e pós-graduada em Direito Educacional e Química. Atualmente leciona Química, Ciências e Matemática na Escola João Ramalho, da rede pública de ensino.  Em entrevista ao DL, a vereadora faz uma avaliação do Governo Clermont, da baixa escolaridade de uma parcela da população economicamente ativa da Cidade, e da disputa às eleições de 2008.

DL – Por que você optou por concorrer à Prefeitura no próximo ano?
Márcia Rosa
– Nunca foi uma decisão pessoal. Desde 1996, o partido já tinha uma indicação para que eu disputasse as eleições majoritárias em Cubatão. Estou dentro de um projeto político que o partido defende há anos em Cubatão que é administrar essa cidade voltada para a área social.

DL – Qual a representatividade do PT na cidade que tem em seu histórico político o rodízio entre os ex-prefeitos Nei Serra e José Osvaldo Passarelli, durante 25 anos, no comando do Município. Período este que encerrou com a eleição do então prefeito Clermont Silveira Castor?
Márcia Rosa
– O PT sempre foi um partido muito forte na cidade. Tanto que Lula teve o segundo maior percentual de votos do Estado, em Cubatão, apesar de durante 25 anos haver rodízio apenas o Nei e o Passarelli — que foram interventores políticos e eleitos democraticamente. Com o nome do atual prefeito Clermont quebrou-se o rodízio, mas não o projeto e a história. Os grupos tanto do Nei quanto do Passarelli ainda fazem parte do comando da Cidade. Mas, quando a gente pensa em disputar a prefeitura, o que a gente quer é que haja um projeto diferente para Cubatão.

DL – Qual o maior desafio na Cidade, hoje?
Márcia Rosa
– Cubatão é vista como uma cidade de perfil industrial. E nós sabemos que com a alta tecnologia, a indústria emprega cada vez menos, mas mão-de-obra qualificada. Houve um crescimento econômico muito grande. Cubatão tem o maior PIB da Baixada Santista, só que todo esse crescimento não se reverteu como qualidade de vida para o povo da Cidade. O censo realizado pelo atual prefeito, na primeira legislatura, constatou que nós tínhamos 8 mil analfabetos, 23 mil semiescolarizados — pessoas que não tem nem três anos de escolaridade — e que a maior parte dessas pessoas, mais de 60%, moram em áreas de mangue e serra. Desses semiescolarizados, tirando idosos e crianças, temos aí metade da população economicamente ativa, ou seja, essa metade está fora do mercado competitivo por falta de escolaridade. Então a educação e a qualificação para o mercado de trabalho tem que ser prioridade em Cubatão. O maior desafio que a gente tem é dar escolaridade mínima para essa população. Nosso IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) é o pior da Baixada. É inadmissível o que a Secretaria de Educação está fazendo agora, fechando cursos noturnos (Educação de Jovens e Adultos-EJA) nas escolas Rui Barbosa (Ilha Caraguatá) e João Ramalho (Centro).

DL – Se a indústria emprega cada vez menos, qual seria a saída para empregar a mão-de-obra da Cidade?
Márcia Rosa
– A gente precisa discutir, materializar uma outra vertente vocacional do ponto de vista da empregabilidade. A indústria hoje não emprega como empregava nas décadas de 50, 60 e 70. Precisamos valorizar o comércio local, o setor de prestação de serviços. Criar mecanismos de inserção no mercado de trabalho dessa população da Cidade que está na periferia, no subemprego e que tem baixa escolaridade. O caminho para melhorar a qualidade de vida é  garantir a empregabilidade neste setor para que as pessoas possam se qualificar e serem absorvidas pelo mercado de trabalho.   

DL – Além da baixa escolaridade, que outros problemas a Cidade enfrenta?
Márcia Rosa
– Vou falar dos problemas que nós não temos. É mais fácil. Não temos problema de dinheiro, temos um orçamento invejável por mais de 5 mil municípios desse país, nossa renda per capta é oito vezes maior do que a de São Vicente. O que nós não temos é problema de dinheiro, nós temos é problema de gestão, de administração, gastos sem planejamento.

DL – Como você avalia o governo Clermont?
Márcia Rosa
– O governo Clermont é um governo que não governa. Não tem planejamento, apesar do “gorduroso” orçamento. Ele (prefeito) faz o orçamento manda para a Câmara e durante o ano ele altera totalmente o orçamento que era uma previsão de gastos. Acho que quando você tem uma administração que sabe dos problemas da Cidade, e que tem propostas para resolver esses problemas, não vai ficar o tempo inteiro desvirtuando os recursos orçamentários. Cubatão não tem um cinema, o maior parque da Cidade (Anilinas) está fechado desde 6 de novembro de 2006. As praças estão abandonadas, o Teatro Municipal está fechado, o matagal na Cidade cresce. Com o orçamento municipal que nós temos, não justifica esse estado de abandono, de miséria.

DL – Como está a saúde hoje no Município?
Márcia Rosa
– Falta médico na rede de saúde. Só tem um neurologista que já não agüenta mais. Ele chega lá, tem um tempo para consultar 15 pessoas, mas tem 90 para atender. Falta otorrinolaringologista e hematologista. Eu apresentei requerimento na Câmara pedindo explicações sobre a falta de médicos. O Município entregou a administração do hospital Luiz Camargo da Fonseca e Silva (antigo Hospital Modelo) à Pró-Saúde, que recebe cerca de R$ 24 milhões para isso. Os médicos especialistas que prestavam serviço no hospital não estão mais prestando. Eles são contratados pelo Município, não foram demitidos. Eles se demitiram? E eu tenho informação (não oficial) que Cubatão tem cerca de 640 médicos, o que corresponde a oito vezes mais do que o padrão mínimo exigido pelo SUS por habitante. Cubatão, segundo o último censo do IBGE, tem 119 mil habitantes.

DL – O PT já está trabalhando na formação das coligações para as eleições municipais?
Márcia Rosa
– Nós sabemos que não se ganha eleição sozinho. É preciso buscar alianças com as forças progressistas da Cidade, comprometidas em governar. Temos conversado com todos os partidos, como acontece em todo o Brasil. Estamos abertos a conversar com todas as lideranças que desejam governar Cubatão para o cubatense. Porque hoje parece que a Cidade não saiu do período colonial. O pessoal vem de fora governar a Cidade. O mínimo que o prefeito tem que fazer, é morar na Cidade, o que não acontece. Cubatão cansou de ser colônia e quer governante e secretários morando na Cidade para que haja a aproximação com a comunidade.

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