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Cotidiano

“O Senado é mais submisso aos interesses do Executivo”

A afirmação é do deputado federal Roberto Freire, que visitou o Diário do Litoral na última semana, quando cumpria agenda em Santos

Publicado em 01/06/2014 às 11:04

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Um dos deputados mais críticos ao Governo Federal, Roberto Freire (PPS) cumpriu agenda em Santos, visitou o Diário do Litoral e fez críticas à “incapacidade do governo” na gestão e execução das obras da Copa do Mundo. Ainda segundo ele, independentemente do resultado dentro de campo, o Brasil já perdeu a Copa.

O parlamentar afirmou que a CPI do Senado é “chapa branca” e que não se propõe a investigar “coisa nenhuma”. Ao DL, o deputado citou o projeto de regulamentação da mídia desenvolvido pelo PT que, na opinião dele, visa controlar a Imprensa, sendo um abuso à “liberdade de Imprensa e à liberdade democrática”.

Diário do Litoral - Recentemente, o senhor disse que a ‘Copa das Copas’ virou pesadelo. O Brasil foi o país que mais teve tempo para se preparar para Copa, e a 11 dias há ainda estruturas que não estão prontas. O que o senhor argumenta a respeito dessa afirmação?

Roberto Freire - O pesadelo é justamente isso. Se a gente lembrar, quando Lula anunciou que iríamos sediar a Copa e as Olimpiadas, que foi quase concomitantemente, ele tentou transformar e transformou em um grande gesto do governo. O Brasil parecia ser um herói mundial que tinha trazido a Copa. E conseguiu despertar isso, e inclusive foi elemento de campanha política do Governo, em 2010. Então, foi criada toda uma parafernália de propaganda em cima disso, como se o Brasil fosse uma potência mundial, e tudo do Governo Lula foi uma vitória do PT. E aquilo que tinha sido anunciado para trazer o evento esportivo, e que aquilo ia representar um avanço, e ainda nem se falava em modalidade urbana.

DL - Mas eles prometeram a mobilidade urbana...

Freire - Mas eles prometeram de tudo. Disseram que iam urbanizar, transporte moderno e o Lula hoje diz que isso é coisa de babaca e que se pode ir a pé ao estádio. Hoje não ter o metrô, porque ele não foi construído em quase nenhuma cidade é de babaca, mas se tivesse sido construído era um legado de Lula. Todo esse clima de euforia e tudo mais, ao aproximar-se da Copa, ano passado, as pessoas começaram a descobrir que não estavam fazendo o que prometeram. As obras estão atrasadas, várias denúncias de corrupção nas construções dessas sedes.

O Lula prometeu que não haveria gastos públicos, e os gastos públicos estão sendo feitos. E tudo isso, além do clima de insatisfação com o ponto de certa crise econômica e um repique inflacionário, explodem nas jornadas de julho. E com a Copa das Confederações, aquilo surgiu quase como um aglutinador, e a Copa passou a ser algo que não era mais uma festa. Começava a ser um atropelo do governo e está virando um pesadelo. Torço para o Brasil ganhar a Copa, mas a Copa a gente já perdeu. No futebol, pode até ganhar. Mas a Copa é um desastre.

DL - Podemos dizer que perdemos uma oportunidade de crescimento econômico?

Freire - A questão para mim não é essa. A questão é que o mundo fica olhando para o Brasil pela incapacidade do Brasil de sediar uma Copa, porque as obras não estão prontas. As obras que eu digo, por exemplo, são os estádios que não estão prontos porque ainda estão fazendo testes. A 11 dias da Copa ainda estão discutindo se faz teste ou não. Eu não estou falando das obras complementares de mobilidade urbana, urbanização, melhoria das cidades, atendimento. Então, o que é que está se passando para o mundo? Junta a insatisfação e as manifestações e para o mundo passa que nós fomos incapazes de fazer uma Copa do Mundo, e construir efetivamente uma estrutura para realização da Copa. E o pesadelo está aí, porque o governo está vivendo um pesadelo enquanto pensava que seria uma festa. Agora é uma derrota.

DL - Como o senhor vê a CPI do Senado, na qual dos 13 membros, 10 são da base do governo?

Freire -
A CPI do Senado não é uma CPI. É um mecanismo de desvio e de pastelamento da investigação dos escândalos da Petrobras. Aquilo ali não é para funcionar. É até desmoralizante o chamado depoimento do Sérgio Gabrielli. Ele foi para lá para dar a versão que interessa ao governo, e trataram ele não como alguém que sobre ele pese no mínimo decisões equivocadas. Não. Foi tratado como se fosse um grande administrador, e todo mundo hoje desconfia da gestão temerária que lá ocorreu. Aquela CPI que foi instalada no Senado não está nem tendo participação das oposições. Aquilo é uma “chapa branca” do governo. Desmoraliza até o Congresso Nacional, e o Senado especificamente. A CPI mista pode vir a ser um instrumento de investigação? Pode! Pode, porque o governo não está querendo investigar coisa nenhuma. O governo pode ter o controle desta CPI, mas será menos que no Senado. Será mais difícil o governo controlar, porque com a presença da Câmara, a própria base de sustentação do governo na Câmara tem uma maior independência do que a do Senado. O Senado é mais submisso aos interesses do Executivo. Na Câmara, o PMDB tem um nível de independência maior. O PMDB é a grande força política junto com o PT em uma CPI, em termos numéricos. Se o PMDB tiver uma posição de independência, a gente pode ter uma CPI que possa investigar algutentou ma coisa.

DL - E o senhor acredita que o PMDB vá agir com independência?

Freire -
Acreditar, eu acredito sempre, senão não precisa lutar (risos). Pode até não acontecer, mas estamos lá e com algumas indicações de parlamentares sérios do PMDB pode acontecer algo. Digo isso porque na CPI dos Correios o governo tinha ampla maioria, e de qualquer forma gerou o processo do mensalão no STF.

Parlamentar lamenta a saída do ministro Joaquim Barbosa do STF (Foto: Luiz Torres/DL)

DL - E a oposição como irá proceder nas investigações da CPMI?

Freire -
A instalação da CPI mista é muito importante, mas o governo ainda tem o controle dela. O que temos que fazer agora é a mobilização da opinião pública através da Imprensa. Para a CPI funcionar, há que se constranger os parlamentares da base aliada do governo, exigindo que eles permitam e participem das investigações, é importante que o governo tenha sensibilidade e enxergue que a investigação é boa para a Petrobras e para o Brasil.

DL - O senhor acredita que uma ampla investigação pode influenciar nos resultados da eleição?

Freire -
Não sei se necessariamente você vai ter o final dos trabalhos até a eleição. Não vai. Independente da CPI você está tendo a imprensa noticiando novos escândalos, esclarecendo mais algumas implicações dos personagens e suas contradições. A própria Imprensa vai cuidar disso, para não acabar. Até porque todo dia surgem novas denúncias e fatos. É um pouco fugir de algo necessário para a Petrobras e para o Brasil. Independente de ter eleição, o importante é a Petrobras.

DL - Recentemente, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse que não estava segurando os preços para manter a taxa da inflação. Depois, o ministro da Casa Civil, Aloízio Mercadante, falou que o governo estava. Como o senhor viu esse desencontro de informação?

Freire -
Foi um bate cabeça entre os ministros. É um sinal de um governo desmantelado e batendo cabeça em algo tão fundamental para a política econômica, inclusive dos preços administrados. Vem um e diz que administra os preços em função do processo inflacionário, e vem o ministro da Fazenda (Mantega), quem devia ter a maior credibilidade, e diz que não faz isso (segurar os preços), e na prática nós estamos vendo que foi feito. E isso foi feito nas jornadas de julho, que o governo foi obrigado a segurar o valor das passagens e controlar a inflação, porque é um preço administrado. Na energia, não teve condições de segurar porque o governo fez tanta coisa errada que nem manter a promessa que Dilma ia diminuir a conta de luz, ela teve condições de segurar. E vai aumentar mais no próximo ano. E tudo isso pelo desmantelo e má condução entre as autoridades do governo.

DL - Como o senhor analisa a última pesquisa do Ibope, na qual Dilma voltou ao patamar dos 40% e a oposição cresceu?

Freire -
A Dilma recuperou o que ela tinha perdido.

DL - E porque essa pesquisa espantou o ‘Volta, Lula’ como o senhor escreveu em artigo recente?

Freire -
Se a Dilma continuasse caindo no Ibope o que vinha caindo no Datafolha, e é preciso não misturar os institutos que usam metodologias diferentes, ela ia ser candidata a ir para casa. Não ia ser candidata à coisa alguma, porque não ia ter como manter. Essa recuperação dela consolida um pouco a sua candidatura e espanta o fantasma que estava assolando a Dilma, que é o “volta, Lula”. O PT está tão desencontrado que já tem os “dilmistas” contra os “lulistas”, e os “dilmistas” estão aninados com essa pesquisa porque o Lula quando é colocado contra a oposição, ele tem quase que o mesmo percentual de votos que a Dilma. Ou seja, ele não representa mais muita coisa de diferente. Ele foi contaminado pelo desgaste do governo. O mais importante dessa pesquisa é o crescimento dos candidatos da oposição.

DL - E quanto ao Eduardo Camos?

Freire -
O Eduardo quase dobrou na sua intenção de voto. Esse é um dado importante. Ele tinha 6% e passou para 11%. O crescimento do Aécio também foi grande: saiu de 14 e foi para 20%.

DL - Quanto à regulamentação da Imprensa, que o PT pretende aprovar, qual sua avaliação?

Freire -
Não é um governo, nem um partido que presa pela democracia. Vocês da Imprensa são alvo permanente de desrespeito que o ex-presidente da República trata as instituições, considerando a Imprensa brasileira uma adversária, uma oponente, com uma ideia de regulamentar que na prática significa tentar controlar. E isso é um atentado à liberdade de Imprensa e à liberdade democrática.

DL - O que perde o Supremo com a saída do ministro Joaquim Barbosa?

Freire -
Lamentamos a saída dele porque gera uma perda ao STF e ao Brasil. Foi uma decisão pessoal e só nos cabe lamentar. Espero que o governo indique alguém idôneo e combativo na sua função, como Joaquim Barbosa fez.

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