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Cotidiano

Malú realiza sonho de ser margarida nas ruas de Santos

Maria Lúcia Cordeiro, de 58 anos, ficou conhecida por expor a vontade de limpar as ruas da Cidade

Carlos Ratton

Publicado em 30/07/2020 às 07:00

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Malú ao lado da companheira Regina Farias, que também tem orgulho de limpar as ruas e colaborar com a saúde pública / Nair Bueno/DL

Ontem, 29 de julho, foi especial para Maria Lúcia Cordeiro, de 58 anos. Ela assinou o contrato de experiência na Terracom - empresa responsável pela limpeza urbana de Santos - e começou, às 6 horas, a varrer as ruas do bairro do Marapé. Seria uma história comum, de uma trabalhadora que conseguiu um emprego, se não fosse por um detalhe: Malú ficou conhecida por expor, numa reportagem do Diário, veiculada no dia 20 de junho passado, o sonho de ser margarida e passar os dias limpando as ruas da Cidade.

A história de Malú deu bastante repercussão nas redes sociais. Muitas pessoas proferiram incentivos virtuais e se comoveram com o sonho simples, gerado por sua verdadeira obsessão por limpeza e admiração pelo trabalho das mulheres que, debaixo de sol e chuva, se empenham em deixar a cidade limpa. "Meu sonho é ser varredora", disse.

Ontem, uniformizada, com os equipamentos em mãos e acompanhada de mais três trabalhadoras, Malú era sinônimo de alegria. "Estou imensamente feliz. É um trabalho cansativo, mas estou ótima. Eu nem acreditei quando a empresa me chamou. Perdi o sono tamanha ansiedade e preocupada em não perder o horário. Muita gente não consegue realizar um sonho e eu realizei o meu", disse Malú, que é formada em Processos Gerenciais. Ela vai continuar trabalhando com faxina depois do expediente das ruas.

Malú chegou cedo. Conheceu as colegas que fazem parte de sua equipe, recebeu o uniforme amarelo, material de trabalho, equipamentos de proteção individual (EPI´s) e orientações. "Com o tempo ela pega o jeito. Por enquanto, ela não fez nenhuma pergunta e está gostando. Eu trabalho há oito anos nas ruas e gosto do que faço, principalmente de ensinar as novatas. O que dá mais trabalho é recolher ingá e cuca que caem das árvores, pois pesam muito. Mas o acolhimento das pessoas compensa", afirma a colega Regina Rosa Farias.

A fiscal de Varrição, Jessica Novaes, que também é universitária, reforça a importância do trabalho das margaridas para a saúde pública. "Imagina a quantidade de sujeira, ratos e baratas se não fosse o nosso trabalho. Às vezes, encontramos restos de material de construção dentro das lixeiras e isso dificulta nosso trabalho, pois rasga o saco e, quando não, pesa muito. Também temos que tomar cuidado com material cortante", afirma.

Momento crítico

A história de Malú, em tempos de pandemia, é mais do que a simples realização de um sonho, reflete a força de trabalho aliada à preservação de vidas. O isolamento social e a prática do trabalho em casa aumentaram o volume de lixo no Brasil entre 15 e 25%, segundo divulgado pela Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe).

A coleta de lixo figura como serviço considerado essencial e que não pode parar pela importância à saúde humana e ao meio ambiente. Segundo a Abrelpe, os coletores e coletoras contribuem para a prevenção da transmissão do coronavírus. Se não houver um trabalho efetivo nessa área, a imunidade e a saúde das pessoas ficariam comprometidas.

Não é fácil

Não importa o tempo. A rotina das trabalhadoras da varrição urbana começa cedo. O serviço é imprescindível, assim como a dos homens que tiram das ruas o lixo urbano. Uniformizadas, com vassouras, carrinhos e sacos plásticos, muitas vezes amarrados à cintura, 220 varredoras percorrem as ruas de Santos diariamente.

Não tem quem não perceba a educação e a vaidade dessas batalhadoras. E não poderia ser diferente. Como todas as mulheres, elas são multifacetárias - executam várias funções ao mesmo tempo. Portanto, apesar do trabalho braçal, arrumam um tempo para a maquiagem e outros afazeres.

Com certeza, cansaço não faz parte do vocabulário das trabalhadoras. Segundo a Terracom, as margaridas trabalham em três turnos distintos, de segunda à sábado. Elas ganham o piso da categoria, acrescido de todos os adicionais legais e recebem todos os benefícios decorrentes da Convenção Coletiva de Trabalho (CLT).

Para conseguir uma vaga, conforme almejava Malu, é necessário ter o Primeiro Grau completo. Atendendo ao critério, o candidato deve enviar currículo através do site da empresa (www.terracom.com.br) ou entregar pessoalmente em uma das unidades de negócios.

Energia e vontade

De acordo com o coordenador de RH da Terracom, Neri Bombonato, a oportunidade ocorreu por uma feliz coincidência. "Surgiu uma necessidade da empresa, ao passo que soubemos da reportagem. Como tínhamos que fazer uma contratação, resolvemos chamá-la para uma conversa e, na ocasião, ela demonstrou muita energia e vontade em fazer parte da nossa equipe de varrição".

Neri explica que será um contrato temporário, procedimento rotineiro na empresa. Maria Lúcia ocupa uma vaga que surgiu em virtude de reestruturação da equipe, devido a um afastamento por licença maternidade. "Levamos em conta a garra que ela demonstrou, pois a função não é tarefa fácil. Ela terá tempo para se adaptar e, quem sabe, ser efetivada", finaliza.

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