A luta diária de Bruno Souto para estudar

Estudante é o segundo em Praia Grande que reivindica transporte adaptado. Prefeitura de Praia Grande diz que é responsável, apenas, por arcar com a educação básica

8 FEV 2014 • POR • 02h32

O estudante de Análise e Desenvolvimento de Sistemas Bruno do Carmo Souto tem 22 anos, mora em Praia Grande, pega três conduções por dia para ir e três para voltar da Faculdade de Tecnologia (Fatec), em Santos. Ele sai de casa às 17 horas, estuda e só chega em casa à meia noite. Nada diferente de dezenas de outros jovens que estão à procura de um futuro melhor. O problema é que Bruno é paraplégico e a trajetória diária via transporte público vem sendo um verdadeiro martírio.

“É um ônibus da minha casa ao terminal. Outro do terminal à praia do José Menino (Santos) e o terceiro até a Fatec, na Ponta da Praia. Subindo e descendo de cadeira de rodas. São três horas de solavancos. Para quem lesionou três vértebras, as dores incomodam”, afirma.

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Bruno possui uma haste de metal na coluna e toda a trepidação do ônibus acaba impactando a região. “Eu tenho que fazer alongamento dentro do ônibus, durante a aula e em casa. Isso acaba com a gente. Vivo passando anti-inflamatório. A dor faz com que eu perca um pouco a concentração nos estudos”, relata.

Bruno recebe cerca de R$ 900,00 do Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS) em função de sua condição física. Porém, gasta o mesmo valor com fisioterapia. A complementação vem da família. “Eu gostaria muito que existisse, em Praia Grande, um transporte gratuito e próprio para pessoas como eu e o Jackson Paula (ver nesta matéria), que acabou ficando meu amigo em função do problema em comum. Acredito que para ele deve ser ainda pior”, afirma.

Bruno garante que, por inúmeras vezes, perdeu aulas porque os elevadores dos ônibus públicos estão quebrados. “Já tentei pegar três ônibus seguidos e todos estavam com as plataformas de embarque quebradas”.

Disse também que já enviou e-mails para a Prefeitura explicando o problema, mas não obteve retorno. “Eu não vou desistir. Mesmo com dores, vou me formar, porque essa profissão me dará mais oportunidades e conforto no trabalho”, finaliza Bruno, que é formado em logística.

Prefeitura

A Prefeitura de Praia Grande respondeu que, assim como no caso do Jackson, a responsabilidade da Secretaria de Educação (Seduc) é com educação básica, dentro deste contexto, a Seduc atende alunos das escolas municipais de Educação Infantil e Ensino Fundamental.

Com isso, a educação de Ensino Superior não pertence a este âmbito. Entretanto, a Secretaria de Educação ainda oferece bolsa transporte para universitários, porém, em transporte coletivo, onde toda a frota municipal é adaptada para cadeirantes e parte da intermunicipal também é adaptada.

Jackson dá início à petição pública pelo transporte

O Diário do Litoral (DL) vem publicando o drama do também morador de Praia Grande Jackson Paula. Ele luta para conseguir transporte para levá-lo diariamente à Faculdade de Direito, em Santos. As aulas começam na próxima segunda-feira (10).

Jackson sofre atrofia muscular espinhal, o que lhe permite apenas os movimentos faciais, pescoço e mão esquerda. Ele não se conforma, porque a Prefeitura oferece transporte gratuito para alunos sem deficiência que estudam em outras cidades. Ele acredita que o direito deveria ser para todos.

“A Prefeitura alega que não tem obrigação nenhuma e muito menos recursos para atender a minha necessidade, pois a Constituição só a obriga a atender os ensinos fundamental e médio. Alega que a educação superior é de responsabilidade apenas do Governo Federal. Por que então esta preocupação e benefícios para alunos que podem andar sem qualquer dificuldade? Isto não é muito incoerente?”, disse recentemente.

Na última quinta-feira, Jackson iniciou, por intermédio das redes sociais, uma petição pública, que já se encontra com mais de 300 assinaturas, onde pede amparo ao prefeito Mourão e ao próprio governador Geraldo Alckmin (PSDB).