Endinheirados: Natureza mostra seu domínio em Guarujá

Mansões “pé na areia” da Praia de Pernambuco perdem muros atingidos por ondas, devido a forte ressaca que vem atingindo a região

30 OUT 2013 • POR • 21h02

A forte ressaca que vem atingindo as praias da região, especialmente as de Guarujá nos últimos dias, atingiu ontem os muros de concreto de pelo menos seis mansões localizadas na Praia de Pernambuco, destruindo parte dos equipamentos que, por sinal, vem sendo alvo do Projeto Orla, da Prefeitura, que visa regularizar uma situação que há anos perdura no município: o uso de espaços públicos como se fossem particulares.

A força da natureza acabou acelerando um processo que visa reduzir as áreas externas das mansões, concebidas após ocupação irregular de terrenos da União e que estão registradas pela Prefeitura como áreas verdes e de domínio público. Conforme o Projeto Orla, os proprietários terão que recuar 25 metros seus imóveis frente ao mar e devolver o espaço à municipalidade.

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A informação foi veiculada com exclusividade, em abril deste ano, pelo então diretor de projetos e orçamento da Secretaria de Planejamento de Guarujá, arquiteto Marco Damin que na ocasião o Projeto de Intervenção Urbanística – PIU, planejado para atender ao Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), instituído em setembro de 2010, entre o Município e a União.

“Existe uma faixa de terreno ocupada pelos imóveis que é registrada como área verde que, constitucionalmente, só pode ter esse fim e que é livre. Neste sentido, o município irá retomar e dar um tratamento paisagístico, para que a área seja ocupada pelo povo que frequenta aquela praia”, afirmava Damin. Hoje, a prefeita Maria Antonieta de Brito (PMDB) criou uma comissão especial para acompanhar o projeto, liderada pelo advogado geral do Município, André Guerato.

Os imóveis

Os imóveis são separados da praia por imensos muros, intransponíveis em função da altura e do material utilizado em suas construções. Para ocupar a Praia de Pernambuco, o cidadão comum tem que ser parente ou amigo dos proprietários. Caso não goze desse privilégio, tem que optar pelos poucos acessos existentes ao longo da Avenida Marjory da Silva Prado, paralela à praia, que tem 1.800 metros de extensão.

Os proprietários – em geral políticos e pessoas influentes - valendo-se de anos de omissão por parte da Prefeitura, têm uma visão privilegiada de uma das praias mais concorridas da Cidade. No espaço público que foi incorporado aos seus imóveis, construíram piscinas, quiosques, varandas gourmets, jardins de inverno e outras estruturas de lazer.

“Os muros serão derrubados e a Prefeitura, inclusive, já possui o traçado definido. Tudo, agora, dependerá de uma ação, que envolve várias secretarias municipais. O processo já está tramitando na Prefeitura e possui apoio Estadual e Federal”, concluia o arquiteto, em abril passado.  

A região da Praia Pernambuco é tida como uma das mais belas do Guarujá. Conhecida principalmente por ser a preferida de vários artistas famosos e por casas com estilos arquitetônicos sofisticados, é uma área residencial dedicada principalmente ao turismo, sendo que a atividade comercial é praticamente restrita.

Ainda não existe data para remoção dos muros e nem para início das obras de paisagismo, que irão devolver a munícipes e turistas o direito de desfrutar de um espaço restrito a uma minoria amparada pela poder aquisitivo e pela influência política, que lhes permitiram anos de regalias.

Após a retomada da área, a Prefeitura pretende construir calçadões ajardinados e quiosques, como irá acontecer em mais cinco praias urbanizadas de Guarujá - Guaiúba, Tombo, Astúrias, Pitangueiras e, Enseada. O PIU prevê uma nova concepção arquitetônica para os quiosques, que permitirão acessibilidade e banheiros.

A Praia de Pernambuco será contemplada com dois quiosques. Na da Enseada serão 54 equipamentos. Na Praia de Pitangueiras só serão permitidos 14 quiosques, no Tombo seis e no Guaiúba seis, totalizando 82 quiosques ao longo das seis praias urbanizadas. Não estão previstos quiosques na praia das Astúrias.

Os quiosques serão divididos em duas categorias: duplos, com 170 metros quadrados de área total (21 metros de área interna), e simples, com 67 metros quadrados. Ambos contemplarão, além dos banheiros públicos, área de lixo, instalação de gás, luz, água, esgoto e telefonia, além de outras benfeitorias. Também estão previstos estacionamentos para embarque e desembarque de mercadorias.

Os equipamentos só poderão ter 1,5 metro de sua fachada para publicidade – nome do quiosque e outras informações. A Prefeitura prevê que cada equipamento custará R$ 68,7 mil (duplo) e R$ 34 mil (simples).