Assaltos e furtos viram rotina e moradores da região do Orquidário convivem com o medo

Nem mesmo a tubulação de água de um dos prédios das imediações escapou da ação dos criminosos

13 ABR 2021 • POR • 07h00
Muitos se confundem, de forma premeditada, com moradores de rua para agir próximos ao túnel do VLT - Nair Bueno/DL

Imagens adquiridas pela Reportagem, por intermédio das câmeras de segurança do edifício Costa do Sol, na Praça Washington, 96, no entorno do Orquidário de Santos, revelam que furtos e roubos na região ganham contornos diferentes. Agora, nem o que está no subsolo escapa das ações que perduram há anos sem
solução.

Semana passada, por volta da 1h50 da madrugada, depois de estudar o movimento na rua e como deveria agir, um homem, acompanhado de uma mulher que faz uma espécie de vigília, procura um objeto em frente ao prédio para servir de alavanca.

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Minutos depois, ele encontra um pedaço de madeira e arranca a tampa da caixa que dá acesso à tubulação que abastece de água o prédio com diversos apartamentos. Depois de várias tentativas, o tampão é arrancado e o homem, com as pernas dentro da caixa, vai tentando afrouxar o encaixe da tubulação.

Após muito esforço e sem ter sido importunado, nem por pedestres e nem pela Polícia, ele consegue afrouxar e arrancar a conexão dos canos. Uma mulher acompanha toda a ação e continua agindo como auxiliar.

A situação causou um grande transtorno para os moradores que, após acordarem, não tiveram como fazer a higiene pessoal e até mesmo comida. A sindica do prédio (que prefere não se identificar por medo de represálias) teve que gastar dinheiro com uma peça de reposição da tubulação e mão de obra.

Ela revela que ação como essa já se tornou rotina na área e muitos moradores, que há anos vivem tendo prejuízos materiais constantes, quase sempre, acompanhados de desgastes psicológicos em função dos assaltos, roubos e furtos, preferem ficar no anonimato com medo de represálias por parte dos marginais.

A Padaria Orquidário, por exemplo, que fica ao lado do prédio, por inúmeras vezes foi invadida durante a noite, levando muitos prejuízos ao proprietário. Um comerciante da região revela que roubos e furtos acontecem todos os dias, mas, por medo de represálias, não engrossam as estatísticas e as autoridades policiais não conseguem mensurar a necessidade de ampliar as rondas no entorno do
Orquidário.

Os moradores também explicam que há anos a região do Orquidário é estigmatizada pelo excesso de marginais e viciados em entorpecentes que circulam, principalmente, próximos ao túnel do Veículo Leve Sobre Trilhos (VLT). O Ministério Público (MP) foi acionado e já está agindo sobre essa situação.

Com relação ao VLT, o denunciante é a Associação de Moradores e Amigos Pé na Areia - Amapena. O MP quer saber praticamente porque nada foi feito para garantir a segurança no entorno e interior do túnel. À frente está o promotor Carlos Alberto Carmello Júnior.

Os moradores revelam que, de forma premeditada, os criminosos se misturam às pessoas em situação de rua para ganhar a inviabilidade necessária para agir. No caso do homem do vídeo, a conexão roubada deve servir para trocar por drogas.

JORNALISTA.

Um dos casos mais graves ocorreu ano passado. Por volta das 20 horas, depois de deixar a residência de parentes perto do Orquidário, uma jornalista entrou em seu carro e o criminoso veio escondido, também entrou e sentou no banco de trás.

Ele colocou a faca perto do pescoço da mulher e queria que ela guiasse até a Linha Amarela, em São Vicente. A jornalista, no entanto, ficou dando voltas ali mesmo nas imediações do Orquidário. Enquanto isso, entregou dois mil e o celular.

Apareceram duas viaturas da Polícia e o homem, preocupado, repetiu a ordem. A jornalista chegou a dar sinal de farol para a polícia, dirigir de forma irregular, sem sucesso.

Numa reação da moça o homem, enfurecido, desferiu um golpe de faca na mão da jornalista. Depois ele fugiu levando o que roubou. A jornalista foi buscar atendimento médico na Santa Casa de Santos e, depois, no Sírio-Libanês. Na ocasião, ela revelou que a facada feriu todos os dedos, cortando tendões de dois ou três. Uma microcirurgia os recompôs.

As câmeras do Sistema de Monitoramento da cidade registraram parte da ação criminosa e as imagens foram cedidas às autoridades policiais, no intuito de identificar o criminoso, que foi preso dias depois na Rua Princesa Isabel, no Itararé, bem na divisa entre as cidades de São Vicente e Santos. Ele foi levado à cadeia anexa ao 5º Distrito de Santos.

O homem tinha 28 anos e era ex-presidiário. Ele negou o crime, mas foi reconhecido por foto. Ele foi autuado por acusação de roubo qualificado pela lesão de natureza grave. O homem também tinha passagens por roubo e furto e cumpriu cerca de oito anos.

SECRETARIA.

Não é a primeira vez que o Diário publica a situação das imediações do Orquidário. A Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo já foi acionada várias vezes e alega que faz patrulhas diárias e regulares na região.

Ontem, questionou se houve registro da ocorrência e, depois, não retornou com um posicionamento sobre se iria, ou não, reforçar o policiamento na região do Orquidário.