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Os dois têm, desde 2017, um canal no Youtube chamado Odd Life Crafting (Uma Vida Ímpar). / NAIR BUENO/DIÁRIO DO LITORAL

O casco de um veleiro estacionado em terra firme há 22 anos está prestes a sentir de novo o prazer de ser tocado pelas ondas enquanto navega. Depois de tanto tempo parado, o barco já é considerado o mais antigo nos registros da Marina Pier 26, em Guarujá, local que o abrigou por todos esses anos.

A história do “Abutre” - uma embarcação de 44 pés, 13,5 metros de comprimento e 4,0 de largura, começa em 1991. Ele foi construído a pedido do dono de um estaleiro em São Paulo e dado de presente para o seu filho.

Como o rapaz não velejava muito, decidiu vendê-lo três anos depois. O segundo dono, um homem experiente em navegação e com um histórico de 13 viagens para a Antártica, apoitou o barco em Guarujá para reformá-lo.

As obras duraram dois anos, quando finalmente o Abutre ganhou os mares e navegou por oito meses pela costa brasileira, até chegar à Bahia.

Quando a viagem acabou, o navegador e sua esposa foram pais pela primeira vez e, pouco tempo depois, de novo. A nova configuração familiar acabou afastando o casal – e o veleiro - do balanço do mar.

Como é costume no meio náutico, os barcos que, por diversos motivos, não podem navegar, ficam abrigados em marinas, e com o Abutre não foi diferente.

Retirado do mar, o barco ganhou como casa uma vaga na marina Pier 26 e lá ficou, parado, por todos esses anos. Mas os ventos começaram a mudar em 2019, quando um novo casal, Eduardo Cassol (Duca), de 35 anos, e Roberta Becker Montibeller, de 36, descobriu a embarcação.

CANAL NO YOUTUBE

Os dois têm, desde 2017, um canal no Youtube chamado Odd Life Crafting (Uma Vida Ímpar). Ali eles compartilham vídeos contando experiências que tiveram pela vida desde que decidiram fugir da rotina dos escritórios de engenharia - profissão escolhida por eles - por oportunidades, inclusive profissionais, oferecidas em outros cantos do mundo.

A primeira temporada de vídeos conta sobre os países que conheceram durante um ano sabático, como a Indonésia e Austrália. 

A segunda, já em Florianópolis, cidade natal deles, mostra as etapas da transformação de um contêiner em uma casa.

“Nós precisávamos de um lugar para morar, já que tínhamos vendido tudo para viajar. A ideia da minicasa nasceu junto com essa proposta de viver com menos, ter mais experiências do que coisas”, explica Roberta.

O conteúdo produzido sobre o tema impulsionou o canal, mas os dois continuavam sonhando em contar histórias de uma casa que boia. O casal já tinha um barco de 26 pés, mas ainda não era o ideal para morar.

Para Duca, o gosto pela navegação começou quando ainda era criança. “Meu pai tinha um veleiro e, no verão, o barco era nossa casa de praia”.

O anseio era tão grande que no tempo livre Eduardo pesquisava barcos à venda na internet. “Passava horas procurando e quase fechei negócio duas vezes, mas nunca deu certo”, diz ele.

Talvez a negociação dos outros barcos não tenha sido efetivada porque, no outro canto do litoral, o Abutre aguardava, há 22 anos, uma chance de voltar para o mar.

UNIVERSO CONSPIRA

A notícia de que um barco de 44 pés estava solitário em Guarujá foi dada por um amigo, este ano. Como no Universo tudo conspira quando chega a hora, pouco antes, Duca havia recebido uma herança de um velho amigo americano, chamado Odd.

Com o dinheiro na conta, eles venderam o veleiro que tinham e vieram para o Guarujá, em julho. Horas depois, o negócio já estava fechado.

Crédito: Arquivo Pessoal

Mesmo parado, o Abutre estava bem cuidado, mas precisava de uma reforma geral. “Contamos a novidade no canal e as visualizações triplicaram. Desde então passamos os dias na reforma e mostramos todo o processo no Odd Life”, explica Eduardo.

Agora, o barco já respira novos ares. Ganhou pintura, substituição dos sistemas antigos, mangueira de combustível nova, ajustes no leme, na parte elétrica, vedação das gaiutas (janelas) e revisão no motor.

Por ter sido construído em aço galvanizado, quase não há ferrugem. Já o mastro de 15 metros será trocado em breve, assim como um detalhe importante para a história dessa embarcação: o seu nome.

O velho Abutre vai passar a se chamar Odd. A escolha é uma homenagem ao velho amigo americano de Duca, um dos responsáveis por tornar realidade o sonho do casal.

NOVOS HORIZONTES

O veleiro, que até então admirava o mar de longe, deve voltar à água salgada em dois meses, assim que os reparos acabarem. A primeira viagem será para Florianópolis. 

“Nós vamos morar no barco e terminar o projeto da casa contêiner, que será nossa base terrestre”, explica Duca.

Longe do marasmo do passado, a nova vida de Odd tem tudo  para ser de longas viagens. A previsão é que ele viva com as amarras soltas e as velas içadas, ao lado de seu velho amigo, o vento, e contemple tantos outros horizontes possíveis.

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