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Nilton C. Tristão

A Semiótica da barbárie

Eu não consigo conceber a onipresença e onipotência do Deus das religiões monoteístas, mas creio que existe uma força que nos une à imensidão e complexidade do cosmo, onde o tempo, além de avançar na direção do infinito, também se eterniza através de dimensões múltiplas. A partir desta concepção, a existência humana representa a dialética continuada em elementos regenerativos que buscam a harmonia entre o pertencer corpóreo e a elevação espiritual.

Em artigo anterior propus a seguinte reflexão: na longevidade do ser, o mal se manifesta enquanto essência inata ou adquirida? E qual seria a função do mal no transcurso evolutivo de nossa espécie? Por que o ente malévolo sempre se encontra explícito nas etapas históricas da humanidade? Hoje vivemos em uma sociedade globalizada que adoeceu e exala suas chagas mediante manifestações latentes de ódio, intolerância, fanatismo, desprezo, escárnio e preconceito. Por tal motivo, o indivíduo em sintonia com o despertar da natureza civilizatória acorda todas as manhãs exaurido e fadigado pelo efeito do clima funesto, que em nosso caso, emana do planalto central e progride por todo o território brasileiro.

A ignomínia pulsa com energia que se redobra na medida em que nos dirigimos ao mês de outubro. Exatamente, o projeto de reeleição do presidente Jair Messias vocaliza os significados que reforçam o vilipêndio por qualquer percepção sustentada em premissas iluministas e sentimentos de fraternidade universal. Essa circunstância se materializa por intermédio da manipulação de signos, tais como a cloroquina, STF, urna eletrônica, AI-5, 31 de março, et cetera. E sob o mantra de “Lula ladrão”, os seguidores de Jair, desprovidos de consciência crítica, se permitem precipitar pelos meandros da insciência ditatorial.

Bolsonaro sabe que provavelmente perderá a disputa do pleito no voto popular e a única chance de manter-se na chefia do executivo nacional reside na deslegitimação do processo eleitoral. Portanto, cada vez mais fica evidente quais serão os personagens que embarcarão na canoa da ruptura institucional. Mas o que você fará a esse respeito? Adentrará na insanidade da pregação em que princípios morais desconexos da pluralidade emancipadora tentarão suprimir as escolhas de diversidade cultural? Você é o tipo de pessoa que possui a convicção de que o Partido dos Trabalhadores (PT) atua como uma organização corrupta e todo sacrifício para impedi-lo de voltar ao poder torna-se válido e plenamente aceitável? Acredito que a usurpação de recursos inerentes ao erário público precisa de combate implacável e austero, contudo, não pode servir de pretexto para validar a supressão de liberdades civis, um retrocesso intolerável à memória do país.

Na verdade, todo plano antidemocrático guia-se pela perspectiva de vingança desvairada, desumanizando os adversários e os transformando em inimigos hediondos. Por isso o bolsonarismo e o bolivarianismo mantêm mais características em comuns do que divergentes. Pois, na volta completa dos ponteiros no relógio, o fascismo e comunismo se integram em metamorfose totalitária. Em resumo, o padrão discursivo de Bolsonaro impõe a junção entre símbolos do radicalismo religioso, do tradicionalismo familiar e do ufanismo patriótico em convergência com a extirpação do contraditório ativista e do pensamento soberano. Afinal de contas, o militante bolsonarista ainda não percebeu que de boas intenções o inferno permanece lotado. 

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