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Artigo - Sobre líderes e apelidos

Perdemos muito tempo com esse obscurantismo. Com ciência e pragmatismo, podemos ainda salvar muitas vidas.

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Publicado em 27/03/2021 às 09:10

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Francisco Marcelino, jornalista, escritor e professor / DIVULGAÇÃO

Por Francisco Marcelino

Presidentes, monarcas e apelidos andam juntos. Em todos os tempos. Alexandre, o Grande. Luís XIV, o rei Sol. Alguns são carinhosos; outros, pejorativos. Nenhuma autoritária, porém, ganhou tantos apelidos quanto Jair Bolsonaro. Em parte, porque a internet ajuda a circular mais rapidamente essas alcunhas. Em grande parte, a culpa é dele mesmo. O nome também ajuda, pois é do “bolso” que saem as notas para comprar imóveis, por exemplo.

Bolsonero circulou durante as queimadas na Amazônia e Pantanal e serve para lembrar o imperador romano Nero a quem é atribuído o incêndio da capital do império. Há até a versão italiana: Bolsonerone, já que Nero é Nerone em italiano. Bolsonazi não precisa de maiores explicações. Bolsossauro por conta de suas ideias vindas diretamente da pré-história. A carestia dos últimos meses nos brindou com Bolsocaro. A sua militância contra o uso da máscara e medidas de isolamento nos deu o menos popular Bolsogoto para lembrar os perdigotos que chovem da sua boca. Nenhum desses, porém, é mais popular e direto do que o simples Bozo.    

Após o seu pronunciamento de terça-feira, é preciso buscar um apelido para refletir outra de suas facetas: a de Pinóquio. Bolsonóquio? Bom, há um tempo circula por aí o Bolsominto. Durante sua fala acompanhada pela tradicional orquestra de panelas, o outrora Bolsomito mentiu e distorceu fatos descaradamente. Governadores e prefeitos têm parcela de culpa pelo caos que vivemos. A culpa maior, porém, é do governo federal: por meses a fio, Bolsogoto apareceu em eventos sem máscara; por meses, Bolsoquina defendeu o chamado tratamento precoce, um coquetel de drogas sem eficácia comprovada e com tantos efeitos colaterais quanto os agrotóxicos aprovados por seu governo; por meses, crente que é mesmo um mito, Bolsominto estimulou aglomerações e atacou governadores que adotaram medidas de isolamento.

Em dezembro, com o caos batendo à nossa porta, Bolsotóxico disse que não se vacinaria e que não se sentia pressionado para começar a vacinação. Antes disso, ironizou a Coronavac e cancelou um acordo de compra de doses da vacina do Butantã, que chegou a chamar de Vachina. Sem contar que bancou por meses como ministro da Saúde um general que nos presenteou com a crise do oxigênio no Amazonas e a falta de leitos e insumos médicos. Agora em março, o general Eduardo Pazuello questionou jornalistas com uma pergunta que fala por si mesma: “O que o Ministério da Saúde tem a ver com a produção, o transporte e a logística de oxigênio?” Não é por menos que a alcunha general Pesadelo ganhou as redes sociais.

Perdemos muito tempo com esse obscurantismo. Com ciência e pragmatismo, podemos ainda salvar muitas vidas. Com ciência, o Butantã anunciou uma nova vacina. É uma grande esperança contra o Bolsocida de plantão no Palácio do Planalto.   

Francisco Marcelino, jornalista, escritor e professor

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