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Cubatão

Papo de Domingo: “Vou quebrar um tabu”

A pré-candidata pelo PT ao Legislativo de Cubatão, Sarita Souza, pode ser a primeira transexual a assumir a cadeira de vereador em uma Casa de Leis da Baixada Santista

Publicado em 01/05/2016 às 11:10

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Eu tive quase mil votos, mil corações conquistados. É um grande apoio para que o homossexual conquiste seus direitos / Matheus Tagé/DL

A Câmara de Cubatão pode ser palco de uma fato inédito na região: a primeira transexual atuando como vereadora. No bairro Ilha Caraguatá, todos já a conhecem: Sarita Souza. Há 34 anos morando na cidade e há nove residindo no bairro, a mineira de Piedade de Ponte Nova alcançou o cargo de presidente da Sociedade de Melhoramentos por conta de seu trabalho social desenvolvido na comunidade.

Nesta época, Sarita era analfabeta funcional. Mas os últimos anos foram de crescimento: a líder comunitária estudou da primeira série do Ensino Fundamental ao terceiro ano do Ensino Médio em unidades escolares públicas de Cubatão. Hoje, a transexual cursa o segundo ano de Serviço Social, na Unip, em Santos.

Este ano, a graduação no Ensino Superior precisou ser interrompida por conta da campanha eleitoral. Mas esta não é a primeira vez que Sarita tenta uma vaga no Legislativo: em 2012, ela teve 963 votos válidos pelo PSC. No pleito de 2016, Sarita optou por se pré-candidatar pelo Partido dos Trabalhadores, como gosta de chamar. E é para contar a sua história dentro da política que o Diário do Litoral a entrevistou para o Papo de Domingo desta semana. Acompanhe:

Diário do Litoral - Por que você decidiu se candidatar novamente para o Legislativo?

Sarita Souza - Eu adoro fazer o social. O social fala mais alto para mim. A população precisa de apoio, de conhecimento e de defensores. E os vereadores são defensores deste povo que precisa de ajuda. Em 2012, eu tive quase mil votos. Foi por pouco. Este ano, pensei se sairia de novo ou não. Mas como o meu trabalho dentro da comunidade foi crescendo, eu resolvi me candidatar. Escolhi o partido, o Partido dos Trabalhadores. Eu estou me candidatando pelos trabalhadores. Porque quando a gente fala a sigla PT, todo mundo se assusta. Mas, Partido dos Trabalhadores soa mais leve e tem mais a ver com o meu trabalho.

DL - Como você ingressou na política?

Sarita - Eu moro em Cubatão há 34 anos, mas não sabia ler e nem escrever. Eu cai na Ilha Caraguatá de para-quedas há nove anos. Em 2009, eu ganhei um emprego. O secretário de Saúde da época, Vanderjacson Bezerra, me deu uma oportunidade na época. Ele queria uma pessoa do meu perfil para trabalhar nas comunidades. Eu trabalhava no mutirão contra a dengue e atuei muito dentro das comunidades. Quando ele me ofereceu o emprego, eu avisei que não tinha diploma, mas ele disse para eu me virar. Então, eu fui estudar. No mesmo dia que eu comecei a trabalhar, eu comecei a estudar. Hoje, graças a Deus, eu estou cursando a faculdade de Serviço Social, na Unip. Tudo isto me deu muita força para trabalhar pela comunidade. Depois disso, me candidatei a presidente da Sociedade de Melhoramentos da Ilha e fui eleita. Eu morava no bairro há três meses, eu nem sabia como era trabalhar como líder comunitária.

DL - Caso você seja eleita, qual será a importância de ter uma transexual no Legislativo?

Sarita - Para mim, vou quebrar um tabu. Eu quero lutar pelos direitos dos homossexuais. É difícil para a sociedade aceitar, mas nós também somos seres humanos. Eu quero criar leis que os protejam. Hoje, poucos estão no mercado de trabalho, por exemplo. E infelizmente, precisam se prostituir para sobreviver. Além disso, muitas vezes, o transexual vai na unidade de sáude e não é atendido, em uma empresa também não é bem recebido. Isso vira uma bola de neve. Eu quero lutar por eles, lutar e unir forças. Nós precisamos quebrar este tabu. E a gente já está conseguindo isso... Você imagina: eu tive quase mil votos, são mil corações conquistados. Ou seja, eu não estou sozinha. Este é um grande apoio para que o homossexual seja respeitado e conquiste seus direitos. Por isso, também que quero me candidatar novamente, para lutar por eles.

DL - O PT tem recebido muitas críticas no País e, principalmente, em Cubatão, única cidade da região administrada pelo partido. Você acha que isto pode prejudicar uma possível eleição?

Sarita - Eu não acredito. A prefeita Marcia Rosa trabalhou pelo povo. Houve uma grande mudança na cidade nos últimos anos. Eu trabalho com a comunidade desde quando ela foi eleita, fizemos muita coisa em conjunto e posso dizer que muita coisa mudou de lá para cá. Tem quem goste dela como prefeita, tem quem goste dela como pessoa. Mas todos nós erramos, somos seres humanos. Muitas pessoas fazem críticas pelo partido que escolhi, mas a maioria vota na pessoa. E as pessoas me conhecem, conhecem a Sarita. A sigla não quer dizer nada. Por exemplo, eu era do PSC. Ou seja, eu fui de um partido evangélico. Já imaginou? Um transexual no partido do Marco Feliciano (deputado federal)?

DL - E como você foi recebida?

Sarita - Na primeira vez que participei de uma reunião do partido, fui acompanhada do Donizete Tavares, que hoje é vice-prefeito da cidade. Eu não sabia nem por onde começava política, então nem imaginava onde estava entrando. Com o passar do tempo, você vai aprendendo. Só que naquela época, nem imagina. Quando eu cheguei na reunião, tinha um monte de pastores. Quando eu percebi, eu avisei para o Donizete: ‘Se eles começarem a me arrancar couro aqui, eu vou tirar a roupa e ficar pelada aqui. Eu não quero encrenca, eles estão me olhando o tempo todo e o único ‘viado’ que tem aqui sou eu’. O Donizete me acalmou, disse que não era como eu pensava. E realmente eu estava errada, todos eles me receberam muito bem e me deram as boas vindas. Fizeram um discurso contra o preconceito e eu fiquei mais tranquila. Resumindo, eu fui a candidata a vereadora mais votada da Baixada pelo partido nas eleições de 2012.

DL - E por que você quis trocar de partido?

Sarita - Porque no Partido dos Trabalhadores foi onde eu fui melhor recebida e é o partido que tem mais a ver com os meus ideais. Eles trabalham pelo social. Tem mais a minha cara.

DL - E quais são os projetos que você já desenha para a cidade?

Sarita - Um dos principais é voltado para os jovens da cidade. Porque os jovens que trabalham como patrulheiros, por exemplo, muitas vezes, depois dos 18 anos não conseguem efetivar e ficam sem oportunidade, mesmo com a experiência do CAMPS. Outro projeto é bater mais na falta de segurança. Está muito complicado. Também penso em criar uma creche para idosos. Porque, assim como acontece com as crianças, muitas famílias não têm onde deixar o idoso, mas precisa trabalhar. Quero criar uma estrutura com enfermeiros e médicos para trabalhar no cuidado dos mais velhos.

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