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Cultura

Vila Isabel, Salgueiro e Beija-Flor se destacam com luxo, samba-chiclete e pouca crítica social

O abstrato e o lúdico deram o tom da Sapucaí em sua segunda e última noite de desfiles

Folhapress

Publicado em 25/02/2020 às 11:18

Atualizado em 25/02/2020 às 11:26

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A Mocidade homenageou Elza Soares desfilando em carne e osso no último carro / Ronaldo Nina/Riotur

O abstrato e o lúdico deram o tom da Sapucaí em sua segunda e última noite de desfiles. As escolas que apostaram nessa pegada e se destacaram foram a Vila Isabel, o Salgueiro e a Beija-Flor, com enredos inusitados e bem executados.

As críticas políticas e sociais, que vieram mais fortes no primeiro dia, ficaram em segundo plano desta vez, exceto pela sátira ao presidente Jair Bolsonaro na apresentação da São Clemente, com o humorista Marcelo Adnet fazendo até flexões em uma das alegorias. Também diferentemente do domingo, houve poucos incidentes com carros alegóricos ou evolução.

Ainda no início da noite, a Unidos de Vila Isabel arrebatou o público contando uma história sobre a criação de Brasília (que completa 60 anos em 2020) bem diferente da que se lê nos livros, através de uma visão mítica. 

A cidade teria sido fruto de uma visão do curumim (menino), transmitida pela jaçanã (ave). A lenda une os povos de todas as regiões do país, que foram representadas no desfile de forma luxuosa e competente.

A Vila se destacou pelo carro abre-alas com mais de 60 metros de extensão, representando a viagem onírica da criação da capital, pela inovação nas baianas vestidas de índias e pelas alas coreografadas, como a que simbolizava o fandango sulista.

O último carro fez jus à historiografia sobre a cidade e homenageou os arquitetos Oscar Niemeyer e Lúcio Costa, que efetivamente idealizaram sua arquitetura e urbanismo modernos.

Já a Acadêmicos do Salgueiro transformou a Sapucaí num grande picadeiro de circo no terceiro desfile da noite, com um enredo sobre Benjamin de Oliveira, o primeiro palhaço negro brasileiro. Ele far ia 150 anos em 2020.

A escola apostou em tons fortes de vermelho, dourado e azul e em tecidos como a camurça para manter o desfile no tema. Apresentou carros, fantasias, maquiagens e sapatos que esbanjavam detalhes e brilhos.

As alegorias luxuosas e altas, porém, tiveram um preço. Puxadores tiveram dificuldade em manter o ritmo de dois tripés com grandes elefantes de pelúcia, o que causou um buraco entre as alas e uma falha na evolução.

A comissão de frente interpretou muito bem uma coreografia sobre como Benjamin conheceu e entrou para o circo ao fugir de casa aos 12 anos, em 1882, em Pará de Minas (MG). Truques de mágica surpreenderam o público -Benjamin deitou na cama como menino e acordou como palhaço adulto.

A Beija-Flor de Nilópolis também fechou a noite com um desfile grandioso e impactante, como prometido, se credenciando a disputar seu 15° título. Alegorias ricas em detalhes fizeram a escola reviver seus áureos Carnavais.

O enredo foi "Se essa rua fosse minha", contando a história dos caminhos percorridos pelo homem por meio de lendas e mitos sobre estradas, vias e ruas, até desembocar na avenida Marquês de Sapucaí.

A comissão de frente sobre gangues de rua usando uma estética estilo "Mad Max" se destacou, com carros e motos como alegorias. Jojô Todynho com os peitos à mostra foi outra sensação no desfile, representando Xica, rainha do Tijuco. O ator Edson Celulari desta vez veio no chão, sem tocar na bateria.

CRÍTICAS POLÍTICAS
Primeira a desfilar, a São Clemente usou o humor para criticar os políticos em geral e um deles em particular: Jair Bolsonaro (sem partido). A cultura malandra dos brasileiros como um todo também foi alvo da escola.

O desfile foi fraco em fantasias e alegorias, mas mostrou um discurso de peso com o enredo "O conto do vigário". Teve bateria vestida de laranja, terraplanismo, fake news, mensagens estridentes como "Leonardo DiCaprio BOTOU FOGO na AMAZÔNIA!!!" e até o humorista Marcelo Adnet vestido de Bolsonaro.

A Mocidade surpreendeu pouco, mas segurou a plateia com um samba forte cantado também por mulheres. "É sua voz que amordaça a opressão", dizia a música, que homenageou Elza Soares desfilando em carne e osso no último carro. Trouxe temas como machismo e racismo.

Já a Unidos da Tijuca, que prometia um desfile com muitas surpresas, repetiu a velha fórmula do carnavalesco Paulo Barros, introduzida com o carro do DNA de 2004. O enredo sobre arquitetura foi de fácil compreensão, mas não empolgou a avenida por falta de novidades.

Na noite de domingo (23) se destacaram a Viradouro, a Grande Rio e a Portela, que levantaram a plateia com enredos sobre raízes da cultura popular. A apuração, que decidirá a campeã do grupo especial em 2020, acontecerá na tarde desta quarta (26).

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