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Cultura

Papo de Domingo: ‘Tudo aquilo que Santos me fez eu ainda sou hoje’

A frase é do escritor Pedro Bandeira, que fez o lançamento de seu livro na última quarta -feira (29) em Santos, e concedeu entrevista ao Diário do Litoral

Publicado em 02/11/2014 às 10:24

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Bem antes de J. K Rowling (escritora famosa pela saga ‘Harry Potter), Nicholas Sparks (autor de best-sellers como Querido John e A Última Música), John Green (autor do livro que fez milhões de pessoas chorarem com A Culpa é das Estrelas) e Stephenie Meyer (onde milhões de adolescentes se apaixonaram e ficaram divididas entre torcer pelo vampiro ou pelo lobo), os jovens tinham outra série de amigos para acompanhar.

Chamado pelos íntimos de ‘Os Karas’, os adolescentes da década de 80 puderam crescer lendo as aventuras desse grupo de jovens que, ao mesmo tempo em que solucionavam mistérios, tratava de assuntos como a ditadura militar, neonazismo e aids. Quem traz esses acontecimentos é o premiado autor santista Pedro Bandeira. 

Quando nasceu em Santos, em 1942, o jornalista não imaginava que se tornaria o escritor e fenômeno da Literatura que é hoje, já que, detem nada mais nada menos que o título de escritor infanto-juvenil mais vendido do Brasil. Pedro tem mais de 80 títulos publicados, ainda à venda nas livrarias, e muita disposição para continuar dando aos leitores mais jovens àquilo que eles mais gostam, a literatura.

Portanto, depois de 12 anos do último livro da série, o autor dá um desfecho para o grupo, no que seria — teoricamente — o último da série de seis livros. Na última quarta-feira (29), Pedro Bandeira fez uma noite de autógrafos na Livraria Martins Fontes e contou à Reportagem como é voltar para sua cidade natal para lançar o — possível — desfecho d’Os Karas’. 

Eu só vou me aposentar quando eu estiver esticado, num caixão com algodão nas narinas (Foto: Matheus Tagé/DL)

Diário do Litoral - Qual a sensação de lançar o último livro da série ‘Os Karas’ em sua cidade natal?
Pedro Bandeira -
Eu nasci aqui, cresci aqui e, naturalmente a minha carreira intelectual começou aqui. Antigamente aqui, tinha um cinema, o ‘Cine Atlântico’, onde, de menino, eu vinha, geralmente às 10 horas, para assistir à matinê baby, assistir desenhos animados do ‘Pica Pau’, da ‘Disney’, do ‘Pato Donald’. E aqui nesse cantinho havia um bar com mesas nas calçadas onde a intelectualidade se reunia, e eu menino vinha ver a Patrícia Galvão, a Pagu, que acabou seus dias aqui em Santos, ouvindo ela falar da Semana de Arte Moderna. Minha cidade natal é muito importante pra mim, porque foi aqui que eu me fiz. Eu saí daqui com 18 anos então tudo que eu sou, que eu aprendi, todas as minhas decisões de vida aconteceram aqui. As pessoas que despertaram a minha curiosidade, no meu desejo de entender de arte, de teatro, política e filosofia, foram Santos quem me deu. Então, eu fui embora, porque aqui não tinha a faculdade que eu queria fazer, e fui viver em outros lugares. Mas tudo aquilo que Santos me fez eu ainda sou hoje. Eu estou fazendo esse lançamento desse livro, ‘A droga da Amizade’, em todo o Brasil, Porto Alegre, Rio de Janeiro, tudo que era capital, algumas cidades, mas pra mim a importância é vir aqui. Porque aqui estão as minhas raízes, as minhas origens, aqui não é minha terra, é minha areia. Ter sido recebido pelos santistas com tanto carinho foi emocionante. Vi muitos colegas de escola, pessoas que leram na juventude e agora já são adultas, professoras, jornalistas, então é uma coisa que é boa pra aquecer o coração de um velhinho.

DL - Sobre o que se trata a série d’Os Karas?
PB – ‘
Os Karas’ começaram há 30 anos, e são livros de aventura, onde tem um grupo de adolescentes vivendo diferentes aventuras e o primeiro livro, que é ‘A droga da obediência’ fez um enorme sucesso e muitas cartas chegaram para que eu fizesse outras aventuras com esses personagens. Eu vi que esses personagens eram um ótimo veículo para discutir assuntos que eu acho importante para ser discutido na adolescência, então eles passaram a protagonizar outras aventuras de diferentes aspectos da vida, como o pensar em ecologia, a proteção da natureza, o racismo, o antissemitismo, guerra, doenças sexualmente transmissíveis, política internacional, tudo aquilo que é bom eles abrirem os olhos. Porque daqui a pouco eles estarão com 16 anos, votando, então é preciso que eles pensem sobre esses assuntos.  Portanto, ‘Os Karas’ são personagens que me permitem falar sobre isso. 

DL - Qual a relação da série com a ditadura militar?
PB –
É o primeiro livro da série. ‘A Droga da Obediência’. Eu fui um jornalista e um ator muito prejudicado pelo golpe militar, como todos os brasileiros foram, alguns até morreram, sofreram mais do que eu. Mas eu sofri muito com a censura. A censura atacou as duas coisas que eu amava que era o teatro e o jornalismo. Então, este primeiro livro fala sobre a droga do cala-boca, droga do não pense, deixe que eu penso por você. Então, metaforicamente, nesse livro eu falo, eu mostro a dor que é passar por censura, para que as crianças de hoje, que felizmente não passaram por isso, saibam como é importante defender a própria liberdade, e a liberdade do País.


Aqui estão as minhas raízes, as minhas origens, aqui não é minha terra, é minha areia (Foto: Matheus Tagé/DL)

DL - De onde veio a inspiração para criar a série d’Os Karas’?
PB –
‘A droga da Obediência’ foi a partir da política. Mas usar adolescentes como protagonistas é uma obrigação. Você quer falar com adolescentes e o adolescente sempre tem sua turminha, por isso ele não é solitário. Ele sempre tem alguns amigos especiais, portanto, para falar com eles eu não preciso falar individualmente, preciso falar com a turma.

DL - Depois de 30 anos, de onde surgiu a ideia de lançar o último livro da série?
PB –
Venho da insistência de meus fãs, querendo mais e mais aventuras com essa mesma turma, então eu tenho que agradecer à eles.

DL - O que os leitores podem esperar desse último livro?
PB –
Isso são os meus leitores que vão dizer, se eles gostaram ou não.

DL - Como é para o senhor, ser o autor de literatura juvenil mais vendido do Brasil?
PB –
Isso é uma honra que eu nem esperava, mas eu sempre procurei agradá-los. Se eles não tivessem gostado do meu primeiro livro eu não teria continuado, como eles gostaram, eles me incentivaram a ir cada vez mais e continuar e graças a eles e ao carinho deles, que eu já há mais de 30 anos só faço isso e não quero fazer outra coisa na minha vida. 

DL– O senhor era jornalista, certo? Como o senhor começou a carreira de escritor?
PB –
Sim, eu era jornalista. O que me levou a escrever foi o texto. Eu sempre gostei de escrever, então eu escrevia para os jornais, para ganhar meu salário no fim do mês, que era a minha vida, e eu achei que ia me aposentar fazendo isso. Não achei que ia fazer livros um dia. Mas, de repente, eu fiz e, de repente, deu certo, mas é a profissão, já que muitos autores vieram do jornalismo. O jornalismo é uma grande escola de texto. Você é jornalista, e vai aprender a escrever sobre qualquer assunto, porque depende da pauta, vai aprender a escrever com prazo, então disciplina, e vai conseguir escrever em qualquer estilo, porque dependendo do veículo que for trabalhar, tem que adaptar o seu texto. Então, você vai aprender a escrever qualquer coisa. Por isso, tantos ex-jornalistas se tornaram escritores.

Minha cidade Natal é muito importante pra mim, porque foi aqui que eu me fiz (Foto: Matheus Tagé/DL)

DL- Como o senhor vê a relação do jovem com o livro hoje em dia?
PB –
Muito íntima, muito apaixonante. Claro que não são todos, até porque não são todas as pessoas que gostam de vôlei, ou de comer espinafre, então nem todo mundo gosta de ler. Mas uma grande parte gosta e encontra prazer na leitura. Eles são muito carinhosos.

DL - O senhor acha que a tecnologia pode distanciar os jovens da literatura?
PB –
A tecnologia é um instrumento que só vem pra ajudar. Muitos acham que a televisão prejudica, ou que a internet prejudica, mas não, tudo só ajuda. O fato de eu gostar de comer frango não significa que eu não vou gostar de comer peixe. São dois alimentos, então não vai prejudicar e sim só ajudar. Por exemplo, para ler na internet, tem que ser um grande leitor, ler bem, ser rápido. Então, só ajuda até a velocidade da leitura.

DL - O senhor acredita que os livros brasileiros de literatura juvenil estão perdendo espaço?
PB –
Não, depende da qualidade. O fato de haver livros estrangeiros aqui, e é preciso que haja, porque você precisa ler de tudo. Como eu li Monteiro Lobato, Mark Twain, Agatha Christie. É preciso ler o mundo inteiro. Eles não são seus concorrentes, até porque um autor não é concorrente com o outro. Nós estamos juntos nessa batalha, somos soldados que estão nesse campo de batalha.

DL - Com o lançamento do último livro da série d’Os Karas’, o senhor pensa em se aposentar ou já tem projetos para novos livros?
PB –
Olha, eu só vou me aposentar quando eu estiver esticado, num caixão, com algodão nas narinas. Aí eu vou ter que me tornar um escritor fantasma.

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