05 de Maio de 2024 • 07:37
O Parque dos Mangues será implantado gradualmente / Igor de Paiva/DL
Uma família de saguis-de-tufo-branco desceu do alto das árvores para brindar a assinatura da portaria que criou oficialmente o Parque Natural Municipal Manguezais de Santos. A solenidade aconteceu na tarde de ontem. A mais nova área verde da Cidade vai ocupar um espaço de 260 mil metros quadrados anteriormente invadido e degradado às margens do Rio São Jorge. O espaço de lazer e de educação ambiental representa um marco na restauração de ecossistemas em Santos e materializa um sonho que os moradores do Chico de Paula e do Jardim Santa Maria acalentavam havia seis décadas.
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O Parque dos Mangues será implantado gradualmente e, depois de concluídas as sete fases, será maior que todo o jardim da praia, que soma 218 mil metros quadrados, desde a divisa até a Ponta da Praia. A área começa na Avenida Nossa Senhora de Fátima, ao lado da Subprefeitura da Zona Noroeste, e vai até a Avenida Jornalista Armando Gomes, na antiga Prainha, conhecida hoje como Mangue Seco, no fundo do Estuário.
A ambição da Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Seman) é, no futuro, transformar a região em uma unidade de conservação, conforme enquadramento no Sistema Nacional de Unidades de Conservação. E as primeiras mudas de ipê e de angico já foram plantadas. Outras 60 mudas de espécies da Mata Atlântica já estão prontas para ir à terra, todas objeto de compensação ambiental paga pelo Ibis Hotel. Simbolicamente, uma moradora do Jardim Santa Maria entregou sementes do mangue para o prefeito Rogério Santos (Republicanos).
“Eu quero que as pessoas voltem a pegar caranguejo aqui. É possível fazer governança e sustentabilidade com muitos parceiros”, resumiu o prefeito. Além das lideranças comunitárias, da Secretaria do Patrimônio da União e do Ministério Público, a empresa Deicmar também é aliada da Prefeitura no projeto.
O novo Parque dos Mangues é tão grande que terá mais que o dobro das áreas somadas do Orquidário (22 mil metros quadrados) e do Jardim Botânico (90 mil metros quadrados). Por isso, será implantado em sete fases. Alamedas, um parque infantil, uma academia de rua e uma pérgola de madeira trabalhada compõem o cenário da Praça Verde, segunda base do projeto, na esquina da Nossa Senhora de Fátima com a Rua Doutor Pedro Paulo Di Giovanni. A primeira foi a EcoFábrica, inaugurada em 2023 e incorporada agora ao Parque.
“Nosso objetivo é criar um espaço onde as pessoas sintam-se bem”, resumiu o secretário de Meio Ambiente, Marcos Libório. Apesar de ficar no Chico de Paula e no Jardim Santa Maria, a nova área verde da Cidade também será uma opção de lazer e trará mais conforto térmico para moradores da Caneleira, Bom Retiro e Morro do Tetéu.
“Trouxemos juiz e promotor aqui para que eles entendessem o problema. E os vizinhos pediram um parque contemplativo. Agora um grupo técnico formado pelo prefeito vai avaliar todo o trecho e ver as espécies mais adequadas para o replantio”, completou o adjunto da Seman, jornalista Marcus Fernandes, sob a copa de eucaliptos australianos plantados imprudentemente às margens do Rio São Jorge.
CAMINHÕES, DROGAS E PROSTITUIÇÃO.
A titularidade da área é controversa, mas a Secretaria do Patrimônio da União está trabalhando para cessão de parte do terreno ao Município. Também há processos de desapropriação em andamento.
Morador da região, o ouvidor municipal e também jornalista Rivaldo Santos foi um dos principais atores na transformação do cenário. E foi elogiado por Rogério Santos pelo empenho. Mas, o ouvidor preferiu repartir os méritos: “Quem fez acontecer foram os moradores do bairro e os servidores da Prefeitura”.
Ocupada desde a década de 1960, a margem do Rio São Jorge serviu como porto para chatas que descarregavam areia usada na construção civil. Já no início deste século, foi vendida a uma construtora.
Em todo esse período, os problemas se acumularam. Barracos ocuparam o mangue e um estacionamento despejava óleo e rejeitos da lavagem de 50 caminhões no leito do rio. O descarte de entulho também se tornou prática comum. E o espaço virou um lixão. Esgoto in natura é despejado no São Jorge até hoje.
Presidente da Sociedade de Melhoramentos do Jardim Santa Maria há 25 anos, Alcides Fonseca, o Cidão, foi além: “Hoje, foi dado o primeiro passo na transformação dessa área que servia até à prostituição e ao consumo de drogas”.
SETE ETAPAS.
Apesar da assinatura da portaria criando formalmente o Parque dos Mangues, nenhum representante da Prefeitura ousou cravar a data em que o espaço vai estar totalmente disponível à população da Zona Noroeste.
Serão sete fases. A primeira é a EcoFábrica, inaugurada em 2023 e agora incorporada ao projeto. A segunda foi a Praça Verde, entregue nesta quinta-feira (8). A terceira base prevê a implantação de trilhas monitoradas e turismo de aventura.
Já a quarta base contemplará o Bosque Santa Maria, com a reintrodução da vegetação de mangue e da Mata Atlântica, inclusive em trechos alagadiços a partir da alta da maré no Rio São Jorge. A quinta base terá um espaço de convivência com área para caminhada e contemplação da natureza.
A sexta base foi batizada como EcoMangue e privilegiará o ecoturismo. A sétima ficará na Prainha e terá infraestrutura para passeios de canoa e de caiaque pelo Estuário e pelo rio.
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