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Santos

'A saúde mental de Santos está à deriva', garante conselheiro

Segundo o profissional, faltam funcionários e estrutura de trabalho; pacientes e familiares padecem com situação

Carlos Ratton

Publicado em 16/09/2019 às 12:18

Atualizado em 16/09/2019 às 12:18

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Com a porta sempre entreaberta, o CAPS AD está em situação precária. Até placa da Prefeitura está escondida atrás de uma árvore / Nair Bueno/DL

Depoimento de um conselheiro de Saúde, obtido com exclusividade pelo Diário do Litoral, alerta para uma situação considerada insustentável em Santos. Segundo ele revelou esta semana, os cerca de mil pacientes assistidos mensalmente nas 10 unidades de saúde mental da Cidade estão sendo negligenciados por conta da falta de funcionários, estrutura de trabalho e por imóveis precários.

A situação abrange os cinco centros de atenção Psicossociais (CAPS); a unidade de tratamento de dependentes de álcool e drogas (CAPS-AD); as unidades infanto-juvenis (CAPS-IJ) e a Seção de Reabilitação (SERP).

Para se ter uma ideia, faltam psiquiatras, psicólogos, enfermeiros (inclusive plantonistas noturnos), assistentes sociais, terapeutas e demais profissionais em todas as unidades, que ainda lutam por vale-transporte e transporte para acompanhar pacientes e por uma supervisão técnica.

Outra questão preocupante: o único CAPS-AD, localizado na Rua Silva Jardim, por exemplo, não é 24 horas e nem tem leito de internação. Está embargado pela Vigilância Sanitária e a farmácia local está fechada. "É tão ruim que a porta de entrada fica encostada para evitar demanda. E o CAPS da Zona Noroeste só existe no papel. Profissionais que deveriam estar lá, estão trabalhando em outras funções na Secretaria de Saúde", afirma o conselheiro.

Ele revela que é preciso urgente uma reestruturação da rede, pois a estrutura dos CAPS encolheu e a demanda aumentou nos últimos 20 anos, há pouca alta médica pois o tratamento é longo e o os recursos humanos estão escasseando.

"Não há como tratar com qualidade. Falta transporte para realizar atividades externas para reintegrar o paciente na sociedade e fazer busca ativa. O vereador Boquinha (Geonísio de Aguiar - PSDB) destinou verba para a compra de veículos, mas a verba foi usada para outras coisas. A falta de estrutura está fazendo com que os funcionários adoeçam por conta da impotência e os pacientes piorem", afirma, lembrando da morte da adolescente no Tô Ligado. "Ele funciona 24 horas. Não tinha enfermeiro plantonista, o que é ilegal, e nem equipamento de emergência na unidade", completou.

INFANTO-JUVENIL.

Ainda segundo o conselheiro, o atendimento e o estado dos CAPS Infanto-Juvenil são precários. O Município tinha três unidades - Centro, Zona Noroeste e Orla, sendo que esse último dividia o espaço com pacientes de saúde auditiva. "Imagina um grupo de crianças sendo atendidas e na sala ao lado outras fazendo audiometria, em que é preciso silêncio. Nem horários eram combinados. O do Centro teve o assoalho afundado e foi fundido ao Orla. Se já não atendiam bem separados, imagina juntos", conta.

A falta de estrutura do sistema de saúde mental de Santos é potencializada por conta de três fatores: a divulgação de problemas mentais pela sociedade, a queda do preconceito, a crise financeira (pessoas estão sem plano de saúde e buscam atendimento no serviço público) e clínicas especializadas com equipes integradas. "Se eu fosse resumir, há negligência e descaso no atendimento de Santos. Eu até arrisco a dizer que a intenção é precarizar o serviço para terceirizar. Paciente mental tem pouca visibilidade, não protesta. A Saúde mental em Santos está à deriva. Não tem investimento e os funcionários, pacientes e familiares estão sem espaço e força de reivindicação", dispara.

PREFEITURA.

Sobre as questões, a Prefeitura garante investimentos e plena assistência aos usuários. Afirma que o CAPS Centro passou a atender em um imóvel no Macuco (Avenida Rodrigues Alves, 236), que é equipado, confortável e acessível. O CAPS AD IJ (Tô ligado) atua em regime de plantão noturno (19 às 7 horas) e será inaugurado, no próximo dia 24, o CAPSI #tamojunto, na Avenida Pinheiro Machado, 769, que reunirá em um mesmo imóvel o Capsi da Zona da Orla/Intermediária e o Capsi da Região Central Histórica. "Fizemos uma reorganização territorial, para equilibrar a quantidade de atendimentos em todos os CAPS infantis da Cidade", explica Paulo Muniz, coordenador de Saúde Mental.

Ainda conforme a Prefeitura, o setor de Transportes da Secretaria de Saúde atende plenamente à necessidade. Há concurso que prevê o preenchimento de 46 vagas para médicos, incluindo 12 vagas de psiquiatras e seis de generalistas para a rede. Os profissionais começarão a ser chamados (nomeados) a partir deste mês e iniciarão o trabalho em outubro. Há previsão de novo concurso para psicólogo, enfermeiro, assistente social e terapeuta ocupacional.

Finalizando, a Administração garante que um novo CAPS AD será implantado e será 24 horas e que a verba de Boquinha foi destinada à compra de materiais esportivos e pedagógicos, sendo que a rede de Saúde Mental tem um veículo exclusivo para atividades e conta com apoio do SAMU. O CAPS ADIJ está com equipe completa de enfermagem e está prevista compra de equipamentos de desfibriladores para todas as unidades que funcionam 24 horas.

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