Falta de assistência é a rotina de idosos santistas

Dois casos de suposta negligência chegaram ao Ministério Público (MP) este mês

23 FEV 2015 • POR • 11h32

A falta de assistência à saúde já virou rotina de muitos idosos de Santos. Porém, dois casos de negligência chegaram ao Ministério Público (MP) este mês, envolvendo um corretor de imóveis e uma pensionista. Se ambos não obtiverem a atenção necessária do poder público, podem ser condenados a passarem o resto de suas vidas em uma cadeira de rodas.
Aos 70 anos, Mário Fernandes sobe e desce as escadas da imobiliária onde trabalha com o auxílio de uma bengala. As injeções, compradas com muita dificuldade, já não estão mais fazendo o mesmo efeito. Para retirar um tumor na coluna, Fernandes precisa se submeter a uma cirurgia urgente. O problema é que ela nunca chega.

“Estou há meses aguardando o agendamento de minha cirurgia na Santa Casa de Santos. Está tudo encaminhado pelo SUS (Sistema Único de Saúde), os exames estão prontos desde o ano passado, mas ainda não foi assinada uma guia para a realização de uma biópsia, que vai orientar a preparação para a cirurgia. Eu preciso me locomover para trabalhar. O efeito da injeção durava quatro dias e, agora, dura dois”, afirma Mário Fernandes.

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Segundo o corretor, o médico que o atende está preocupado. “Ele me disse que o tumor está apertando a medula que, se for seccionada, eu vou sentar em uma cadeira de rodas e não me levanto mais. Se eu deixar de tomar injeção, não saio da cama”, lamenta o idoso.

Pensionista

Irma Del Grande Forte, de 71 anos, passa boa parte de seu dia olhando a praia do corredor do prédio de seu pequeno apartamento, no Boqueirão. Faz isso porque tem medo de cair e não se levantar mais. A apreensão ocorre desde 2009, quando um tombo a deixou com dores muito fortes na coluna. Assim como o corretor, ela depende também de uma injeção, só que há anos não consegue o medicamento no Ambulatório de Especialidades Médicas (AME), da Secretaria de Saúde do Estado.

“Essa injeção é diária e custa R$ 3 mil. Eu já apresentei todos os exames e a documentação exigida, e nada. Não tenho condições de comprar a injeção. O médico me disse que uma torção pode me deixar sem andar. Por isso, tenho medo de passear. Embora more próximo à praia, posso só contemplá-la do corredor do prédio. Eu só peço a Deus que tire as minhas dores”, comenta.

Na Câmara

A situação dos dois idosos chegou à Câmara, por intermédio do vereador Antônio Carlos Banha Joaquim (PMDB), que acionou o MP, baseado a Portaria 1.606 do Ministério da Saúde, o Estatuto do Idoso e artigos da própria Constituição. “Não podemos admitir essa peregrinação para obter um direito tão elementar que é a saúde. Eles já bateram em várias portas e elas não se abrem. Na verdade, esses são apenas dois exemplos da falta de compromisso do Município e do Estado com os idosos, que contribuíram a vida toda. Ninguém pode viver com dor”, afirma Banha.

Outro lado

Procurada, a Santa Casa de Santos não se manifestou a respeito do assunto. A Secretaria de Saúde do Estado também foi procurada pela Reportagem, mas resumiu informando por telefone que o nome de Irma Forte não foi encontrado nos registros de atendimento do AME. No entanto, a Secretaria telefonou para a idosa questionando porque ela teria procurado a imprensa e que o remédio estaria à sua disposição a partir da última sexta-feira (20).