Governo argentino ignora crise e investe em direitos de transmissão da Copa

Segundo o chefe de Gabinete de Ministros, Jorge Capitanich, foi assinado o "contrato de licença exclusiva para transmissão de 64 partidas, 32 ao vivo e direto e 32 gravadas"

7 JAN 2014 • POR • 17h38

Em meio ao crescente déficit fiscal, queda das reservas, disparada do câmbio paralelo e profunda crise energética, o governo argentino de Cristina Kirchner resolveu investir no entretenimento esportivo e comprou todos os direitos de transmissão dos jogos da Copa do Mundo, em 2014, no Brasil. O chefe de Gabinete de Ministros, Jorge Capitanich, equivalente à Casa Civil, informou nesta terça-feira que o governo assinou "contrato de licença exclusiva para transmissão de 64 partidas, 32 ao vivo e direto e 32 gravadas".

O ministro não falou sobre o custo da exclusividade, mas para ter uma ideia do que se gasta neste setor, no Orçamento de 2014 o programa Futebol para Todos, pelo qual a emissora de TV Pública transmite, em canal aberto, os jogos da primeira e segunda divisões dos campeonatos nacionais, deve receber 1,410 bilhão de pesos (US$ 213,31 milhões ao câmbio oficial de 6,61, desta terça), 17% acima do que consumiu no ano passado. Desde o início do programa, em 2009, os gastos neste segmento aumentaram 135%. O valor diz respeito somente aos direitos de transmissão, e não contabilizam os custos de logística para a transmissão, produção e publicidade estimados em, pelo menos, 150 milhões de pesos adicionais.

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Até o momento, o governo não permite propaganda privada durante as exibições dos jogos, portanto, fica sem retorno financeiro. A única publicidade permitida nos intervalos é a oficial, que mostra as obras e conquistas do Executivo. Porém, recentemente, diante da necessidade de aumentar a arrecadação, Capitanich afirmou que o governo está "trabalhando em uma agenda sobre os direitos de comercialização das transmissões".

Somente no primeiro ano do Futebol para Todos, o governo gastou 700 milhões de pesos para romper o contrato que a Associação Argentina de Futebol (AFA) tinha com a emissora de TV a cabo TyC, do Grupo Clarín, que detinha a exclusividade das transmissões dos campeonatos. Foi a primeira de uma série de medidas para atingir o "inimigo número um da Casa Rosada", como o próprio governo classifica o Grupo Clarín, até chegar à entrada em vigor da Lei de Mídia, que o obriga a se desfazer de seus ativos mais valorizados, as licenças de TV e rádio.

A exclusividade dos jogos não é privilégio deste mundial de 2014 e já havia sido adquirida em copas anteriores, como na África do Sul. A diferença agora é que governo se encontra em um momento de fragilidade nas contas públicas, as quais teriam fechado 2013 com um déficit acima de 4% do PIB. Segundo levantamento realizado pela Associação Argentina de Orçamento (Asap, pela sigla em espanhol), de janeiro a novembro de 2013, o governo acumulou um déficit de 109,424 bilhões de pesos, equivalentes a 4,1% do PIB.

O déficit só não foi maior porque houve uma importante ajuda contábil do Banco Central e da Agência Nacional de Seguridade Social (Anses), equivalente ao INSS, no valor de 55,359 bilhões de pesos. Sem essa transferência de recursos, o vermelho teria chegado a 165 bilhões de pesos, quase 6% do PIB. Na lei de Orçamento de 2013, o governo estimava um superávit de 533 milhões e gastos de 628,683 bilhões. Durante o ano, o montante foi corrigido em várias oportunidades por meio de medidas provisórias e decisões administrativas, elevando o gasto total a 733,217 bilhões, conforme os dados da Asap.