OAB de São Vicente quer 'quebrar lei do silêncio' dos policiais da Região

Entidade pede câmeras no uniforme da polícia civil e na farda da militar

3 JUN 2022 • POR Carlos Ratton • 07h00
Policiais da região poderão ganhar câmeras em seus uniformes - Divulgação

Antes de falecer repentina e prematuramente esta semana, o então presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) de São Vicente, o advogado Eduardo Kliman, solicitou ao secretário de Segurança Pública do Estado de São Paulo, João Camilo Pires de Campos, informações sobre a possibilidade de implantação de câmeras operacionais portáteis nos uniformes do policiais civis e militares de São Vicente e região.

Kliman atendeu o pedido do advogado Rui Elizeu de Matos Pereira, membro da Comissão de Direitos Humanos (DH) da OAB vicentina, preocupado com a criminalidade e com operações e incursões policiais que vêm ocorrendo há meses nas comunidades mais carentes de São Vicente.

Leia Também

Polícia Civil prende foragido da justiça em condomínio de luxo em Praia Grande

Polícia Civil prende em São Vicente suspeito de ter praticado homicídio no Paraná

Moro lamenta morte em SE, mas elogia Polícia Rodoviária Federal

Faça parte do grupo do Diário no WhatsApp e Telegram.
Mantenha-se bem informado.

Segundo Rui Pereira, o pedido se justifica diante de inúmeros casos de letalidade policial em bairros mais distantes e humildes da Cidade, tanto na área insular como na continental, resultando em apurações inconclusivas e gerando a "lei do silêncio".

"Há receio de retaliações em relação a quem testemunha as ações, prejudicando a verdade, a justiça e consagrando a impunidade a policiais, com numerosos casos em que se verifica grande dificuldade de apuração das mortes", revela o advogado.

EFICÁCIA

Segundo Rui Pereira, as câmeras nas fardas dos policiais, diferente do que muitos políticos gostam de propagar (que expõe o policial), já demonstraram eficácia na grande diminuição de mortes pela polícia e são ferramentas de justiça, visto que registram a realidade dos fatos e não as versões oficiais, preservando a verdade e protegendo o bom policial que segue a lei.

"Falar que as câmeras atacam a privacidade do policial demonstra desconhecimento sobre segurança pública e que o policial, quando de serviço, no momento de uma operação, está exercendo conduta pública, representa o Estado. Ele não está em casa vendo TV com a esposa", explica em relação a fala de alguns políticos.

Ele continua: "qual seria o real motivo de discursos contra as câmeras? Que privacidade defendida é esta que protege o obscuro, o escondido, o fato incapaz de ser esclarecido? As câmeras registram possíveis retaliações, ameaças, apavoramentos e outros. Será que se os equipamentos estivessem em uso, nos último dois ou três anos, teríamos tantos casos de incursões estranhas não esclarecidas, não comprovadas, com resultados trágicos como o da conhecida Chacina do Caixetas, em 2019?".

PROPORÇÃO

O advogado diz ainda que é notório que a Baixada Santista é mais violenta proporcionalmente do que a Grande São Paulo, onde o equipamento já se encontra em uso, representando resultados benéficos para a sociedade.

Matos Pereira lembra que o Jornal Nacional, da TV Globo, mostrou recentemente que o uso de câmeras contribui para a redução de 78% das mortes de policiais em operações e que a própria Polícia Militar reconhece que a queda se deu por conta, entre outras coisas, das câmeras nos uniformes. "De 18 policiais mortos em 2020, no ano seguinte (2021), o número baixou para quatro".

Ressalta que o Portal Conjur e a Folha de São Paulo informaram que a letalidade decorrente de incursões policiais, após o uso das câmeras, caiu 85%. Na Rota - a unidade mais letal da PM - a diminuição foi de 89%.

RIO

O advogado lembra que o uso das câmeras nos uniformes deu tão certo que deve ocorrer em Tocantins, Espírito Santo, Mato Grosso e Bahia.

No Rio de Janeiro, o Governo já deu início à instalação de câmeras operacionais portáteis em uniformes de agentes de segurança de nove unidades da Polícia Militar.

A confirmação veio depois de uma operação policial ocorrida no último dia 24, na Vila Cruzeiro, na zona norte da cidade do Rio de Janeiro. A ação, uma das mais letais da história do Estado, terminou com pelo menos 25 mortos.