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Esportes

SFC: o mau exemplo que gerou indignação

Jogo beneficente arrisca vidas e causa revolta nas redes sociais

Carlos Ratton

Publicado em 30/12/2020 às 07:00

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Clodoaldo, o presidente Bolsonaro e o presidente do Santos, Orlando Rollo, no meio do gramado, sem máscaras de proteção contra Covid-19 / Reprodução/YouTube

A atitude da Diretoria do Santos Futebol Clube (SFC) em permitir que dirigentes e atletas descumprissem protocolos de segurança de saúde para evitar contágio da Covid-19, em jogo beneficente na Vila Belmiro, promovido pelo ex-jogador Narciso, com a presença do presidente Jair Bolsonaro, causou indignação e discussão nas redes sociais, às vésperas do primeiro jogo contra o Boca Juniors, pela semifinal da Libertadores, no próximo dia 6, na Argentina.

O presidente Orlando Rollo, membros do Comitê de Gestão do Clube, além de jogadores, como o goleiro João Paulo, o meia Lucas Lourenço e o atacante Marinho estavam sem máscaras, além do próprio Bolsonaro e outras personalidades. Chegaram até a publicar fotos e vídeos nas redes sociais. Há também imagens de aglomeração durante o evento.

O SFC passou recentemente por um surto de coronavírus em seus elencos profissionais masculino e feminino. A equipe dirigida por Cuca chegou a ter 11 jogadores infectados. Entre os atletas presentes à Vila Belmiro, apenas João Paulo teve a Covid-19. No fim de semana, o lateral Fernando Pileggi desfalcou a equipe no confronto com o Ceará, pelo Brasileirão, por ter contraído a doença.

Entre os comentários na própria página oficial do peixe no Facebook estava o seguinte: "espero que essa visita indesejada não traga consequências indesejadas no time e elenco do Santos Futebol Clube e que possamos triunfar nessa Libertadores e conquistar o tetra".

À Reportagem, o jornalista Dojival Vieira, foi enfático: "estou formalmente declarando que não torço mais por um time que acoita, acoberta e prestigia um presidente que tem responsabilidade direta pela morte de quase 200 mil brasileiros. E olha que torcia para o Santos desde que me entendo como gente. Chega, já deu".

MÉDICO.

Não falando como torcedor, mas como médico infectologista, o ex-vereador Evaldo Stanislau afirma que no momento atual de pandemia, toda e qualquer aglomeração é desaconselhável. Para o médico, qualquer evento - particular ou público - deve respeitar normas mínimas de segurança.

"Elas envolvem distanciamento, triagem clínica e laboratorial, o uso correto e contínuo de máscaras de proteção e higiene das mãos, além de um ambiente que permita circulação e renovação do ar", explica o especialista. Stanislau insiste que, embora o evento tenha sido ao ar livre, tinha pessoas aglomeradas e sem máscara, o que contraria toda uma regulamentação.

Lembra que nos vestiários e áreas administrativas não há circulação de ar. "Portanto, do ponto de vista técnico, o que vimos foi um evento muito mal organizado, inseguro e que acabou expondo todos os participantes e as pessoas que terão contato com as que dele participaram, mesmo quem já tenham contraído a infecção", afirma.

Do ponto de vista médico, Stanislau reflete que todas as instituições envolvidas, do cerimonial da Presidência da República à Diretoria do Santos, "deram um péssimo exemplo ao Brasil. Foi inoportuno e inadequado. Como torcedor do Santos, fico constrangido que meu time tenha legitimado um evento com tantas inadequações", finaliza.

ESTADO.

O Natal Sem Fome do Santos é realizado pelo técnico Narciso desde 2005. Outros nomes conhecidos como os ex-jogadores Léo, Renato, Alex, Marcos Assunção, Amaral, Dodô, Rodrigão, William, Gabriel e Eduardo Marques também participaram.

Até o dia do jogo, o Estado havia registrado 45.902 mortes e 1.427.752 casos do novo coronavírus. Segundo a Secretaria Estadual da Saúde, o número de novos casos de Covid-19 registrados nos últimos 30 dias supera em 52% o total de confirmados nos 100 primeiros dias da pandemia.

EM TEMPO.

Não é a primeira vez que o SFC entra em polêmica por conta de Jair Bolsonaro e da Covid-19. Em junho deste ano, a Diretoria teve que analisar a reclamação extrajudicial contra um sócio acusado de usar uma carreata pelo fim da quarentena, reabertura do comércio e a favor do Governo Bolsonaro, por ameaçar de morte comunistas e pessoas de diferentes posições, destilando preconceito contra os pobres, ostentando uma imitação de arma e simbologia nazista.

A atitude gerou manifestação pública da Coordenadoria de Igualdade Racial e Conselho da Comunidade Negra de Santos. A Comissão de Igualdade Racial da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) apresentou nota de repúdio. O caso foi abafado.

SANTOS.

O SFC afirma, por meio de sua assessoria de imprensa, que as pessoas foram convidadas pelo realizador do evento, credenciadas pela segurança do Palácio do Planalto e orientadas sobre os protocolos.

"Os atletas estiveram no vestiário por livre iniciativa e tanto Rollo, como Mário Badures, já tiveram Covid-19", informa nota, sem citar a possibilidade da reinfecção.

"O atleta João Paulo também já teve e o jogador Marinho estava de máscara, cumprimentou o presidente rapidamente e não ficou no ambiente de jogo", completa.

 

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