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Papo de Domingo: 'O Santos não assume mentiras'

Modesto Roma Júnior volta a garantir ao DL que clube não assumirá Museu Pelé caso réplicas substituam peças originais

Publicado em 20/12/2015 às 10:30

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Modesto Roma Júnior reafirmou, em entrevista exclusiva ao DL, que o clube não assumirá a gestão do Museu Pelé / Marcelo Santos/FramePhoto/Estadão Conteúdo

Modesto Roma Júnior, presidente do Santos Futebol Clube, reafirma, em entrevista exclusiva ao Diário do Litoral, que o clube não assumirá a gestão do Museu Pelé caso a Legend 10, empresa que detém os direitos comerciais e de parte do acervo do Rei do Futebol, imponha a vontade de substituir peças originais por réplicas. Assim, como o DL já havia publicado na última quinta-feira, 17, o mandatário ressalta a posição do time da Vila Belmiro de “expor a verdade”.

“Nós não temos a menor vocação para mostrar cópia como sendo verdade. O que é verdade é verdade. Então, o Santos não aceita, em hipótese alguma, trabalhar com réplicas. Isso é um ponto que o Santos não abre mão, por respeito ao torcedor, ao turista, ao visitante. O Santos faz questão de que as peças sejam todas originais. Não abre mão disso”, avisa o mandatário. 

E, diferentemente do que foi cravado por um jornal da região há 34 dias, ainda não há qualquer acerto para o Santos substituir a Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP) AMA Brasil na condução das responsabilidades administrativas e econômicas do Museu Pelé. 

“Nós precisamos ter um contrato que assegure que o Santos não tenha prejuízo. E esses aspectos têm que ser muito bem estudados pelo nosso departamento jurídico, pela procuradoria da prefeitura, por todos os envolvidos, com seus departamentos jurídicos”, explica Modesto Roma Júnior, em discurso distante do otimismo de outrora, antes de salientar sua condição de que só tenham peças originais de Pelé no Museu para o Santos entrar no negócio. 

“Ninguém nunca nos disse que não. Na hora que disserem que não, o Santos não assume. Ponto. O Santos assume verdades. O Santos não assume mentiras”, garante o presidente alvinegro.

Conforme o DL também publicou com exclusividade na edição de 17 de novembro, a AMA Brasil abre mão de receber o valor de uma multa rescisória, caso consiga se desvincular o negócio, mas será responsabilizada pelos prejuízos que o Museu Pelé vem dando até hoje.

“Os problemas jurídicos e financeiros da AMA Brasil continuam sendo da AMA Brasil. Então, a gente faz um ‘momento zero’. Daqui para frente temos uma nova linha de início. O que ficou para trás é 100% responsabilidade do gestor do equipamento, no caso, a OSCIP AMA Brasil”, revelou o secretário municipal de Gestão, Fábio Ferraz, à época, após uma reunião com Oswaldo Ribeiro, executivo de administração e finanças do clube. 

“O Santos já está muito satisfeito com as dívidas que ele tem e não precisa ter a de outros. E essas coisas precisam ser muito bem costuradas para que o Santos não corra riscos”, diz Modesto Roma Júnior.

Neste Papo de Domingo, o presidente também faz uma avaliação sobre seu primeiro ano de mandato, revela um lucro antecipado com venda de camisas já com o novo projeto original em andamento, explica como andam as negociações para a construção de uma nova Arena e deixa as portas abertas para o retorno de Robinho.

Confira a entrevista com Modesto Roma Júnior, presidente do Santos FC:

DL – Presidente, hoje o clube parece mais tranquilo, o time disputou bem todas as competições que entrou, os jogadores expõem o desejo de ficar. Qual perspectiva para 2016? E, ao mesmo tempo, para dar essa retomada, o clube acabou assumindo empréstimos bancários? O senhor acha que ter de recorrer a isso foi um ato quase de desespero à época?

Modesto - O Santos não recorreu a empréstimo bancário. Nós não pegamos dinheiro novo nenhum. Nós alongamos o perfil da nossa dívida. Então, uma dívida que tinha que ser paga em 2015, foi paga em 2015, 2016 e 2017. Com isso, sobram mais recursos. Isso faz parte da engenharia financeira, planejamento nosso antes de assumir o clube. Nós buscamos receitas. Receitas alternativas, receitas para podermos enfrentar esse momento. 2016 é um ano mais tranquilo. Um ano mais calmo, felizmente. Mas não é um ano com menos rigor. Nós precisamos manter o rigor para mantermos a responsabilidade. A responsabilidade fiscal e administrativa, talvez, seja a maior vitória do Santos. No começo do ano, o pior não foi a debandada dos jogadores. O pior foi no fim do mês anterior, quando nós estávamos iniciando um processo de transição aqui, e ver funcionários do café chorando, por que não tinham dinheiro para comprar nada no Natal, pois estavam com salários atrasados há três meses. Acho que isso talvez tenha sido mais difícil do que debandada de quatro ou cinco atletas. Os quatro ou cinco atletas saíram e foram seguir sua vida. Já tem gente querendo voltar, mas não tem mais espaço dentro de casa. Com todo respeito aos filhos pródigos, esse ano não vai dar para recebe-los. Mas nós temos que ter a consciência de que daqui para frente nós temos que trabalhar com rigor, não gastar mais do que arrecadamos, mantermos as folhas em dia, os salários em dia, porque isso é a nossa obrigação. E tudo isso com o melhor do nosso desempenho, disputando títulos como disputamos em 2015. Nós disputamos três competições profissionais. Campeonato Paulista, ganhamos. Copa do Brasil, perdemos nos pênaltis. Campeonato Brasileiro, até as últimas rodadas, defendemos uma posição no G4. Vamos ver se em 2016 nós ganhamos mais uma vez o Paulista, se ganhamos a Copa do Brasil e se conseguimos disputar o título do Brasileiro. Essa é a nossa missão.

DL - Qual jogador gostaria de voltar?

Modesto - Não posso falar.

DL - Sobre reforços, o que a torcida do Santos pode esperar?

Modesto - Responsabilidade. 

DL - Mas Robinho, grande ídolo da torcida do Santos, depois de tão pouco tempo, sinceramente, há a possibilidade do Robinho voltar a jogar no Santos  em 2016?

Modesto - Acho muito difícil. 

DL - Por que seria muito difícil?

Modesto - Porque o nível salarial do Robinho não está compatível com o nível salarial do Santos.

DL - Mas o Santos tem a intenção de receber o Robinho novamente?

Modesto - O Robinho sabe que o Santos é a casa dele. Quando ele quiser ele volta. Mas, o salário que nós podemos pagar é até R$ 200 mil (mensais). Mas vocês se confundem porque vocês viram a Dra. Marisa (Alija Ramos, representante do Robinho) aqui na Vila Belmiro hoje (sexta, 17) conversando comigo. Estamos conversando de outros jogadores. Estamos conversando especificamente sobre o Nicolas, que é um jogador do Sub-17, que está assinando o primeiro contrato profissional dele com o Santos. Isso foi furo para você (risos).

DL - Recentemente, antes do Robinho deixar o Santos, ele solicitou que o Santos pagasse os atrasados, fez um pedido para ficar e o Santos cumpriu tudo isso. Cumpriu com o que o Robinho pediu, mas, mesmo assim, não houve acerto. Hoje, aquilo que o Santos ofereceu para o Robinho à época é inviável?

Modesto - Completamente. Naquela época podia falar de salários de 400, 500, 600 (mil reais por mês). Mas hoje não se pode mais.

DL - A questão do novo estádio, como estão as conversas? O senhor está otimista com a construção de uma nova Arena aqui na Cidade? 

Modesto - Estou otimista, sim. A otimização é feita pela demanda e pela lucratividade que der. No dia 7 de janeiro nós temos uma outra reunião marcada em que os arquitetos vão apresentar um novo posicionamento da Arena dentro da área. Vamos nos reunir com os arquitetos, com os investidores, com a Portuguesa Santista e com os Portuários. E, talvez, ai sim, nesse momento, depois que tivermos esse outro estádio, a Vila Belmiro possa ser usada com grama sintética para jogos menores, jogos com menos atrativo. E o novo estádio, ai sim, com grama natural, atendendo os jogos com grande público.

DL - Ele também seria usado para shows?

Modesto - Claro. Senão você não viabiliza o projeto econômico do equipamento.

DL - O que contém no projeto, além do estádio?

Modesto - Estacionamentos, restaurantes, praça de alimentação, lojas. Vamos ter muitas coisas.

DL - E o Santos entraria com o quê? Pensando como investidor, como o investidor vai ter o retorno dele garantido?

Modesto - Essa planificação financeira está sendo feita, mas também com a venda de equipamentos dentro deste complexo é um fator de remuneração, como vai ser remunerado pelas vendas dos espetáculos nessa casa, que podem ser espetáculos de futebol, podem ser shows, podem ser eventos de qualquer natureza. 

DL - O Santos ficaria apenas com a renda do jogo?

Modesto - Não. O Santos entraria como um dos sócios desse negócio, como a Portuguesa também, como o Portuários também.

DL - Então, mesmo em dia de shows, por exemplo, uma parcela também iria para os clubes?

Modesto - Na verdade, somos sócios de um empreendimento.

DL - Mas a maior parte ficaria com o investidor?

Modesto - Estamos estudando o percentual de cada um.

DL - A localização é muito próxima a Santa Casa de Santos. O que os arquitetos dizem sobre isso, principalmente? Muito se questiona sobre o barulho que pode causar ao hospital.

Modesto - A troca de uma caixilharia, que já devia ter sido feita e, por questões econômicas, não foi feita. A Santa Casa é ao lado da Portuguesa Santista há muitos anos e nunca salientou este problema. 

DL - O senhor há de convir que torcida da Portuguesa é bem menor.

Modesto - Não sei. Tu dizes. A caixilharia e o isolamento acústico resolvem todos estes problemas. Não só dos shows no Portuários, que também é próximo.

DL - Seria o investidor que faria isso?

Modesto - Correto. Faz parte do projeto. 

DL - Ele (investidor) mexeria na Santa Casa a custo dele?

Modesto - A custo nosso. 
DL - Vai entrar dinheiro do Santos?

Modesto - Não. Dinheiro vivo, não. O Santos tem um nome muito forte. O Santos viabiliza o equipamento. Isso tem um valor econômico muito forte.

DL - Sobre a questão do uniforme. Como estão as tratativas, as conversas sobre o uniforme do Santos para 2016? Fale um pouco deste projeto.

Modesto - Isso não é mais um projeto, já é uma realidade. Já passamos a casa das 50 mil pessoas vendidas. Ainda sequer ninguém viu as peças, mas já se vendeu no atacado mais de 50 mil peças para a entrega a partir de janeiro. Isso é um negócio que deve ir muito bem, que deve dar um retorno muito interessante ao clube. O Santos vendeu 130 mil pessoas no ano de 2015 e só neste primeiro mês de lançamento os lojistas já compraram mais de 50 mil peças.

DL - A cada peça vendida, em dinheiro, quanto ficava para o clube?

Modesto - Antigamente ficavam R$ 11,00. 

DL - E agora?

Modesto - Entorno de R$ 50,00. R$ 55,00.

DL - E o clube assume quais gastos nisso?

Modesto - Todos. Na realidade, o fabricante fabrica. A empresa que faz a comercialização, comercializa. Isso já cobre os custos da produção. Mas 50 mil peças não estão incluídas as peças para as lojas do Santos.

DL - É um projeto pioneiro, inovador e que também envolvem riscos. Vocês sabem quanto o Santos precisa vender para não sofrer prejuízo com isso?

Modesto - No modelo feito, o Santos não tem como ter prejuízo, porque é fabricado aquilo que é vendido. Então, não há como se ter prejuízo. O custo do enxoval, que é o material que o clube usa, é entrono de R$ 1 milhão. O lucro com essa pré-venda já passou muito essa casa.

DL - O Santos estreia no Campeonato Paulista com uniforme novo?

Modesto - Estreia. A primeira venda vai ser no dia 26 de janeiro. As lojas oficiais do Santos já abrem com a coleção nova da 26 de janeiro, que é dia do aniversário da Cidade.

DL - Falando sobre Museu Pelé, segundo o senhor nos disse em outra oportunidade, o Santos entrou nisso muito pelo Pelé. O Santos entende que não seria bom para a imagem do clube ver algo de seu ídolo não dando certo, como não vem dando certo. Queria saber do senhor como estão as conversas diante de uma pequena pausa no otimismo. Antes, quando noticiamos as primeiras reuniões, falava-se muito em dias, questão de menos de uma semana para que tudo fosse concretizado. E passaram semanas e o negócio não saiu, pelo menos por enquanto. O que aconteceu para esse prazo não ser cumprido, já que era um otimismo de todas as partes envolvidas no negócio?

Modesto - Não houve interrupção de otimismo ou não. O que há são condições comerciais e contratuais que têm que ser muito bem feitas pela importância do negócio. O Santos não pode entrar no negócio para ter prejuízo. O Santos já está muito satisfeito com as dívidas que ele tem e não precisa ter a de outros. E essas coisas precisam ser muito bem costuradas para que o Santos não corra riscos.

DL - Segundo a prefeitura, o Santos não entraria com dinheiro algum e também não receberia dinheiro algum. Isso é verdade?

Modesto - É.

DL - Então, como o Santos teria prejuízo neste negócio?

Modesto - Pois é. Nós precisamos ter um contrato que assegure que o Santos não tenha prejuízo. E esses aspectos têm que ser muito bem estudados pelo nosso departamento jurídico, pela procuradoria da prefeitura, por todos os envolvidos, com seus departamentos jurídicos.

DL - Sobre a Legend 10, que detém os direitos comerciais do Pelé e até parte do acervo do Pelé. O senhor conversou com eles. É verdade eles terem indicado uma intenção de usar réplicas de algumas peças no Museu, e o Santos não foi a favor disso?

Modesto - Nós não temos a menor vocação para mostrar cópia como sendo verdade. O que é verdade é verdade. Então, o Santos não aceita, em hipótese alguma trabalhar com réplicas. Isso é um ponto que o Santos não abre mão, por respeito ao torcedor, ao turista, ao visitante. O Santos faz questão de que as peças sejam todas originais. Não abre mão disso.

DL - Quando o Santos mostra essa postura, qual é a receptividade do outro lado?

Modesto - É de aceitação. Ninguém nunca nos disse que não. Na hora que disserem que não, o Santos não assume. Ponto. O Santos assume verdades. O Santos não assume mentiras. 

DL - Por que esse negócio não saiu até agora?

Modesto - Porque as condições jurídicas têm de ser bem claras e bem estipuladas para que não haja surpresa no futuro. 

DL - Como o senhor avalia seu primeiro ano como presidente? Aproveitando, conversamos com o Léo (ex-lateral esquerdo) recentemente. Ele sonha ser presidente do Santos, mas disse que se assustou com algumas coisas, principalmente sobre as negociações. O que o senhor pode falar? O que assuntou o Modesto Roma Júnior quando sentou na cadeira da presidência?

Modesto - (risos) Olha, a coisa não é fácil. Não posso falar muito, senão o Léo vai desistir. Eu preciso garantir que vou ter um sucessor. Mas é difícil. Foi um ano muito duro. Confesso que estou terminando o ano cansado. Vamos ver se a gente descansar um pouquinho, porque 2016 vai ser muito mais cansativo, mas também muito mais prazeroso.

 

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