Estudo revela que caçadores-coletores na Ásia já preservavam seus mortos com fumaça 12 mil anos atrás, muito antes dos faraós egípcios / Yousuke Kaifu e Hirofumi Matsumura
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Enquanto a imagem das majestosas múmias egípcias domina o imaginário popular, uma descoberta arqueológica revolucionária revela que outra civilização já dominava uma técnica diferente de preservação dos mortos milênios antes.
Um novo estudo mostra que povos antigos do sudeste asiático praticavam a mumificação por defumação há aproximadamente 12 mil anos.
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Isso significa que essa arte ritualística é surpreendentemente 7 mil anos mais antiga do que as primeiras evidências encontradas no Egito.
A pesquisa, publicada na renomada revista Proceedings of the National Academy of Sciences, analisou quase uma centena de sítios arqueológicos para chegar a essa conclusão fascinante.
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Os caçadores-coletores que habitavam o sul da China, o sudeste asiático e ilhas como Bornéu e Java desenvolveram um método único.
Em vez de usar faixas e resinas, eles adotavam um ritual que utilizava o fogo de maneira controlada. Os corpos eram cuidadosamente amarrados em uma posição de agachamento e depois expostos por longos meses à fumaça de fogueiras que queimavam em baixa temperatura.
Esse processo lento e constante desidratava a pele e impedia a decomposição dos ossos, preservando os corpos para a eternidade. A prática, conhecida como mumificação por defumação, tem similaridades com tradições observadas muito depois em comunidades indígenas da Austrália e da Nova Guiné.
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Para desvendar esse mistério de 12 mil anos, os pesquisadores realizaram um trabalho de detetive arqueológico minucioso. A equipe analisou 95 sítios arqueológicos diferentes, onde muitos ossos apresentavam manchas escuras e sinais claros de exposição ao fogo.
Em seguida, o grupo conduziu testes de laboratório avançados em 54 desses esqueletos. Os resultados foram decisivos: as amostras revelaram alterações moleculares específicas e consistentes com um aquecimento prolongado e em baixas temperaturas, confirmando a hipótese da defumação intencional.
A eficácia dessa técnica ancestral tem uma explicação científica fascinante. A fumaça da madeira não é simplesmente fumaça; ela é composta por um coquetel de compostos químicos naturais com propriedades poderosas.
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Ela contém aldeídos, que agem como bactericidas, fenóis, que são antioxidantes, e ácidos orgânicos, que têm efeito preservante.
Juntos, esses elementos impedem a proliferação de microrganismos responsáveis pela decomposição. Além disso, o calor suave e a exposição constante à fumaça removem toda a umidade do corpo, que é um fator crucial para o apodrecimento, criando uma película protetora sobre a superfície.
Por trás de toda técnica, existe uma motivação cultural e espiritual profunda. Essa descoberta reforça a teoria de que a mumificação por fumaça estava intimamente ligada a crenças ancestrais.
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O objetivo era a preservação do corpo como uma forma poderosa de manter viva a memória e a presença dos entes queridos que partiram.
Hsiao-chun Hung, da Universidade Nacional Australiana, que liderou o estudo, disse à revista Science News que acredita que "essas práticas possam ter raízes ainda mais antigas, ligadas às migrações humanas a partir da África há cerca de 60 mil anos".
Por fim, o achado coloca uma nova perspectiva sobre outras tradições de mumificação. O povo Chinchorro, no Chile, desenvolveu seu método de embalsamamento há 7 mil anos, e os egípcios começaram a usar resinas por volta de 6.300 anos atrás.
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Agora, sabemos que a jornada humana para preservar seus mortos começou muito antes, e com fumaça, nas florestas do sudeste asiático.