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Cotidiano

Vítima de maus-tratos, labradora é adotada e motiva novo projeto para pets em Santos

Adele foi descoberta em 2017 por equipes da Codevida, após denúncia de um morador que a encontrou amarrada a um poste

Da Reportagem

Publicado em 17/07/2019 às 14:23

Atualizado em 17/07/2019 às 14:28

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Adele é uma labradora de 6 anos / Divulgação/PMS

A baia é aberta e Adele, uma labradora de 6 anos, corre em disparada. Alguns metros adiante, encontra o aposentado Ridel Pereira, 53 anos, a esposa, Rosa, 49, e o filho do casal, Robson, 21. Parecia claramente sentir que era seu último dia na Coordenadoria de Defesa da Vida Animal (Codevida) de Santos, dois anos após ser resgatada das ruas. Sem olhar para trás, ela entra no carro da nova família e segue para seu novo lar. Final feliz para uma história de maus-tratos e sofrimento, que motivou a criação do mais novo projeto da Codevida, o Hope, destinado a recuperar animais com desvios de comportamento severos.

Adele foi descoberta em 2017 por equipes da Codevida, após denúncia de um morador que a encontrou amarrada a um poste, em uma rua sem saída no bairro do Marapé, tentando avançar nas pessoas. Agressiva e arredia, foi levada para a sede do órgão, no Jabaquara, onde várias tentativas de ressocialização foram feitas. ''Ela estava muito assustada. Andava para trás, com o rabo entre as pernas, e rosnava. Parecia que ia me matar'', lembra Leila Abreu, coordenadora da Codevida.

Durante os meses que se seguiram, foram várias estratégias para mudar o comportamento do animal. Mas o cheiro e o latido dos outros cães incomodavam. Adele passava por baias de tamanhos diferentes. Nada surtia efeito. Ela continuava estressada e fechada para o mundo. Comportamentos incompatíveis com os de um labrador.

''Foram dois anos de muita paciência. O comportamento dela não mudava. Ela só reagia positivamente para comida''.

Até que, há cerca de dois meses, as coisas começaram a mudar. Robson, filho de Ridel, viu a foto de Adele na página do Facebook da Codevida e a família, que pensava em adotar um animal, simpatizou com a labradora de imediato.

A certeza de que gostariam de ficar com a cachorra se confirmou quando eles a conheceram. Dali em diante, iniciaram uma experiência com Adele, sob monitoramento da Codevida. Durante 30 dias, casal e filho saíam de casa, na Esplanada dos Barreiros, em São Vicente, para visitar a labradora, dar comida e levá-la para passear.

Com o passar do tempo, Adele pegou confiança e os passeios feitos na presença de um funcionário da Codevida começaram a ocorrer apenas entre eles. A labradora já apresentava mudanças no comportamento.

''Nós estávamos tentando adotar um animal e sempre olhávamos o Facebook. Quando vimos Adele, ficamos com muita pena. A história dela não nos assustou e hoje ela está completamente diferente'', conta Ridel.

Brincalhona, a cachorra adora passear e não sai de perto dos donos. Não se isola e exige atenção. Mas Ridel nota alguns sinais que podem representar algo do passado da labradora. ''Ela não suporta lugar escuro e fechado. Pode ter relação com o que aconteceu com ela''.

Adele, segundo um morador relatou à Codevida, era constantemente agredida pelo seu antigo dono, que a abandonou amarrada ao poste.

Resgatada pelo amor

Enquanto vai se acostumando à nova vida, repleta de mimos e muito carinho, a labradora preenche o dia a dia da família com alegria.

''Essa cachorra sabia que estava indo embora para ser feliz. Ela não entraria em qualquer carro. Foi um caso claro de um animal que sofreu um abalo emocional muito forte, mas que foi resgatado pelo amor de uma família'', diz Leila.

Segundo ela, o final feliz de Adele é exemplo de que não se deve desistir quando um processo de adoção parecer difícil. ''Não se deve julgar. O que existem são animais reativos. Com perseverança e amor, é possível recuperar um animal''.

Adoção é responsabilidade

Atualmente, a Codevida possui cerca de 130 cães e gatos disponíveis para adoção. Os candidatos passam por entrevista e só levam o pet para casa após a coordenadoria constatar que a escolha é apropriada ao estilo de vida dos novos donos.  Todos são levados em domicílio, castrados, vacinados e microchipados.

Para quem não tem condições de adotar um animal, mas gosta de bichos e deseja ter mais contato com eles, pode procurar alguns dos serviços oferecidos pela Codevida. O mais recente, Hope, foi desenvolvido informalmente com Adele e agora funciona aos sábados.

Projeto Hope – Com a ajuda de voluntários selecionados e orientados, cães em situação especial na Codevida, que não foram recuperados pelo Rolê Animal e apresentam desvios de comportamento, são levados para passear quinzenalmente, aos sábados. Não são animais agressores, mas apresentam sinais como medo e hiperatividade. ''São casos especiais. Não é meramente um passeio. Não se pode ter contato visual com os cães, nem chamá-los pelo nome. Os voluntários são orientados a associar a imagem do ser humano a algo positivo''.

Rolê animal – programa em que o voluntário pode passear com os cães durante três dias por semana, às quartas, quintas e sextas, das 13h às 16h. Os interessados devem comparecer à Codevida com documentos pessoais.

Aconchego felino

Como os gatos não saem da Codevida, os interessados podem dispor de um tempo na semana para fazer companhia aos pets. O serviço funciona da mesma forma que o Rolê Animal, de quarta a sexta, mediante apresentação de documentos.

Padrinho de fim de semana

Eesse serviço é para quem gosta de animais, mas tem medo de adotar ou não tem tempo para se dedicar aos bichos. Os candidatos levam os pets para casa para passar o final de semana, mas, segundo Leila, a cada 10 casos, entre 6 ou 7 acabam ficando com os animais definitivamente.

Cão comunitário

Desde 2013, a Prefeitura de Santos tem a Lei do Cão Comunitário, Lei Complementar nº 811 (http://www.santos.sp.gov.br/?q=content/caes-comunitarios-ganham-lei), que garante proteção legal e atendimento médico, vacinação e castração de animais que não têm dono, mas que vivem em áreas fixas da Cidade ou que pertencem a moradores de rua. O trabalho é feito em parceria com duas ONGs:  Viva Bicho e Defesa da Vida Animal.

Serviço

A Codevida fica na Av. Francisco Manoel s/nº, no Jabaquara. O atendimento é de 2ª a 6ª, das 9h às 12h e das 14h às 17h. Informações pelos telefones 3203-5593 / 3203-5075.

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