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Cotidiano

Trabalhador da limpeza de universidade sonha em se formar em Letras

Nos momentos de folga, Clayton Oliveira da Silva se dedica a aprender espanhol, alemão, francês e russo

Carlos Ratton

Publicado em 05/05/2014 às 10:20

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No primeiro contato com o jovem Clayton Oliveira da Silva, logo fica nítida sua simplicidade, uma característica até muito comum em função de sua atividade: trabalhador da limpeza da Faculdade de Direito e Arquitetura, da Universidade Católica de Santos (UniSantos). Porém, basta alguns minutos em sua companhia para perceber que outra qualidade sua é a grandiosidade. Autodidata em línguas, ele deseja estudar Letras para poder ensinar idiomas a pessoas carentes. Ou seja, se conseguir alcançar seu sonho, ganhará mais uma característica marcante: a generosidade.  

Morador do Morro da Nova Cintra, Clayton ajuda no sustento da família, formada pela mãe e três irmãos, com o emprego na empresa terceirizada que presta serviços à UniSantos. Nos momentos de folga, se dedica a aprender espanhol, alemão, francês e russo. “Eu ouço as falas e, com auxílio da internet, pratico a escrita e a conversação. O alemão básico eu já consigo entender e o espanhol eu já falo bem. Meu sonho é poder me formar em Letras e ensinar pessoas carentes, mas não tenho dinheiro para pagar uma faculdade”, afirma Clayton, que recebe R$ 820,00 por mês bruto.

Além do uso do computador, Clayton também se utiliza da literatura tradicional. “Eu comprei um dicionário russo e tenho quatro na língua alemã. Todos os dias eu leio, vejo a tradução e vou memorizando. Depois, com o áudio do celular em alemão, eu vou praticando a pronúncia. Tempos atrás, consegui um contato com grupo de ingleses no Morro da Nova Cintra que também falavam alemão. Fiz uma espécie de intercâmbio, com o mínimo de inglês que domino”, conta, quase sem se dar conta da quinta língua em seu currículo. 

Prestar vestibular é próxima meta, apesar das dificuldades previstas para pagamento de mensalidades (Foto: Matheus Tagé/DL)

Clayton disse que vai tentar o vestibular, mas sabe que as dificuldades são muitas, pois acredita que mais da metade de seu salário seria para pagar os estudos e essa realidade o faz ficar cada vez mais longe de seu sonho. “Pelo menos vou tentar uma vaga. Vou correr atrás do que eu quero. Se eu passar, terei um novo obstáculo: a falta de dinheiro. Mas tenho esperança em me tornar professor. Quero ver outros jovens se formando por meu intermédio”.

Apesar do otimismo, Clayton deixa por alguns momentos transparecer um pouco de frustração. “Se você tem um talento e não consegue expandi-lo, compartilhá-lo com outras pessoas, é um pouco triste. Com o curso de Letras, eu poderia ampliar meus horizontes e até dar aulas com técnica e muito mais conhecimentos. O que me deixa feliz é que os alunos me incentivam e falam que eu vou conseguir um dia me formar.

O incentivo recebido por Clayton é verdadeiro. Na faculdade, entre um intervalo e outro, é muito comum os estudantes conversarem com Clayton em espanhol.

Ele também tem o carinho dos companheiros de trabalho, que enquanto Clayton mantinha contato com a reportagem, ficaram posicionados em frente à faculdade, orgulhosos ao ver Clayton dar entrevista. “Meus amigos torcem por mim e sabem do meu esforço. Isso é muito bom”, finaliza, olhando em direção ao prédio da faculdade, na Avenida Conselheiro Nébias, no Boqueirão, em Santos.

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