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Cotidiano

Os riscos de um mergulho malsucedido

Segundo levantamento, 50% dos pacientes vítimas de acidentes em água rasa ficaram tetraplégicos.

Vanessa Pimentel

Publicado em 24/02/2019 às 13:06

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Centro de Reabilitação Lucy Montoro Santos. / Nair Bueno/DL

Um levantamento do Centro de Reabilitação Lucy Montoro Santos feito em 2018 mostrou que 50% dos pacientes vítimas de acidentes causados por quedas em piscina, cachoeira e água rasa sofreram lesão medular com o comprometimento do movimento de todos os membros (tetraplegia). Deste total, 100% são homens e tem entre 55 e 65 anos.

De acordo com o diretor e médico fisiatra da instituição, Celso Vilella Matos, os banhistas devem tomar cuidado ao mergulhar em águas desconhecidas e no caso de cachoeiras, não mergulhar em águas com menos que o dobro da altura.

Além destas orientações, o especialista alerta para que os usuários não entrem na água ou mergulhem embriagados, não participem ou permitam brincadeira quando estiver nadando e ao mergulhar, estendam os braços ao lado da cabeça para protegê-la.

Desde 2010, a Rede Lucy Montoro atende as noves cidades da Baixada Santista, e age em casos de lesões medulares, amputações e má-formação, lesões encefálicas do adulto (LEA), traumatismo craniano e acidente vascular encefálico, paralisia cerebral e dor incapacitante. Os interessados em receber tratamento devem acessar o site lucymontorosantos.org.br, preencher o formulário e entregá-lo pessoalmente na unidade. 

DL – Segundo o levantamento, 100% dos casos registrados ano passado aconteceram com homens. Por que homens se acidentam desta forma bem mais que mulheres? É comportamental?
Celso Vilella - Os homens se arriscam mais e são menos prudentes em situações de perigo. Talvez isso justifique todos os registros serem do sexo masculino. 

DL - Em relação aos locais (mar, piscina, cachoeira) é possível dizer qual oferece o maior risco de acidente ou depende sempre das condições de profundidade? 
Celso Vilella - O risco está em todos os lugares. O que nos preocupa é a forma como o aproveitamento do lugar será feito, pois nesta época do ano o índice de acidentes em águas aumenta muito no Brasil. As causas são diversas, mas na maioria dos casos a pessoa “mergulha de cabeça” sem conhecer o local e a profundidade.

DL - É só a falta de profundidade que oferece risco ou a forma como o corpo cai na água (mau jeito) durante o mergulho também?
Celso Vilella - A coluna é um dos órgãos mais vulneráveis do corpo humano e quando sofre um grande impacto há grandes chances de uma lesão, onde todo o corpo pode ficar paralisado, seja ele através do mergulho ou não. A forma como o corpo cai na água também influencia e a superfície da água pode oferecer resistência suficiente para lesionar a coluna.

DL - Já foram registrados casos em 2019 na Baixada Santista? 
Celso Vilella – Não possuímos esta informação. Nosso Centro de Reabilitação recebe os pacientes após a alta hospitalar. Geralmente um paciente com esse tipo de lesão fica internado entre 30 e 40 dias.

DL - Problemas na coluna como, por exemplo, um bico de papagaio ou compressão da medula não tratada, podem agravar as consequências de um acidente como este?
Celso Vilella – Toda alteração da coluna pode agravar esse tipo de acidente. Precisamos sempre tratar da nossa saúde.

DL - Além da tetraplegia, quais outras complicações podem ocorrer em um mergulho malsucedido?
Celso Vilella – Um mergulho malsucedido pode ocasionar diversas lesões, desde ferimentos e escoriações, traumatismos cranianos, paralisias pela lesão da medula ou até a morte. A tetraplegia é uma lesão na medula que chamamos de alta, mais perto do pescoço, em que a pessoa perde totalmente os movimentos de braços, pernas e tronco ou a pessoa pode ter uma paraplegia, nas lesões mais perto da lombar e com comprometimento nas pernas e tronco. Essas lesões ainda podem ser completas, com perda total da força do músculo e sensibilidade ou incompleta, em que há fraqueza, desequilíbrio e falta de coordenação.

DL - Como evitar este tipo de acidente?
Celso Vilella – Para que a diversão não termine em tragédia é preciso ter alguns cuidados: quando der um mergulho não o faça de cabeça. Antes, entre na água em pé para se certificar sobre a profundidade; Não mergulhe em águas turvas; Não ingira bebida alcoólica antes de mergulhar; Não empurre os amigos para dentro d’água. 

DL- Em caso de acidente, como deve ser feito o socorro?
Celso Vilella – A manipulação do indivíduo lesionado sem o conhecimento ou com a imobilização inadequada pode piorar a lesão, por isso, a vítima deve ser levada somente até fora da água e aguardar a chegada de ajuda especializada. Não é recomendado testar os movimentos do acidentado, tentar levantá-lo ou sentá-lo. Os primeiros socorros devem ser realizados por um profissional.

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