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Cotidiano

Centro dos Estudantes de Santos: uma triste realidade

Fundado em 1932, equipamento foi alvo da repressão da ditadura militar na década de 60

Pedro Henrique Fonseca

Publicado em 15/12/2013 às 01:02

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Se as paredes do Centro dos Estudantes de Santos (CES) falassem, teriam muita história para contar. O equipamento, que foi importante ferramenta de articulação e debate para jovens, também alvo de repressão durante a ditadura militar, hoje abriga festas aos finais de semana, que bancam algumas poucas oficinas realizadas no espaço, que se encontra sem manutenção e com problemas estruturais.

Fundado em 1932, o espaço sediou reuniões de jovens que passaram pelos mais diferentes períodos que marcaram a história do País. O mais famoso deles, a ditadura militar (1964-1985), aqueceu as mobilizações dos frequentadores do CES, que chegaram até a serem levados ao Departamento de Ordem Política e Social (DOPS), órgão do governo que controlava e reprimia os movimentos sociais contrários.

Hoje, o Centro, que continua com sua sede ao número 308 da Avenida Ana Costa, abriga alguns cursos para jovens, mas é mais conhecido entre os universitários por ser palco de festas aos finais de semana, que reúnem uma quantidade considerável de pessoas.

Os eventos, justifica Marina Pereira, a diretora de comunicação do CES, arrecadam fundos para quitar as contas do local mensalmente. Ela também mora no espaço e cursa Serviço Social na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), em Santos.

Frequentador do CES há quase 11 anos, o músico Marcos Santos conta que o Centro já foi mais ativo no passado. Hoje, o que acontece no local são reuniões voltadas basicamente a movimentos culturais. “A galera se reúne aqui para desenvolver trabalhos culturais, umas bandas se apresentam, tem também algumas peças de teatro”, conta. Mas, na visão dele, os jovens que atualmente costumam ir ao local têm que discutir mais política. Uma vez por semana acontece um curso de formação política no espaço.

Espaço, sediado na Avenida Ana Costa, se encontra sem manutenção e com problemas estruturais (Foto: Matheus Tagé/DL)

Década de 60

No começo da ditadura militar, na década de 60, o Centro dos Estudantes de Santos chegou a ser fechado pelo governo da época, que se sentiu ameaçado com as reuniões de jovens no local. “Naquela época, qualquer reunião com mais de três ou quatro pessoas já era vista como ameaça pelo governo”, conta Daniel Gomes Rodrigues, que foi presidente do centro entre 1967 e 1968. Hoje, ele tem 64 anos e não mora mais em Santos.

Daniel fala que o espaço foi palco de mobilizações de estudantes, que se sentiam reprimidos pelo momento político pelo qual passavam. O CES servia de base para os jovens se reunirem e terem informações de como estavam sendo as mobilizações e como o governo estava agindo em outros estados do País. “A gente recebia informações de todo lugar do País e repassava para os estudantes”.

Mas, o ex-presidente do CES afirma que as reuniões no local não eram partidárias, com um idealismo de combate ao governo. Daniel diz que os encontros serviam simplesmente para os estudantes defenderem seus direitos, muitos deles cassados na época da ditadura.

Daniel, que conhece a atual realidade do CES, acha triste ver que o espaço já não é mais utilizado pelos jovens com o conceito que os estudantes daquela época tinham. “Os jovens eram politizados. Cada época é uma época, e uma geração uma geração, mas é importante que os jovens de hoje em dia se atualizem mais sobre a situação política do País e discutam isso”.

Interdição

O Centro dos Estudantes de Santos sofreu o maior ato de repressão da ditadura militar quando um dos jovens, menor de idade, conta Daniel, estendeu uma faixa em frente ao local, com os dizeres “morte ao governador”, durante uma visita de Roberto Costa de Abreu Sodré, governador da época.

“O menino (o menor que estendeu a faixa) não sabia nem o que estava fazendo, hoje a gente ri do que passou, mas na época sofremos uma repressão muito grande, o governo fechou o Centro”, conta Daniel, que foi levado ao Dops depois disso.

Lá, o ex-presidente do CES passou por uma série de questionamentos sobre o que era debatido durante as reuniões dos estudantes, mas conta que não chegou a ser torturado. “O Centro dos Estudantes de Santos era uma ameaça para o governo da época. Os jovens do País têm que entender a força que eles têm nas mãos, assim como os jovens da década de 60 sabiam”, ressalta Daniel, sobre a realidade dos estudantes que frequentam hoje o CES.

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