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Valle Tudo

Esperar por Ancelotti é uma humilhação para os técnicos brasileiros, não para a seleção

O Brasil perdeu pra Senegal por 4 x 2 e logo a indignação tomou conta das redes sociais. As manifestações são uma mistura de sentimentos dos quais não concordo. 

O primeiro equívoco é realmente achar vergonhoso que o Brasil perca pra uma seleção africana, sendo a atual campeã do continente, recheada de atletas que atuam por igual com brasileiros no futebol mais disputado do mundo, o europeu. 
A seleção senegalesa é, hoje, a sequência de um projeto, enquanto a seleção brasileira recomeça um ciclo do zero depois de um novo fracasso. 

Vejo ainda um enorme preconceito em cima do futebol do continente africano que teve Marrocos como representante em uma semi-final na última edição do torneio mais importante do mundo. 
Inclusive, chegando mais longe que a seleção brasileira, com um treinador recém-chegado, que assumiu poucos meses antes da Copa. 

E é justamente em Marrocos que me apego pra atacar algo que me aflige: o desespero forçado de que precisamos urgentemente de um treinador, faltando três anos para uma nova Copa do Mundo. 

É preciso destacar que estamos falando de um continente que deve levar sete representantes para a próxima edição da Copa. Com o detalhe de que apenas 10 seleções disputam a eliminatória sul-americana.

Me pergunto qual o motivo de tamanho imediatismo e estridência, sendo que estamos falando de um país que nunca deixou de disputar a competição? 

Alguns se apegam a grandeza da seleção mais vencedora da história, mas se esquecem que em 2026 vamos completar 24 anos sem títulos, com apenas uma ida a semifinal nesse tempo (que seria melhor se fosse evitada). E com eliminações para seleções com pouca tradição como Bélgica e Croácia, dirigentes afastados e até presos por casos de corrupção e assédio sexual, além de um futebol local que hoje deve representar, no mínimo, a 2ª divisão do que é jogado pelo mundo. 

Estamos falando de um país que conquistou três desses cinco títulos em uma outra era do esporte, contando com o mais espetacular atleta que nossos olhos já viram. 

Penso que tratamos a seleção brasileira como algo maior do que ela representa atualmente. 

Prefiro fazer uma análise do futebol brasileiro como um todo, com o fim justificando os meios. 
E a questão está no que estamos produzindo por aqui. 

Não acho que o nível dos jogadores brasileiros esteja abaixo de outros países. Nem de Senegal e nem da Alemanha. Numa modalidade que se voltou muito mais para a parte física, tudo se nivelou. 

Parte da culpa está na forma como os europeus encontraram para equilibrar as coisas. Aos poucos fomos abandonando a essência do jogo, mirando apenas no resultado final. Deixamos de lado a magia e focamos na força e tudo ficou muito parecido. 

Portanto, o detalhe acaba fazendo a diferença, ainda mais em uma competição disputada em no máximo sete jogos, como é a Copa do Mundo. O detalhe pode ser um jogador extra-classe, pode ser uma postura tática, uma escolha do treinador ou mesmo o acaso de uma bola que bate na trave ao invés de balançar as redes. O resultado vai determinar se aquele trabalho deu certo ou não. 

Quando um estrangeiro, como Abel Ferreira, chega e ganha tudo em um cenário nivelado, fica escancarada a defasagem dos profissionais que estão por aqui e não conseguem ter o mesmo desempenho do português. 
Quando nenhum treinador brasileiro é cotado para assumir um grande clube europeu, também. 

Chega a ser humilhante para a classe de técnicos, quando é preferível esperar um ano para que um treinador de ponta estrangeiro assuma o comando da seleção nacional.

E nada me faz embarcar na ideia de que a espera é mais uma vergonha produzida pela entidade que rege o futebol por aqui, entre tantas já geradas. Talvez seja o maior acerto em anos.

Existisse um nome de consenso entre os profissionais brasileiros, ele já estaria lá trabalhando. Fosse o caso de uma Copa do Mundo batendo a porta, também. Nada disso está na mesa da CBF. Não é sobre o tempo que falta e sim em ter em quem confiar. 

Nenhum treinador brasileiro faz brilhar os olhos. O forasteiro Abel, antes de ser uma figura que mais incomoda do que inspira (sendo que deveria ser ao contrário), não me parece ter o desejo de assumir uma seleção nesse estágio que se encontra na carreira. 

Restando longos três anos para a Copa na América do Norte, com um calendário pouco atrativo e desafiador, qualquer tipo de desespero me parece forçado e genérico, como uma indignação plastificada em consequência de um sentimento de grandeza que já não temos mais. 

Tite assumiu a seleção dois anos antes de uma Copa. Caiu nas quartas de final. 
Teve mais quatro anos para seguir desenvolvendo o bom trabalho que vinha fazendo. E caiu novamente nas quartas.

A seleção brasileira precisa de um treinador que garanta novamente o país entre os quatro primeiros colocados de uma Copa do Mundo. Pelo menos. Garantia que Ancelotti, com 4 títulos de Champions League, vencedor das principais ligas nacionais do continente europeu, parece ter. 

É preciso mais humildade na análise. 
Não falta grandeza por esperarmos um pouco mais pelo melhor. Falta quando achamos que ainda somos os maiores. Sequer somos os mesmos.

 

*foto: Rafael Ribeiro/CBF

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