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Nilton C. Tristão

Os gatilhos da autodestruição social

Por quais motivos algumas comunidades contagiam-se pela compulsão em atacar os preceitos e valores que representam a própria evolução? Por que desprezam a concórdia e harmonia que dão equilíbrio, segurança e significado ao conjunto de experiências? Por que se afastam da bondade e cordialidade para flertar com o ódio?  Qual o motivo de cultivarem a repulsa por definições que poderiam torná-las melhores?  Por que diante da oportunidade de celebrar a vida, optam pelo culto a morte? Por que mesmo com a possibilidade de sentar-se ao lado de Zeus, escolhem residir nas turbulências dos domínios de Hades? Por que se tornam prisioneiras voluntárias de seus pesadelos?

Pois bem, em determinados períodos históricos o descontrole emocional restrito ao comportamento delirante singular pode ser potencializado e evoluir para transmutar-se em identificação grupal, lastreado na negação de ideários fundamentados no esclarecimento, ciência, luz e razão. Para tanto, os ditames de liberdade e coesão em suas proporções plenas são relativizados enquanto conquistas inalienáveis da humanidade.

Nesse contexto, os novos paradigmas sombrios devem assumir a forma de regras, tais como: 1) a predominância da submissão intelectual em detrimento da emancipação do conhecimento; 2) a conduta restritiva em contraposição à expansão da autodeterminação; 3) a imposição da tensão tribal em ruína ao acolhimento universal; 4) a supremacia do opaco ideológico sobre as matizes coloridas das diferenças culturais.

Em outros termos, o regresso do homem ao cárcere da infâmia, uma vez que inexiste qualquer tipo de governança perversa sem que haja parte da sociedade permeada por mentes corrompidas e incompassivas. A luta esquizofrênica dos antivacinas e supremacistas, nunca aconteceria sem que houvesse o transtorno de ansiedade em dimensão coletiva, causador de manifestações que desembocam em sensações latentes de medo, dúvida, receio, inquietação, impotência ou expectativa.

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As motivações autodestrutivas podem aparentar intempestividade em um primeiro momento, contudo, carregam em seu bojo, a liberação de impulsos primitivos e o desejo de descontar as frustrações, associado a vontade incontida de ir à desforra. “Esses hábitos acabam tomando conta de quem os cultiva, podendo se transformar em vícios... resposta a uma dor emocional reprimida” (Tatiana Pimenta).

Os principais sintomas sociais são: 1) o não reconhecimento de sucessos que fogem ao campo particular de convicção; 2) a busca por defeitos inconciliáveis em agentes divergentes, justamente para referendar a ausência de ética na prática de sabotagens; 3) a deliberação de pré-julgamentos que depreciam o juízo contraditório; 4) a intolerância refratária ao convívio ilustrado e sustentado nos pilares da pluralidade.

Assim sendo, de que forma poderemos recolocar o gênio do mal para dentro da garrafa? Uma das possibilidades seria a criação de barreiras psíquico-sanitárias capazes de preservar as mentes que permanecem sadias, impedindo que a infecção transmissora da impertinência se apresente como alternativa ao pensamento congruente e se dissemine para além das hordas de infectados. 

Logo, nos resta compreender, se o modo empático corresponde a um estado inato ou adquirido do espírito, porquanto, a resposta nos preparará para conter a proliferação da ignomínia que teoricamente desenha um ciclo perene resgatado por almas adormecidas - amigos, parentes, vizinhos, familiares, lideranças, entre outros – que aguardam as situações propícias para desenvencilhar-se da hibernação e adentrarem por mais uma vez em frenesi catatônico.

Nilton C. Tristão
Cientista Político

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