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José Renato Nalini

Fome no celeiro do Mundo

Não é crível que mais da metade dos brasileiros padeça de insegurança alimentar em pleno 2021. O Brasil que alimenta o mundo, tanto os humanos como os demais animais, deixa vinte milhões de seres racionais passando fome diariamente.

Os vaticínios malthusianos não se concretizaram. Existe alimento para saciar a fome de toda a humanidade. O que não há é sensibilidade. Compaixão. Comiseração. Como tem sido noticiado e constatado, nas ilhas de produção mais copiosa, no agronegócio mais eficiente, as periferias encontram-se na mesma situação dos abandonados da sorte nas cruéis conurbações. 

Entretanto, o Brasil também se caracteriza como alguém que desperdiça toneladas de alimentos a cada dia. Leis burras impedem a destinação compatível com o que sobra, que poderia suprir a deficiência famélica. Prefere-se jogar no lixo comida que poderia garantir a subsistência de semelhantes privados do que comer.

Importante conscientizar a todos de que comida não se desperdiça. E louvar iniciativas como a de uma grande rede de supermercados que fala em “desperdício zero”. Com isso, evitou-se que toneladas de alimentos fossem perdidas. Ações coo reutilização, recuperação, redução e regeneração de comida são bem-vindas.

É ampliar aquilo que a economia doméstica já conhece. Mães previdentes e econômicas sabem que não se pode brincar com comida. Assim, produtos de padaria ainda próprios são convertidos em coprodutos, como farinha de rosca e torradas. A estética é importante, mas aqueles legumes ou frutas não tão fotogênicos, podem ser vendidos com descontos. Quando no dia do vencimento, podem ser adquiridos por metade do preço. 

Também não é proibido – mas deveria ser incentivado – o gesto de doar aos mais carentes produtos em condições de consumo. Alimentar animais que vão entrar na cadeia nutritiva – galinhas e porcos, por exemplo, é algo que pode entrar num projeto de boicote ao desperdício.

Tudo se aproveita numa economia inteligente. Subprodutos de açougue, como sebo e ossos, têm de ser encaminhados às indústrias de graxarias. Outros se reservam para a compostagem, funcionarão como nutrientes do solo. Geram até renda, pois se transformam em terra vegetal.

Não se vê um estímulo governamental para que essa cadeia se propague e se intensifique. Não espere governo! Faça você mesmo.

* José Renato Nalini, presidente da Academia Paulista de Letras

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