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Olhar Filosófico

Muitos líderes, poucos líderes

No fenômeno da liderança, perceberemos que um líder, reconhecidamente como tal, possui uma habilidade que, em tese, o faria mais fraco: a de formar outros líderes. Mas, pois, afinal, nos dá a impressão de descentralização do poder, uma vez que, assim, sua liderança (central) estaria em perigo. Nada mais equivocado do que este pensamento!

Quando pensamos num líder capaz de formar, incentivar e cativar outros a despertarem também para a liderança, não estamos diante da fraqueza de um pretenso comandante fragilizado, mas, de forma oposta, diante de um genuíno indivíduo consciente de suas atitudes, posições e responsabilidades. O líder, portanto, é esse indivíduo que entende a ideia central na formação das personalidades de maior influência social, qual seja, a de que demonstra que um líder é uma construção coletiva, uma personalidade que responde a e por uma comunidade político-ideológica e cultural.

Em primeiro lugar, devemos notar que a liderança se manifesta por qualquer parte das funções e dos papéis sociais desempenhados por nós, o que deixa evidente o erro corriqueiro de imaginar líderes somente no mundo corporativo e em movimentos político-partidários. Líderes são pais/mães, filhos(as), esposos(as), profissionais etc, de modo que, sem exceção, pelo desenvolvimento e construção dos seus talentos, ascendem ao status de liderança.

Em segundo lugar, um líder, por entender, justamente, que não é o único e que a liderança aparece em todos os meios e de todo jeito, compreende e se empenha em ir deixando um pouco de si em todos aqueles que o cercam, de modo a não se preocupar se será ou não superado naquilo que faz e fez, uma vez que sabe que o ser humano é o ser da superação, donde podemos sempre nos humanizar cada vez mais. E, para que cheguemos a essa compreensão de liderança, que é uma verdadeira co-liderança, devemos, também, analisar como lidamos com a responsabilidade social que nos envolve.

Ao falarmos em responsabilidade, temos que ter o cuidado de não transformarmos o conceito em resultado ou efeito de um poder entendido como impositivo, isto é, por exemplo, quando, principalmente, aos jovens, através dos meios de comunicação de massa, lhes dizem (de maneira vaga!) que é preciso ter responsabilidade, passam a seguinte idéia: “A validade ou preocupação em ser responsável significa, estritamente, já estar de acordo (em seus deveres) com determinada norma ou lei.”

Se pararmos um pouquinho para pensar, veremos que nem toda lei (ou norma) é justa e, a partir daí, invalido logicamente o argumento, esvaziando o discurso. Por isso, grandes líderes, mais do que por códigos legais, pautam-se por princípios, percebendo, inclusive, que esses mesmos códigos nascem e mudam em consonância com determinados princípios, determinadas ideias, determinados valores e determinadas demandas. A responsabilidade não se limita a questões pontuais e de observação das regras impostas, mas, antes de tudo, diz respeito à nossa capacidade e formas de responder às nossas atitudes mais autênticas. Então, a responsabilidade tem um caráter muito maior do que qualquer lei, e mais, ela nos coloca em sintonia com o todo que me envolve (natureza, homem, mundo), afinal, ao responder pelos meus atos, assumo um determinado sentido de vida.

Portanto, a responsabilidade deve assumir um caráter de pertença, pertencer ao coletivo e assumi-lo, também, como extensão de meu corpo, da minha mente. Assim, cada vez mais, vou construindo todo um conjunto de situações em que o outro me é caro e fundamento às minhas ações e posições. Com tudo isso, não mais verei a responsabilidade como ato isolado, ou determinado por lei, mas como aquilo que me permite escolher com propriedade e qualidade. Não existe líder “sobre”, existe líder “com”. O indivíduo que se sobrepõe ao outro para justificar sua liderança, não é líder, é um tirano, um perverso, um ególatra, um idiota, no sentido clássico entre os gregos!

 

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