05 de Maio de 2024 • 01:05
José Renato Nalini
“Love is in the air” é a música de John Paul Young, que muitos escutávamos em 1977 e que transmitia uma inspiração otimista. Como não se animar se o amor, o cimento da coesão entre os humanos, espalha-se pela atmosfera, com isso contaminando todos os corações?
Quarenta e cinco anos depois, o que é que está no ar? Ao contrário do amor, o que parece preponderar é o ódio. Sentimento inferior, aquilo que desumaniza o ser racional e o aproxima dos animais desprovidos de razão.
Por que o amor parece ter sido substituído pela ira, instinto próximo à violência e inebriado de real agressividade? Há uma série de razões. O declínio dos valores, sobre os quais se alicerça uma personalidade que enobrece o gênero humano. O afastamento que as pessoas provocaram entre elas e a transcendência é outra causa. Quando o espírito não se abebera do etéreo, deixa de procurar uma religação entre criatura e Criador, a existência se trivializa e perde conteúdo.
Além disso, a humanidade se transformou e adotou como lema o egoísmo, o narcisismo, o consumismo, o materialismo e vários outros “ismos”, todos eles perigosos.
Somos surpreendidos por vários crimes perpetrados contra grupos, um deles, em Buffalo, nos Estados Unidos, impregnado de racismo: o receio de que a raça branca tenda a desaparecer, diante da miscigenação.
A subsistência do racismo estrutural em civilizações como a norte-americana é um sintomático índice do retrocesso registrado pela aventura humana nestes plúmbeos tempos. Mas o Brasil, lamentavelmente, não está melhor. Ao contrário, constata-se uma perigosa polarização, que estimula o fanatismo e a intolerância, provoca o recrudescimento das ofensas, ergue uma barreira que separa semelhantes, em lugar de uni-los.
Para deixar tudo ainda mais complexo e tenebroso, o Brasil sofre um processo nefasto de estímulo ao armamento, a pretexto de propiciar aos “honestos” consigam se defender dos “bandidos”.
A experiência evidencia que a disseminação das armas de fogo vai garantir a desenvoltura com que as organizações criminosas se articulam, invadem várias esferas, atuam paralelamente ao Estado e semeiam situação de verdadeiro terrorismo, em que “o inimigo são todos”.
Que triste caminho de volta ao primitivismo, com a expulsão do amor que pairava no ar na década de setenta do século passado e o surgimento do detestável ódio em seu lugar.
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