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Debates Contemporâneos

Jornalismo de qualidade não precisa expor a face do crime

Diante da explosão de casos de violência e ataques em escolas que vem acontecendo em todo o Brasil, temos que aplaudir a decisão dos principais veículos de imprensa de deixar de divulgar informações sobre os agressores, diminuindo a notoriedade dos criminosos e a repercussão dos casos.

Ao dar a notícia sem publicar nomes, imagens ou outros detalhes das ações, esses veículos estão contribuindo para o bom jornalismo, atuando como imprensa séria, que cumpre seu dever de informar sem extrapolar limites, pois é fato que a divulgação desse tipo de conteúdo incentiva outros jovens a cometer crimes semelhantes. Segundo vários especialistas, a tese  central do chamado "efeito contágio" é a de que esses agressores, normalmente pessoas isoladas socialmente, buscam justamente a notoriedade.

E é isso que nossa sociedade, em um esforço conjunto e com a ajuda da imprensa, deve evitar a todo custo oferecer a quem comete crimes com tamanha brutalidade!

Mais do que informações sobre os agressores, que em nada ajudam no combate à violência, é preciso noticiar o quanto esse tipo de crime especialmente envolvendo menores impacta o psicológico das vítimas e da população em geral, criando uma sociedade cada vez mais  permeada pelo medo.

Após cada ataque do tipo daquele ocorrido em 27 de março, na Escola Estadual Thomazia Montoro, na capital paulista, onde um garoto esfaqueou quatro pessoas, matando uma professora, vemos professores desistindo de dar aulas, pais preocupados ao mandar seus filhos para a escola e alunos com medo dos colegas e de frequentar aulas. Em cima da análise dessas repercussões é que o trabalho da imprensa deve acontecer.

Desde agosto, nove ataques realizados em escolas aconteceram em todo o país mais de um por mês -, o que demonstra o quanto é séria e preocupante a questão da violência escolar no Brasil. E esse número aumentou consideravelmente no último ano. Basta dizer que, de acordo com um levantamento realizado por pesquisadores da Unesp e da Unicamp, entre 2002 e 2022 tal quantidade de ataques aconteceu em um intervalo muito maior, de dois anos.

Diante dessa realidade, veículos de imprensa como a TV Globo, CNN Brasil, Band e o jornal O Estado de S.Paulo publicaram nota em seus telejornais e nas redes sociais informando que estão tornando mais restritivas as políticas de divulgação envolvendo massacres, o que inclui, além da omissão dos dados pessoais dos agressores e de vídeos mostrando cenas dos crimes, a não publicação de notícias sobre ataques frustrados subsequentes a esses crimes, para evitar o efeito contágio.

Com isso, os veículos de comunicação sérios dão um recado claro: não vão ceder ao sensacionalismo barato ou se deixar manipular por mentes doentias e criminosos interessados na publicidade em torno do seu nome. Por esse ato consciente de maturidade e respeito com o público, ganham ainda mais confiabilidade, mostrando que uma imprensa livre é também aquela que sabe até onde pode chegar na divulgação de um fato.

                       

*Cris Monteiro é vereadora em São Paulo pelo NOVO

 

*foto: Pexels/Tim Samuel

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