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Nilton C. Tristão

As fake news nas eleições municipais de 2024

Necessitamos compreender as fake news digitais como sendo uma readaptação vitaminada dos antigos tabloides de campanha "apócrifos", confeccionados contra os oponentes nos períodos eleitorais. Contudo, essa versão ruidosa evoluiu no esteio do ambiente cibernético ao ponto de desprezar qualquer vinculação ao universo tangível.

Valendo-se da teatralidade burlesca na disseminação de retóricas distorcidas, a única meta desse expediente relaciona-se à massificação de relatos incongruentes, ou seja, assimilações e interpretações particularizadas da verdade, geralmente lastreadas em abordagens mágicas e incipientes. Tal tática destinada à cooptação de fãs e legiões de apoiadores recria uma persona com traço goebbeliano, portadora de envergadura heroica e atitude irresistível. Importante salientar que a função do histrionismo permissivo não se restringe apenas à dispersão de narrativas inverídicas, mas dedica-se essencialmente ao realinhamento de valores morais, comportamentais e culturais. Entre os métodos empregados, encontramos o neurônio espelho, maneira capaz de oportunizar o mimetismo social, visando à indução na conduta por meio da verossimilhança.

Nota-se que a essência do funcionamento cognitivo humano fundamenta-se no identitarismo, diversas vezes aduzido nos auspícios da lobotomização. Por esse motivo, a desumanização do divergente utiliza-se da estética baseada em linguagem difamatória, ataques sacralizados e na dissimulação de conjunturas, justamente com a finalidade de incorporar a dimensão comunitária ao frenesi psicótico. Nesse sentido, as referências fabricadas na prática atuam na forma de injeções cavalares de dopamina que potencializam as manifestações de ódio delirante, intolerância militante e temor irracional, promovendo a santificação do ministrador da dose e a consequente demonização dos antagonistas.

Portanto, os principais objetivos das notícias falsas residem na tentativa de: 1) projetar no adversário os próprios defeitos (mirroring, enquanto instrumento de coletivização a partir da imitação); 2) deturpar os fatos e detratar o dessemelhante; 3) viabilizar a releitura de padrões éticos e redefinir costumes; 4) semear o medo e desconstruir a autocrítica; 5) difundir a superioridade perante os opositores; 6) propalar revoltas e estabelecer os limites da desedificação.

Em síntese, essa estratégia comunicacional se focaliza no fortalecimento da manipulação, singularmente no cerne das disputas políticas. Aspirando apropriar-se do poder da sugestão e incentivando o sujeito ao compartilhamento da cumplicidade, obtendo como resultado a hipnose grupal por intermédio de ideias que transpassam o ilusionismo dos presságios, superstições, feitiços, paganismo, idolatria e fantasias.

É primordial destacar que não podemos nos ater meramente ao conhecimento da mentira, mas sim à reação produzida nos incautos ludibriados pela desinformação, uma vez que antes de apreender o mundo circundante, o cérebro busca a crença incondicional.

Logo, para lidar com as difusões adulteradas, considere os seguintes procedimentos: 1) conte com mecanismos assertivos para detectar a potência genuína das postagens (capilaridade e convencimento); 2) faça uso da criatividade humorística para descredenciar as maledicências; 3) procure desnudar as más intenções inseridas nas publicações; 4) evidencie as vantagens de guiar-se pelo caminho do bom-senso e da temperança. Sempre que possível, usufrua da técnica do pensamento lateral, “uma perspectiva lógica aplicada a um problema para alcançar uma solução diferente e inventiva... o percalço deve ser conforme você quer e não segundo como se apresenta”.

Nilton C. Tristão
Cientista Político

Foto: Sdecoret

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