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Nilton C. Tristão

A resiliência bovina

Para Carl Schmitt, “a política consiste, antes de tudo, em identificar o inimigo”. Isto posto, em 2022 teremos a disputa do pleito presidencial de inigualável relevância desde a redemocratização do país em 15 de janeiro de 1985. Pelos indicativos, até o momento, a contenda aponta para a polarização entre o ex-presidente Lula e o vigente mandatário, Jair Bolsonaro, episódio decorrente do plausível esvaziamento da chamada terceira via.

Entre as estratégias de duelo, o petista tentará expandir a sua presença entre os setores de esquerda, progressistas e os defensores do liberalismo social; à proporção que Jair amplificará a atividade da militância extremista que o defende no universo das mídias digitais, inclusive, fortalecendo a mobilização de segmentos situados nos campos mais reacionários, utilizando-se de abordagens singularizadas quanto aos riscos derivados do retorno do Partido dos Trabalhadores ao poder.

A partir deste contexto, necessitamos relembrar que o bolsonarismo, na qualidade de arquétipo de um movimento populista conservador, optou por aderir às práxis de indivíduos como Steve Bannon, Milo Yiannopoulos, Arthur Finkelstein, Casaleggio, entre outros artífices de concepções que: desconsideram o peso da veracidade nos fatos disseminados; acreditam que o ressentimento e o medo são fontes ideais na incitação ao ódio, racismo, sexismo, misoginia, homofobia e sectarismo; utilizam os algoritmos e Big Datas como as vias expressas que assinalam o percurso aos revoltosos.

Em um cosmo onde a fidelidade doutrinária se sobrepõe à diversidade inclusiva, defender de modo intransigente o líder messiânico independente das inconsistências lógicas, torna-se uma missão digna de um verdadeiro cavaleiro templário em plena guerra santa, ou seja, gamers da realidade cibernética que elevaram as práticas de intimidações e insultos à condição de cepa comportamental.

A essência desse mecanismo impede o espaço a formuladores, uma vez que o status de maior valoração nessa engrenagem são os “compartilhadores”, internautas que atuam como carteiros na distribuição das correspondências vinda do “escritório central”, uma linha de produção determinada a dar vazão à produção de vídeos e posts que desdenham da competência feminina, fazem a defesa de vermífugos como fármacos capazes de combater a pandemia de Sars-Cov-2, falseiam informações a respeito da eficácia das vacinas, atacam a honra de adversários, distorcem circunstâncias e eventos históricos, desprezam a importância das instituições e relativizam a imperiosidade do estado democrático de direito, pois a cola que une essa intrincada rede encontra-se na animosidade comungada pelo establishment e de toda a cultura do “politicamente correto”.

Deste jeito, mesmo estando como favorito nas pesquisas de intenção de voto, Lula carrega a desvantagem de estar submetido à difusão do discurso racional que busca engendrar consensos civilizatórios, caso contrário, jamais lograria êxito em unificar tantas esferas divergentes em opiniões, mas que dividem a motivação pelo estanque da síndrome demencial coletiva.

Além disso, conforme Lula, Doria, Ciro, Moro, Simone e os demais postulantes podem contar com o apoio do simpatizante que deseja vencer o adversário no processo eleitoral, Bolsonaro tem a seu dispor uma legião beligerante disposta ao enfrentamento, que enxerga os diferentes como desventurados que devem ser extirpados da agenda representativa nacional. Tanto que, não por acaso, a próxima conferência do séquito está indicada para o dia 31 de março, ocasião que nos remete à ruptura constitucional incidida em 1964. Assim, “durma-se com um barulho desses”.

Nilton C. Tristão
Cientista Político

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