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Sai primeiro visto para descendente japonês de quarta geração

Em 2017, foram 10.584 vistos emitidos para esses brasileiros, quatro vezes a quantidade liberada em 2013

Folhapress

Publicado em 09/11/2018 às 19:40

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Saiu o primeiro visto para um descendente japonês de quarta geração / Reprodução

O gestor de RH Alex Fujimoto, 28, tornou-se nesta semana o primeiro descendente de japoneses de quarta geração a receber o visto de residência no Japão, no consulado de São Paulo. Ele cumpriu todos os requisitos das novas regras, divulgadas no começo de julho, que incluem comprovar conhecimento básico do idioma e ter no Japão um tutor responsável por  verificar as "condições de vida" e de trabalho do brasileiro.

Fujimoto embarca no final deste mês para Toyota, onde já vive sua mãe e onde já tem vaga garantida num mercado de produtos brasileiros, que atende os cerca de 6.000 imigrantes da cidade.

Segundo o consulado, outro visto foi concedido a um yonsei pela Embaixada do Japão em Brasília. Por diretriz do governo japonês, não podem ser divulgados nomes nem número de pedidos já feitos.
Até este semestre, a permissão de residência era concedida apenas a descendentes de segunda (nissei) e terceira geração (sansei).

Em 2017, foram 10.584 vistos emitidos para esses brasileiros, quatro vezes a quantidade liberada em 2013. Ainda não há números disponíveis para este ano, mas, segundo o consulado, a procura é crescente.

As regras para os yonsei são bem mais estritas que as das gerações anteriores. Além do certificado de japonês (no nível 4, para o teste  JLPT, ou E, no caso do J.test), é preciso ter entre 18 e 30 anos e viajar sozinho, sem a família.

Filho de pai e mãe sanseis,  Fujimoto morou no Japão com a mãe quando criança e estudou três anos no ensino público japonês. Mesmo garantindo o nível necessário para o novo visto no J.test, ele continua estudando o idioma e diz que vai manter as aulas em Toyota: ao final de cada ano, terá que comprovar progressos no conhecimento da língua e em cultura japonesa.

Em 2019, precisará mostrar que domina sutilezas do idioma, como a forma correta de se dirigir a superiores.

Dois anos depois, deverá conhecer cerca de mil ideogramas, mostrar conhecimento em atividades da cultura japonesa -como ikebana (arranjos de flores), judô ou cerimônia do chá- e "ter se estabelecido como membro da comunidade local, através da participação contínua em atividades promovidas por governos locais, em atividades sociais promovidas por moradores da região etc.", segundo o governo japonês.

No máximo, poderá ficar cinco anos no Japão. Solteiro e "apaixonado por viagens e culturas", Fujimoto não se importa com a limitação. Seu objetivo não é ficar no país de seus ancestrais, mas, sim, juntar economias para depois estudar turismo no Canadá.

O novo programa do governo japonês, que vai admitir até 4.000 yonsei por ano (de qualquer nacionalidade), coincide com um momento de falta de mão de obra no país, principalmente em setores como construção -pressionado pelas obras da Olimpíada de Tóquio, em 2020–, agricultura, indústria naval e cuidado de idosos.

A entrada de estrangeiros, historicamente evitada pelos japoneses e vista como ameaça à sua sociedade homogênea, tem aos poucos se tornado um tema de discussão pública.

"Precisamos de mais diversidade para criar uma nova cultura e uma nova economia. Precisamos olhar a imigração de forma mais positiva" foi o lema de um dos principais executivos de tecnologia e meios de pagamento do país, o CEO da Rakuten, Hiroshi Mikitani, no discurso de abertura do evento internacional Nest, em Tóquio, em abril deste ano.

Embora abram uma porta para os descendentes de quarta geração, as novas regras de visto foram desenhadas para dificultar a residência definitiva desses estrangeiros.

Para o embaixador André Corrêa do Lago, há cinco anos em Tóquio, a sociedade japonesa, no entanto, ainda está dividida sobre a imigração. Apesar de conscientes de que o envelhecimento da população traz problemas para a economia, muitos ainda a veem como fonte de problemas.

"Ainda não se chegou a um consenso, e o Japão valoriza o consenso de forma incrivelmente efetiva", diz ele.

QUARTA GERAÇÃO PRECISA CUMPRIR REQUISITOS

O que estabelece o programa do Japão para yonsei
Para obter o primeiro visto (máximo de um ano)
idade entre 18 e 30 anos
não ter ficha criminal
ter plano de saúde
não levar a família
comprovar poupança própria ou emprego previsto
ter quantia para cobrir custos da viagem de volta
comprovar proficiência básica do idioma (nível E no J.test ou nível 4 no JLPT)
ter um "assistente de recepção" (empresa ou entidade)
serão fornecidos no máximo 4.000 vistos por ano (independentemente da nacionalidade do yonsei)
Para permanecer no Japão e renovar o visto (máximo de 5 anos)
fazer ao "assistente de recepção" relatórios mensais sobre aprendizado da cultura japonesa e situação de trabalho
passar em exames de domínio do idioma em níveis intermediário (2º ano) e intermediário avançado (3º ano)
obter habilitação em atividades da cultura japonesa, como artes marciais, artes manuais ou cerimônia do chá, ao final do terceiro ano

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