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Projeto ensina isolamento seguro a pacientes com covid-19 em favelas

Entidades oferecem diversos tipos de apoio para combate e tratamento

Agência Brasil

Publicado em 13/12/2020 às 16:28

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Douglas Lopes/Conexão Saúde/AB

Quando foi diagnosticado com covid-19, a preocupação de Willian Luiz Victor, 24 anos, era não transmitir o vírus para a família. Ele mora em Nova Holanda, no Complexo da Maré, na Zona Norte do Rio de Janeiro. Em casa, além dele, moram sete pessoas. Foi graças às orientações e ao acompanhamento que recebeu dos integrantes do projeto Conexão Saúde: de olho na covid! que conseguiu fazer um isolamento seguro.

“Fiquei preocupado com a minha família. Vieram fazer o teste e felizmente, ou infelizmente, só eu que fiquei com covid. Eles testaram negativo”, diz. Victor precisou ser acompanhado por três semanas, tanto remotamente por teleconsultas, quanto por agentes de saúde que fizeram visitas presenciais. Ele recebeu uma série de orientações sobre como adaptar a casa e a rotina. Entre elas, está o uso de máscara dentro de casa, a higienização do local e o distanciamento dos demais moradores.

O projeto, em curso há três meses, é uma ação inédita, realizado em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Redes da Maré, SAS Brasil, Dados do Bem, União Rio e Conselho Comunitário de Manguinhos, com financiamento do Todos pela Saúde.

Juntos, eles oferecem aos moradores da Maré desde testes e orientações para combater a pandemia de covid-19, acompanhamento médico remoto, apoio psicológico e visitas presenciais a produtos de limpeza, alimentos e outros itens necessários para que os doentes possam se recuperar sem segurança e não contribuam para a propagação do vírus.

O programa, de acordo com os dados divulgados pela coordenação do projeto, acolheu 225 pacientes moradores de 11 das 16 favelas da Maré.

Além de Victor, Sidério Gomes, 42 anos, morador do Parque União, foi uma dessas pessoas. Ele diz que agora está 80% recuperado, ainda não recuperou totalmente o olfato e o paladar. “Foram na minha casa, me deram uma assistência imensa. Fui consultado, tive receita médica, comprei a medicação, fiz toda a medicação”, conta. “Eu não estava indo para rua, as pessoas chegavam para levar coisas para mim, parentes amigos, para me dar assistência. Deixavam no portão, eu descia pegava devagarinho e subia. As pessoas não entravam na minha casa”. Sem poder trabalhar, os kits como o de limpeza que recebeu, segundo ele, ajudaram muito.

Foco na realidade local

“A perspectiva do projeto é trabalhar a ideia de tomar as medidas possíveis dentro de um quadro de realidade”, explica o coordenador do Conexão Saúde pela Fiocruz, Valcler Rangel. A Maré é composta por 16 comunidades, onde vivem cerca de 140 mil pessoas. Trata-se de um dos maiores complexos populacionais do Brasil. Segundo o Censo Maré, divulgado em 2019, a média de moradores por domicílio é de 2,91 pessoas, chegando a 3,77 no Conjunto Bento Ribeiro Dantas.

Desde o início da pandemia, foram detectados 1.078 casos de covid-19 na Maré com 136 óbitos pela doença confirmados. “O que a gente percebeu é que as mensagens que começaram a ser passadas no início da pandemia, e até hoje, eram inaplicáveis para pessoas de baixa renda: separe um banheiro [para a pessoa doente], use álcool gel a todo momento, use sabonete, passe desinfetante no chão da casa”, diz. “É preciso dar condição para a pessoa promover o melhor isolamento possível dentro da realidade”.

Isolamento seguro

Um dos grandes diferenciais do projeto, de acordo com a coordenadora do Conexão Saúde pela Redes da Maré, Luna Arouca, é oferecer suporte e possibilitar um isolamento seguro dentro da própria casa, em casos mais leves que não necessitem de suporte hospitalar. Uma das opções cogitadas era que as pessoas infectadas fossem deslocadas para hotéis e outros locais de isolamento. “Por conta da própria dinâmica cultural, as pessoas não iriam aderir a ideia de sair de casa para ir para centro de isolamento, querem ficar junto com os seus”, diz.

Ao entrar em contato com os pacientes, Luna explica que são observada também as necessidades de cada uma das pessoas e quais as melhores formas de fazer com que elas passem por esse período de uma forma mais confortável, seja com cestas básicas, produtos de higiene ou outros itens. O Conexão Saúde elaborou uma cartilha com orientações detalhadas para que o isolamento seja feito no domicílio.

“Parece algo batido falar que as pessoas precisam se isolar, mas não é algo batido falar que precisam de estrutura para poder se isolar. Não adianta julgar a pessoa contaminada com medo de perder o emprego, que pega o ônibus para trabalhar. A pessoa sabe que não poderia fazer isso, mas quando põe na balança perder o emprego e deixar de pôr comida em casa, ela vai”, diz a diretora do SAS Brasil, Sabine Zink.

O SAS oferece atendimentos remotos articulando uma rede de profissionais de todo o país. Também oferece suporte local com visitas para verificar a situação dos pacientes. O acompanhamento permite que os pacientes tenham mais segurança e sejam encaminhados aos hospitais apenas em caso de necessidade.

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