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Nilton C. Tristão - No fundo, as diferenças possuem semelhanças!

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Publicado em 16/08/2021 às 11:30

Atualizado em 16/08/2021 às 14:49

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Nilton César Tristão, cientista político / DIVULGAÇÃO

Não à toa, já no céu, Deus toma Aureliano por João de Panônia, visto que inexiste diferença entre os dois. (...) no paraíso, Aureliano soube que para a insondável divindade ele e João de Panônia (o ortodoxo e o herege, o abominador e abominado, o acusador e a vítima) constituíam uma única pessoa. (O Aleph - Jorge Luis Borges - Os Teólogos).

O povo brasileiro vivencia momentos de radicalização política, talvez visto com tanta intensidade pela última vez em meados da década de sessenta, quando ocorreu a queda do então Presidente João Goulart. 

Esses processos de ruptura da coesão social prescindem de gatilhos que servem para redefinir o papel do comportamento coletivo, principalmente os derivados dos fundamentos de in-groups e out-groups. Isso acontece porque somos seres compelidos a buscar interações juntos às congregações comunitárias, inclusive quando em inúmeras circunstâncias, as normas e práticas peculiares adquirem identidades próximas a verdadeiras facções, propiciando a evolução de estereótipos difamatórios imbuídos de hostilidade genuína e de todos os sintomas de conflito intergrupal; em resumo, o início de uma verdadeira rivalidade entre bandos de homens que disputam protagonismo ou domínio sobre o restante da comunidade. 

Portanto, o “nós contra eles” não significa uma invenção contemporânea de petistas e bolsonaristas, mas remete aos descendentes pré-históricos que formavam alianças e coalizões para combater ou usurpar outras espécies de hominídeos. Essa técnica indica a maneira como ocupamos o nosso lugar no mundo e como encaramos os demais, dentro daquilo que consideramos relevante ou estratégico. 

Todavia, esse paradigma pressupõe como premissa básica a afinidade em erigir irmandades partilhadas, permitindo-nos a sensação de que existem coisas em comum que se sobrepõem à modelagem do consciente particular. Nosso ser subliminar possui a tendência inata de estimar mais os companheiros in-group, ou seja, podemos prezar por pessoas como membros da confraria, mesmo quando não as apreciamos enquanto indivíduos. De maneira geral, além de utilizar esse fenômeno enquanto arquétipo destinado às categorizações de julgamentos daqueles que consideramos diferentes, também nos serve como instrumento para estabelecer os sentimentos em relação à própria existência. 

Nesse contexto, desde o ano de 2002, o país experimenta dois modelos ideologicamente antagônicos, contudo, semelhantes nas práticas voltadas à edificação de relações grupais. Enquanto os governos de Lula e Dilma firmavam-se politicamente acenando aos setores historicamente marginalizados com uma inédita representação genuína, inclusiva e efetiva, Bolsonaro capitaneava o ressentimento de uma classe média e pequeno burguesa amargurada com as dores de perdas financeiras e sonhos de consumo adiados, os fazendo acreditar que os comunistas corruptos eram os culpados pela degradação moral e econômica da nação. 

Isto simboliza que, ambos se valendo de argumentos distintos, atuaram dentro de lógica idêntica na demarcação de seus campos de atuação, promovendo a sensação de superioridade moral aos seus seguidores e a legitimidade para alastrar a infâmia sobre os membros out-group. Não estou afirmando que o petismo ostenta o nível de degeneração comportamental do bolsonarismo, mas com certeza foi agente ativo na montagem do mecanismo que hoje coloca em risco o Estado Democrático de Direito.

Essa análise foi inspirada no capítulo 8, do livro Subliminar de Leonard Mlodinow

Nilton C. Tristão 
Cientista Político

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