Nilton César Tristão, cientista político / DIVULGAÇÃO
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“Era uma vez em um lugar nem tão distante, quando ocorreu a chegada improvável e surpreendente de Messias ao comando da nação - longe de ser aquele crucificado pelos romanos para redimir os homens de seus pecados - que rapidamente promoveu o reencontro dos irmãos siameses Insólito e Insano, até então separados por tempos imemoriáveis pela força dos senhores da razão e do conhecimento científico. Insólito e Insano regressaram graças às magias malévolas praticadas por membros pertencentes ao covil do mal, e materializados pelos mantras de encantamentos recitados aos pés da rampa no Palácio do Planalto, para que desse momento em diante, o cotidiano do brasileiro jamais retornasse à normalidade.”
Desde o início do evento pandêmico, estamos sendo expostos a cenas tais como a do Presidente da República ofertando cloroquina a emas residentes nos jardins do Alvorada, até outras mais inusitadas, que remetem à associação de um cabo da Polícia Militar de Minas Gerais com o Reverendo Sambarilove, acompanhado pelo Superman de Ponta Grossa, que se utilizaram dos poderes de estelionato para buscar intermediação em contratos bilionários para a aquisição de vacinas que nunca seriam fornecidas ao Ministério da Saúde pela módica comissão de US$ 1,00 por dose.
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E nessa segunda feira, nove de agosto, soubemos que “indígenas brasileiros apresentam ao TPI (Tribunal Penal Internacional) a denúncia contra o Presidente Bolsonaro por crimes contra a humanidade e genocídio...” (coluna de Jamil Chade no UOL Notícias), circunstância que acontece em plena guerra entre Jair e o Supremo Tribunal Federal (STF), inclusive com o direito do chefe do executivo nacional chamar o Ministro Luís Roberto Barroso de “filho da puta” e dizer que a hora de Alexandre de Moraes chegará.
Todavia, o que poderíamos esperar de um governo que tem como o seu principal ideólogo e mentor intelectual o ex-astrólogo Olavo de Carvalho, um indivíduo que no passado afirmou que a Pepsi Cola utilizava células de fetos humanos abortados para adoçar os refrigerantes, negou a existência de combustíveis fósseis, questionou o heliocentrismo e classificou Albert Einstein como burro?
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Agora, depois de tantos factoides permissivos, passou da hora do bolsonarismo ser reconhecido como o inimigo da sociedade civilizada e potencial algoz das liberdades individuais.
Vamos relembrar que os psiquiatras Douglas Kelley e Gustave Gilbert designados a compreender os meandros da psique de criminosos nazistas que estavam sendo julgados pelo Tribunal de Nuremberg, entre 1945 e 1946, investigaram a natureza do mal utilizando como instrumentos de interpretação a aplicação do famoso teste de Rorschach. Posteriormente, a psicóloga Molly Harrower realizou "análise cega", misturando os resultados dos oficiais de Hitler com os de pessoas comuns, incluindo pastores religiosos, estudantes de medicina, enfermeiras, executivos e delinquentes juvenis. “Basicamente, não havia diferenças palpáveis entre os criminosos de guerra e o resto... O resultado dessa experiência não revelou nada sobre as características psicológicas dos líderes nazistas" (BBC News Brasil).
Em resumo, os indivíduos que conduziram crianças para serem mortas nas câmaras de gás, que dizimaram etnias e culturas sem qualquer tipo de piedade e perpetraram as piores atrocidades da era moderna, antes da ascensão do nacional socialismo eram invariavelmente bons vizinhos, amigos afáveis, profissionais dedicados, homens de família e cristãos tementes a Deus. Ou seja, a história nos prova que não devemos relativizar os efeitos do rancor, ódio, agressividade, preconceito, misoginia, homofobia, entre outras psicopatias, quando transformadas em movimento político, pois o monstro da intolerância foi despertado e caminha entre nós.
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* Nilton Cesar Tristão, Cientista Político
Instituto Opinião Pesquisa & GovNet